5.03.2011

Atenção rapazes

























Atenção rapazes. Melodrama bem carpinteirado à mercê de todos. Quem vos avisa, populista sentimental é. Avancemos por estereótipos. Não um desses filmes de pancada estúpidos que vocês não lhes conseguem impingir. Não uma dessas estúpidas comédias românticas que elas vos impingem. Aqui há possibilidade de acordo. De encontro. E rapazes, vocês terão apenas de ceder um bocadinho para se verem recompensados. Quem sabe melhor até após o final da sessão.
Falo-vos de Mother and Child/Mães e Filhas, cujo título e o cartaz podiam dificilmente ser mais dissuasores. Pensem comigo (como eu pensei anter de ir ver o filme). Tem a Naomi Watts. Tem a Naomi Watts. Tem a Naomi Watts. Tem um brevíssimo full frontal da Naomi Watts e não fui eu que vos disse. Até não é o mais relevante. Foquem-se na seriedade e justeza da caracterização de um tempo, o nosso tempo, em que as mulheres nos jogam e em que somos consequentemente jogados por elas. Até de um full frontal vem sempre uma subjugação. Ela (Elizabeth/Naomi Watts) é um bloco de gelo e quem se derrete somos nós. Quanta injustiça. Não há ciência que explique isto, nem marmanjo que aprenda a lição. Adiante. As mulheres querem engravidar. As mulheres não querem engravidar. Os homens engravidam da paciência com as indecisões das respectivas. Há personagens que são descritas em duas ou três pinceladas, como passámos a ver menos desde que Lawrence Kasdan e James L. Brooks se tornaram cineastas bissextos.
Mother and Child/Mães e Filhas remete para esse saber fazer da escrita e concretização de dramas adultos de que a televisão se passou a ocupar por demissão do cinema, e é também um filme mosaico. Tudo óptimo com as cores do mosaico: frias, cínicas, realistas. A princípio. Pior depois quando é preciso encaixar todas as peças, sem esquecer a fórmula da retribuição que um argumentista que sabe que são as mulheres que decidem na fila do cinema deve dominar. Os rapazes, se tiverem juízo, e até porque já tiveram direito a dois terços de drama enxuto e realista, coroado com as diabruras da deusa Naomi, aguentam até ao fim, e fornecem o providencial lencinho. E aplaudem o temperamento excessivo do sexo oposto. Que actriz sublime é Annette Bening. Todos estes anos depois ninguém terá coragem de lhe pedir um full frontal, mas o modo como ela se desfaz e refaz emocionalmente neste filme de Rodrigo García é a exposição mais desnudada de todas. O populista sentimental curva-se e cala-se.

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