12.30.2009
Morte e ressurreição
Não existe termo de comparação uma vez que nunca antes me tinha proposto assistir a uma série na totalidade, num reduzido espaço de tempo. A sensação de ser projectado ao longo de um fluxo, do final de uma época para o começo de outra, é no mínimo estranha. Da 2ª série de The Wire para a seguinte, é de uma estranheza mais marcada ainda pelo luto. Não revelarei nomes para não estragar o prazer dos não iniciados. Mas há um momento particularmente pungente quando a polícia visita o apartamento de alguém que havia sido assassinado, e tal como o olhar dos detectives somos conduzidos por um espaço que não conhecíamos e que era o último reduto da intimidade dessa personagem fascinante, também pelo secretismo que irradiava. Quando a observávamos sentíamos coisas que não conseguíamos explicar. Era difícil antecipar os seus comentários e as suas reacções. No fundo não a conhecíamos de todo, apesar do fascínio que nos provocava, daí que a leitura que fazemos ao invadir aquele espaço privado e inédito, ao notarmos os seus elementos decorativos, o altar das espadas samurai, a prateleira dos livros de onde alguém retira um exemplar de The Wealth of Nations, de Adam Smith produz, por via da profanação em curso, um efeito de alargamento da aura da personagem sem que consigamos colocar mais alguma coisa no seu interior. Isto é bem exemplificativo da qualidade de escrita da série criada por David Simon. Um realismo que se abre à acumulação de muitas camadas até se tornar abstracto como a natureza dos homens. E quando um dos protagonistas morre, quando desaparece alguém que nos habituámos a acompanhar de perto, constatamos que nada sabemos dessa personagem. Como nada sabemos uns dos outros. Tal como nada sabemos da vida. Saímos de uma temporada para entrar na época seguinte como se de um mistério contínuo se tratasse. Algo que face a nós se suspende, como a morte, para de seguida ser reatado, como numa ressurreição. Estranhamente também, a sensação de fim é tão mais intensa quanto mais breve se afigura a possibilidade de recomeço.
Convidado II
Tarefa árdua e incompleta, a de fazer este esforço auto-imposto de um limite máximo de 50 melhores discos de uma década. Quantos injustiçados não terão que ficar de fora para que possam outros 50 brilhar?
O convite feito pelo Ricardo Gross, amigo de longa data e autor deste blogue, apelava à escolha dos 10 melhores da década e 10 melhores do ano. Se a escolha de 50 já é difícil e incompleta, o que não seria a de apenas 10 discos? Tarefa impossível! Resolvi então impor um limite máximo de 50 para não ceder a facilitismos, e também abdicar da lista dos 10 melhores do ano – não o considerei um ano excepcional em termos de produção musical, e por outro lado não tenho ainda a digestão feita em relação ao produto consumido.
As listas são sempre pessoais. Importa portanto dizer que a ordem não é de preferência mas sim cronológica, e também tendenciosa, pois prevalecerão as sonoridades mais acid’aquosas de recorte psicadélico, o acid folk e o free rock. A América pura! Desculpem os que estiverem à espera de listas mais comezinhas. Estou certo de que também haverá um caminho para vocês, mas não aqui.
Comecemos então.
1. CLINIC - Internal Wrangler / 2000
2. JOHNNY CASH - American III: Solitary Man / 2000
3. SAINKHO NAMTCHYLAK - Stepmother City / 2000
4. ELLIOT SHARP’S TERRAPLANE - Blues for Next / 2000
5. EINSTÜRZENDE NEUBAUTEN - Silence is Sexy / 2000
6. QUEENS OF THE STONE AGE - Rated R / 2000
7. ROYAL TRUX - Pound for Pound / 2000
8. GREG BROWN - Over and Under / 2000
9. OOIOO - Feather Float / 2001
10. BOBBY CONN - The Golden Age / 2001
11. ADD N TO (X) - Loud Like Nature / 2002
12. JACKIE-O MOTHERFUCKER - Change / 2002
13. AFEL BOCOUM, DAMON ALBARN, TOUMANI DIABATÉ - Mali Music / 2002
14. WILCO - Yankee Hotel Foxtrot / 2002
15. JOHN PARISH - How Animals Move / 2002
16. MUSHROOM - Analog Hi-Fi Surprise / 2002
17. VIC CHESNUTT - Silver Lake / 2003
18. LOU REED - The Raven / 2003
19. STEPHEN MALKMUS and THE JICKS - Pig Lib / 2003
20. ROBERT WYATT - Cuckooland / 2003
21. THE WHITE STRIPES - Elephant / 2003
22. BARDO POND - On The Ellipse / 2003
23. THE BLACK KEYS - Rubber Factory / 2004
24. THE TOWER RECORDINGS - The Galaxies Incredibly Sensual Transmission
Field of the Tower Recordings / 2004
25. EAGLES OF DEATH METAL - Peace Love Death Metal / 2004
26. GIANT SAND - Is All Over the Map / 2004
27. MARK LANEGAN BAND - Bubblegum / 2004
28. BLACK MOUNTAIN - Black Mountain / 2005
29. DUNGEN - Ta Det Lugnt / 2005
30. THE HOWLING HEX - All-night Fox / 2005
31. GRIS GRIS - For the Season / 2005
32. DEVENDRA BANHART - Cripple Crow / 2005
33. SUNBURNED HAND OF THE MAN - Complexion / 2005
34. WOODEN WAND AND THE SKY HIGH BAND - Second Attention / 2005
35. JAMES BLOOD ULMER - Birthright / 2005
36. HOWLIN RAIN - Howlin Rain / 2006
37. DEAD MEADOW - Dead Meadow / 2006
38. CURRENT 93 - Black Ships Ate the Sky / 2006
39. THE BLACK ANGELS - Passover / 2006
40. BERT JANSCH - The Black Swan / 2006
41. WOLFMOTHER - Wolfmother / 2006
42. LITTLE ANNIE - Songs from the Coal Mine Canary / 2006
43. TOM WAITS - Orphans / Brawlers, Bawlers & Bastards / 2006
44. CUL DE SAC’ - Ecim / 2006
45. ESPERS - Espers II / 2006
46. COMETS ON FIRE - Avatar / 2006
47. JOSEPHINE FOSTER - AWolf in Sheep’s Clothing / 2006
48. MAP OF AFRICA - Map of Africa / 2007
49. ENDLESS BOOGIE - Focus Level / 2008
50. THE FALL - Imperial Wax Solvent / 2008
[A lista do meu amigo Rui Vasco.]
12.29.2009
Convidado I
OS MELHORES FILMES DA DÉCADA
O Top 10 (ou 13)
THIS SO-CALLED DISASTER (2003) – Este documentário de Michael Almereyda segue as três semanas de ensaios que antecedem a estreia mundial da nova peça de Sam Shepard, “The Late Henry Moss”. Brilhante nem que seja pelo “clash” que surge a certa altura entre Nick Nolte, Sean Penn e Woody Harrelson que interpertam os papeis principais na peça. O melhor filme sobre teatro desde “Vanya on 42nd Street” de 1994.
DON’T COME KNOCKING/A ESTRELA SOLITÁRIA (2005) – A magia com que Wim Wenders e Sam Shepard nos brindaram com “Paris, Texas”, está de volta com mais esta obra-prima sobre o mito do Western e sobre a América. Esperemos que a próxima colaboração não demore outros 20 anos.
BEFORE SUNSET/ANTES DO ANOITECER (2004) – Se “Before Sunrise” me fez acreditar no amor (afinal eu tinha ainda 26 anos), “Before Sunset” fez-me acreditar na vida. A carreira de Richard Linklater (ou os seus filmes) parecem muitas vezes reflectir a minha vida (desde esse verão de 1991 quando em New York a frequentar um workshop de cinema na New York University, vi pela primeira vez “Slacker” e a minha visão de cinema mudou completamente), mas não mais do que neste “pequeno” e intimo filme que é “Before Sunset”.
TAPE (2001) e WAKING LIFE (2001) – Mais uma vez Richard Linklater surpreende. Em “Tape”, uma adaptação da peça de Stephen Belber (com quem eu tive o prazer de trabalhar, nos Naked Angels em 1996 e 1997), consegue captar a essência da peça usando apenas uma câmara DV (manuseada pelo próprio Linklater). Uma lição de cinema. Em “Waking Life” regressa ao tema de “Slacker” (e a alguns dos personagens desse filme) e utilizando a técnica de rotoscópio (que viria a utilizar novamente em “A Scanner Darkly” cinco anos mais tarde) cria um filme sublime.
FLANNEL PAJAMAS (2006) – Realizado por Jeff Lipsky, um dos grandes da cena indie norte-americana (fundador por exemplo da October Films), realiza esta pérola (apenas o seu segundo filme como realizador, depois do tambem magnifico “Childhood’s End” em 1997).
THE SQUID AND THE WHALE (2005) – Apenas digo que Jeff Daniels tem aqui talvez o seu melhor papel no cinema. Ele que é para mim um dos melhores actores da sua geração ou de qualquer geração.
SIDEWAYS (2004) – Uma celebração da vida, da amizade, do amor, do vinho. Não digo quantas vezes no filme me identifiquei com (Miles) Paul Giamatti, mas digo que depois de ter visto o filme pela primeira vez, de passagem por Paris, passei dias, semanas (qual “method actor”) agarrado à personagem que ele interpreta.
LA TURBULENCE DES FLUIDES/CHAOS AND DESIRE 2002 – Vi este filme Canadiano quando estava a viver em Edimburgo, numa das minhas salas de cinema favorita (Filmhouse). É um filme perfeito. Sobre relacções humanas, sobre “coming home”, sobre sonhos e sobre “giving up”. Uma grande interpretacção de Genevieve Bujold. Sete anos volvidos ainda me assombra, talvez por nunca mais o ter visto (não consigo encontrar edição em DVD nem no Canadá). Isto lembra-me outro filme que me assombra desde a primeira e unica vez que o vi (“Liebe auf den ersten Blick”/“Love at First Sight” de Rudolf Thome de 1991) e que não encontro edição em DVD tambem. Será que revistos, anos mais tarde ganham ou perdem o seu impacto original?
BEST IN SHOW(2000)/A MIGHTY WIND(2003) – Christopher Guest é o mestre do “mockumentary” e nestes dois filmes está bem patente o porquê. Hilariantes ao ponto de me fazerem chorar (especialmente “Best in Show”). A “troupe” de actores de que se rodeia e que entram em quase todos os seus filmes (desde o tempo de “This Is Spinal Tap”) é outra das razões porque estes filmes resultam. Senão vejamos. Eugene Levy, Fred Willard, Michael McKean, Harry Shearer, Jane Lynch, etc. Todos eles grandes comediantes no seu próprio direito. Juntos são “a barrel of laughs”.
BROKEN FLOWERS (2005)/THE LIMITS OF CONTROL (2009) – Jim Jarmusch. “Enough said”.
Menções Honrosas (mais 10 ou 13)
SUNSHINE STATE (John Sayles, 2002); BIG BAD LOVE (Arliss Howard, 2001); NO COUNTRY FOR OLD MEN (The Coen Brothers, 2007); THERE WILL BE BLOOD (Paul Thomas Anderson, 2007); HEIST (David Mamet, 2001); MATCH POINT (Woody Allen, 2005); HIGH FIDELITY (Stephen Frears, 2000); ALMOST FAMOUS (Cameron Crowe, 2000)/ELIZABETHTOWN (Cameron Crowe, 2005); FAY GRIMM (Hal Hartley, 2006); WAKING THE DEAD (Keith Gordon, 2000); THE MAN WITHOUT A PAST (Aki Kaurismäki, 2002); EMPIRE FALLS (Fred Schepisi, 2005) tecnicamente uma mini-série da HBO.
12.28.2009
Uma década completa
Passaram dez anos. A década completa-se esta semana. Basta fazer as contas.
Contracampo
O que devia ter respondido a quem me questionou ao almoço sobre o facto de eu (já) não estar no Facebook, é que encontrei um outro Facebook onde tenho amigos com vidas incomparavelmente mais desreguladas, sensuais, vertiginosas e contraditórias que a minha. Interessa-me tanto estar a par deste quotidiano que chego a consumir numa semana para cima de 15 horas daquelas existências. A sensação mais próxima de estar mesmo lá para quem se encontra de fora. E fiz novos amigos, alguns que entretanto me largaram, como Frank, Nick e Ziggy Sobotka, Spiros Vondopoulos, Proposition Joe, ou o Brother Mouzone que se não muito me engano regressará em breve a este convívio. A vida dos amigos pode ser muito absorvente. É por isso que, como aliás defendia há dias o advogado do jogador Miguel, devemos ser criteriosos com relação àqueles que acompanhamos.
12.25.2009
Natal no Monte Estoril
«Era eu novo e maluco e passava as consoadas à chuva, em hotéis ou com as minhas filhas ou amigos nas ruas vazias de Lisboa, à procura de restaurantes abertos e, sobretudo, de táxis. Muito que nos divertíamos - os poucos que apareciam, por pena e amor de mim - embora soubesse serem mais divertidas as consoadas portuguesas. Que nunca vivi ou viverei, não só por ser aspirante a judeu mas por não gostar, antijudaica e cristãmente - do divertimento obrigatório.
Hoje à noite a minha mulher e as minhas filhas estarão com as famílias de quem também faço parte, e que muito me convidaram, apesar de saberem que, como me ensinaram os meus pais, família é quem deixa cada um ser como é, sem deixar de amar cada um só porque não corresponde ao que queríamos que fosse.
Todos os membros das famílias são ovelhas negras. Eu cá gosto muito das minhas consoadas sozinhas, antijudaicas (com Joselito 5 Jotas) e anticristãs (sem ligar nenhuma ao nascimento, mal atribuído, do rabino cujo nome mudaram para Jesus). Com queijinhos frescos, ovas de salmão e blinis. A ver filmes de vanguarda, roubados da Internet, que alguns elogiaram mas não projectaram nos cinemas. Ou a ler. É a paz.
Tenho saudades das vésperas de Natal passadas à chuva com o Pedro Ayres e outros amigos, mas não dos Natais forçados e regimentados, fossem as regras americanas, inglesas, portuguesas ou internacionais.
Serei a pessoa menos indicada para dar um conselho, mas o meu são só quatro letras: a paz.»
12.23.2009
Raça de dentro
Hyper-dubbing
Um dia é suficiente para que listas de "melhores" do ano ou da década fiquem desactualizadas. Basta um disco, para o efeito. E à semelhança do dominó vai abalar em cadeia o edifício que queríamos perfeito e terminado. Chama-se Waiting for You, pertence ao King Midas Sound do produtor Kevin Martin, a que se juntou colaboração vocal e nas composições de Roger Robinson. Não é obra revolucionária, longe disso. Mas actualiza muita da melhor música urbana, angustiada e tóxica, feita de batidas abafadas e lamentos espectrais, surgida com os primeiros Massive Attack e Tricky, e prolongada em trabalhos dos Spacek, de Charles Webster ou do genial Burial (William Bevan), cujos CD's lançados pela mesma Hyperdub, no caso de Burial, podiam juntar-se aos 20 títulos que destaquei dos últimos dez anos. Percebo por que Burial ficou esquecido. Tem a ver com a metodologia aplicada à(s) lista(s). Panorâmica sobre prateleiras que prejudica quem acabou alojado junto ao solo, ainda para mais descontando a existência de Untrue, o segundo Burial, que tenho num promocional sem caixa que fica espalmado e invisível entre os outros. Actualize-se então virtualmente as listas por obra e graça dos sons de Midas e Burial, cheios de estilo e absolutamente contemporâneos. Música da insónia que regressa para desassossegar a frágil ordem instalada.
12.22.2009
Multiópticas
Sofro de disfunção óptica. Só pode ser. Alguém me explica para que serve o 3-D em Avatar? Notei um certo relevo, é verdade. O filtro azul-esverdeado que tingia todos os planos. Depois as legendas estavam ora focadas ora desfocadas. E se as personagens em primeiro plano se encontravam acertadas com o meu foco, todas as outras pareciam sofrer de uma distorção de espelhos, multiplicando o seu fantasma por cinco, seis, sete contornos. Uma canseira. Pus os óculos, tirei os óculos, falei para o lado, quase três horas nisto sem chegar a qualquer conclusão. E de caminho não percebendo também a razão de tanto alarido com o de longe pior filme de James Cameron de sempre. Qualquer fantasia de Hayao Miyazaki supera em arte e metafísica este pobre Avatar. Lembram-se do Princesa Mononoke? Eu sim. Avatar mais se assemelha a um cruzamento de Pocahontas com Star Wars, e até a memória de O Último Samurai (filme que estimo e que me assaltou várias vezes ao longo da sessão) chega por via da redução a um denominador juvenil. James Cameron já falou de exterminadores. Agora parece falar para a geração Gormiti.
12.21.2009
Qualidade francesa
12.19.2009
Discos da década e discos do ano
20 Melhores Discos da Década (2000/2009)
D'Angelo, Voodoo (2000)
William Basinski, The Disintegration Loops I-IV (2001-03)
The White Stripes, White Blood Cells (2001)
Los Hermanos, Bloco do Eu Sozinho (2001)
Zero 7, Simple Things (2001)
Beck, Sea Change (2002)
Queens of the Stone Age, Songs for the Deaf (2002)
David Sylvian, Blemish (2003)
Junior Boys, Last Exit (2004)
Vincent Delerm, Kensington Square (2004)
Harold Budd, Avalon Sutra (2004)
Telefon Tel Aviv, Map of What is Effortless (2004)
Mark Lanegan Band, Bubblegum (2004)
Richard Hawley, Cole's Corner (2005)
Smog, Supper (2005)
The National, Alligator (2005)
Stars of the Lid, And Their Refinement of the Decline (2007)
Marcelo Camelo, Sou (2008)
Thomas Feiner & Anywhen, The Opiates Revised (2008)
Portishead, 3 (2008)
20 Melhores Discos de 2009
20. Soulsavers, Broken
19. B Fachada, B Fachada
18. Blues Control, Local Flavor
17. The Dead Weather, Horehound
16. Samuel Úria, Nem Lhe Tocava
15. Dollar Llama, Under the Hurricane
14. Vladislav Delay, Tumma
13. Them Crooked Vultures, Them Crooked Vultures
12. God Help the Girl, God Help the Girl
11. Vincent Delerm, Quinze Chansons
10. Animal Collective, Merryweather Post Pavilion
9. Sunn O))), Monoliths & Dimensions
8. Jon Hassell, Last Night the Moon Came Dropping Its Clothes in the Street
7. Dan Auerbach, Keep it Hid
6. Bill Callahan, Sometimes I Wish We Were an Eagle
5. Grizzly Bear, Veckatimest
4. Prefab Sprout, Let's Change the World With Music
3. Dirty Projectors, Bitte Orca
2. Richard Hawley, Truelove's Gutter
1. David Sylvian, Manafon
12.17.2009
Cinema. Doze escolhas para uma década (2000/2009)
A ordem não obedece a qualquer critério. A escolha pretende traduzir um critério pessoal.
Blood Work, Clint Eastwood (2002)
A escolha mais difícil na década de platina do maior de todos.
Luzes no Crepúsculo, Aki Kaurismäki (2006)
Permanentemente à beira da lágrima e do sorriso. Kaurismäki renova a força primitiva do cinema. Que nasceu clandestino e falou para o coração universal.
The Life Aquatic With Steve Zissou, Wes Anderson (2004)
Qualquer pessoa que tenha brincado sozinha em criança, com o Lego, por exemplo, perceberá tudo o que há para perceber no universo de Wes Anderson. Ele está em todas as personagens.
A Última Hora, Spike Lee (2002)
O grande filme que Martin Scorsese não nos deu esta década foi assinado por um discípulo seu. Haverá sempre alguém que faça tão bem como nós.
5x2, François Ozon (2004)
Mais do que um filme para mim. A origem de todas as histórias que poderia filmar. A besta negra do destino.
Sideways, Alexander Payne (2004)
Mulheres, amizade e vinhos. Bebo a tudo isso e em particular à mais inofensiva das ressacas. A dos vinhos.
Eastern Promises, David Cronenberg (2007)
Cronenberg encontrou em Viggo Mortensen o corpo mais fascinante que alguma vez trabalhou. Corpo onde a violência se torna bela. Portador de histórias que ficam connosco quando os filmes acabam.
Ne touchez pas la hache, Jacques Rivette (2007)
Não há outro como este na década, que reúna o que de melhor existe na literatura, no teatro, e claro está no cinema. Rivette fá-lo com enorme delicadeza. Iluminação intensa e casta da intimidade.
Ghosts of Mars, John Carpenter (2001)
Musculado e misterioso. Metaleiro e abstracto.
Climas, Nuri Bilge Ceylan (2006)
Descoberta do raro cineasta suficientemente pessimista para poder ser um esteta.
Le Stade de Wimbledon, Mathieu Amalric (2001)
Ninguém reparou nele, coisa que faz todo o sentido. De Trieste até Londres, por entre os pingos da chuva. Acompanhando Jeanne Balibar.
In the Bedroom, Todd Field (2001)
A melhor primeira obra que o cinema americano nos deu desde a data da sua produção. Um sobre-Malick.
12.15.2009
12.14.2009
Ele é o elo
Dave Grohl é um tipo que me inspira simpatia. Disse-o e repito-o. O lugar de fundo nos Nirvana e nos Queens of the Stone Age bastavam para lhe dar uma entrada só dele na história do rock. Grohl quis mais e fez muito bem. Nos Foo Fighters começou por fazer sozinho. Fez o disco do luto pela morte de Cobain. Ao segundo disco, já com banda, o luto foi pelo final do seu casamento. Saiu um óptimo disco, o que até ao momento mais me impressionou dos Fighters*. Chama-se The Colour and the Shape, foi produzido por Gil Norton, profissional do rock que tem o pleno dos Pixies, e apresentou-se como possível elo que unirá a banda de Black Francis ao stoner rock, que não existiria também sem o grunge. Tudo o que venha em favor de Dave Grohl eu aprovo: sobretudo o que eu próprio especulo. Tal como me agrada saber pela entrevista que o músico deu à Mojo de Janeiro de 2010, que Bob Dylan gosta da canção Everlong presente em The Colour and the Shape. É uma grande canção, não haveria de passar despercebida ao pai de nós todos.
* a opinião vale o que vale vinda de alguém que começou por achar que o último Arctic Monkeys é que era, e que agora gosta mais dos dois primeiros (a devida penitência, meu caro Pedro Marques Lopes, e vemo-nos a 3 de Fevereiro, se não for antes).
To hell with Altman
Os melhores DVD's de 2009
Desta vez apenas dois títulos, até porque não comprei muita coisa editada este ano. Mas, atenção, a recomendação que aqui vai vale por listas completas. A única coisa que aproxima estas séries é a excelência dos resultados. Um Mundo Catita é um prodígio de espírito, improviso, e desenrascanço à portuguesa. Mad Men é produto da melhor ficção televisiva de todas que é a norte-americana. Em ambas se entornam sem desperdício grandes quantidades de bebida: a bejeca e o Licor Beirão pelo lado Catita, e os melhores uísques sempre disponíveis nos gabinetes da Sterling Cooper. O documentário sobre a produção de Um Mundo Catita desfaz qualquer ideia que pudéssemos ter sobre a escassez de recursos. Recursos houve, alguns. O segredo esteve na adequação do que existia em relação ao que se quis fazer. Um Mundo Catita tira sobretudo partido da imaginação delirante e da recriação de um universo que tem muito de vivido (e de sobrevivido). É genial. A Mad Men não falta rigorosamente nada em matéria de valores de produção. É uma opulência que só visto. Mas que rapidamente relegamos para segundo lugar. Em Mad Men triunfa sobre tudo e sobre todos a qualidade da escrita servida pelo cast perfeito. Esta série é a inteligência filmada a cada instante. As complicações que as pessoas criam nas suas vidas nunca foram diferentes do que somos e do que outros foram antes de nós. O resto é guarda-roupa; ou a ausência dele. E isto aplica-se a estes dois mundos.
Sem favor
B Fachada e Samuel Úria tinham discografia já feita, mas o hype projectado pelo Público foi de tal ordem que eu, invejoso, deixei esfriar a curiosidade. Até que ontem, encontrando-me no Colombo à espera de boleia, me pus a ouvir na Fnac o novo B Fachada, de título B Fachada. Soou bem, estava baratinho, e marchou. Não marchou sozinho. De impulso trouxe ainda Nem Lhe Tocava, do Úria. E mais umas coisinhas. Entretanto escutei os discos algumas vezes: Fachada pelo fim de tarde, Samuel noite dentro. O que posso dizer por agora é que meio a sério meio a brincar me levaram à certa. Samuel Úria e B Fachada são tipos com talento, que se apresentam como se falsamente o menosprezassem. Revelam-se desconcertantes: B Fachada parece um parente distante (lusitano) do novo tropicalismo, tal como é entendido pela banda de Moreno Veloso e suas variantes. E Samuel Úria assemelha-se a um baladeiro que vive o sonho americano encafuado na geografia da Grande Lisboa. Dois sofisticados que fazem questão de parecer figuras de tragicomédia, que acabamos levando a sério porque não somos surdos. E porque ambos fazem muito não exactamente boas canções.
12.11.2009
O número mágico
Tenho uma amiga que é a cara de um dos elementos dos Yo La Tengo, mas não é por isso que gosto deles. E passei a dar-lhes mais valor depois de tornar a perceber que um triplo-CD (há também o Orphans ou o 69 Love Songs) pode resultar numa taxa de total aproveitamento do seu material. O que sucede no caso de Prisioners of Love, ou o rock traduzido para a sensação de Verão que se demora em triplicado. Trouxe-o(s) hoje comigo.
12.10.2009
Iniciais B.B.
Os pontos específicos
A coisa não bateu logo. Acabou de bater. Aliás, bateu só depois do almoço. Candy é um filme dividido em três partes – Céu, Terra, Inferno – que faz equivaler a vivência da droga com o estado da paixão. O tratamento é justo e não esquemático. A gente só toma consciência do paralelismo mais tarde. Enquanto o filme decorre limitamo-nos a acompanhar a banal história dos amantes condenados pela ingenuidade da entrega narcísica, irresponsável, e inconsequente. Aparentemente condenados pelo consumo da droga. De verdade condenados porque qualquer paixão fica ameaçada quando alguém não consegue fazê-la evoluir para algo que tenha menos a ver consigo do que com o outro. A euforia sentida por Dan (Heath Ledger, estupendo) e por Candy (Abbie Cornish, actriz que possui a fibra e alguns traços de Nicole Kidman) foi aquela que vários de nós terão alguma vez sentido. Depois vem a realidade, sob a forma da imposição dos caprichos: a ressaca do sentimento que nos deu essa sensação de poder ilusória. E finalmente a inevitável separação dos corpos, quando os Egos já se haviam separado anteriormente. Tudo isto é cliché, é tudo experiência universal. Onde Candy marca pontos específicos é nos atalhos da narrativa. Naquilo que é consequência lateral dos estados absolutos. O momento em que Dan se dirige a um amigo mais velho, homossexual (Casper/ Geoffrey Rush), perguntando-lhe sobre as expectativas dos homens quando recorrem a um prostituto. É que Dan acha que não conseguirá ter uma erecção com um homem, e isso pode comprometer os engates que se propõe fazer para obter dinheiro para a droga. Ou então na boa cena final, no restaurante onde Dan passa a trabalhar depois de se separar de Candy e de esta ter sido hospitalizada, quando a rapariga o visita e ele percebe que o que ambos viveram faz parte de um passado que não tem hipótese de ver-se actualizado. O tempo daquele sentimento havia-se esgotado, constituindo memória com que ambos se tinham de reconciliar. Sendo este Candy uma evocação – da mulher, de um tempo, daquela atribulada relação –, é na representação da tomada de consciência do que a passagem do tempo tem de relevante na sedimentação das memórias que o filme de Neil Armfield conquista a sua maioridade, torna-se adulto e ele próprio em parte (pontos específicos) memorável.
12.09.2009
Barreira de som
12.07.2009
Os melhores filmes estreados em sala em 2009
Nenhum filme, como nenhum livro ou nenhum disco, ajuda verdadeiramente a viver. Mas os filmes e livros sobretudo, assim como alguns discos, que me interessam, são os que produzem a ilusão de que ajudam a viver. São objectos que iluminam aspectos recônditos dentro de nós, fazendo-nos sentir fortes e lúcidos, mesmo que por pouco tempo. Objectos que reforçam a nossa descrença nas virtudes da vida e, consequentemente, que fazem subir a nossa crença nos aspectos redentores do cinema, da literatura, e a um nível um pouco diferente, porque mais abstracto, da música também. Os filmes que me interessam têm relação directa com a qualidade das emoções que produzem, com o tipo de mundividência que assumem, e com a conduta moral de que dão exemplo. Até no seu realismo extremo, o cinema deve proporcionar uma qualquer transcendência: o despertar da nossa inteligência emocional; a empatia estabelecida com versões melhoradas de nós, projectadas a uma escala maior que a vida. Por ordem decrescente de preferência, foram estes os melhores filmes estreados que vi este ano.
1. Gran Torino, Clint Eastwood;
2. Duplo Amor, James Gray;
3. Ne Change Rien, Pedro Costa;
4. Tyson, James Toback;
5. Che: O Argentino/ Guerrilha, Steven Soderbergh;
6. Sacanas Sem Lei, Quentin Tarantino;
7. O Estranho Caso de Benjamin Button, David Fincher;
8. Inimigos Públicos, Michael Mann;
9. Os Limites do Controlo, Jim Jarmusch;
10. Morrer Como um Homem. João Pedro Rodrigues.
Próximas listas: Melhores discos de 2009. Melhores filmes da década. Melhores discos da década. Melhores DVD's de 2009.
12.05.2009
Leãozinho (o meu desencontro com Caetano)
Em três ocasiões, separadas por intervalos de cerca de dez anos, Caetano Veloso e eu estivemos na presença um do outro. Primeiro em Nova Iorque, no Ballroom (uma sala tipo café-concerto), aquando do espectáculo "Circuladô ao vivo", eu e alguns amigalhaços sentados na mesa mais próxima da mesa da mulher de Caetano. Depois no fórum Fnac Colombo, na apresentação do concerto encomendado a Caetano, Abrunhosa e Paulino Vieira para a Expo'98. Por último ontem, na Casa Fernando Pessoa. Pedi-lhe que me assinasse um livro, "Verdade Tropical", e um disco, "Araçá Azul". Falei-lhe em muito breve destes remotos e sucessivos encontros, enquanto o músico baiano repetia o gesto mecânico com a caneta, indiferente à minha conversa. Caetano tinha um ar esgotado. Nunca havíamos estado tão próximos. Nunca o desencontro foi tão acentuado. Mas a gente não aprende, né?
12.04.2009
12.03.2009
O triunfo do escárnio
[...] A Mokhtar todos os governos eram completamente indiferentes, fossem eles eleitos ou impostos pela força das armas, pois todos provinham do mesmo molde e eram compostos pelos mesmos malfeitores. Era, pois, estúpido querer derrubar um governo, para depois ficar diante de outro pior do que o anterior. E na obrigação de recomeçar indefinidamente esta comédia grotesca. Para Mokhtar, a única maneira de combater um regime político só podia conceber-se no humor e no escárnio, longe de toda a disciplina e das fadigas que qualquer revolução geralmente implica. Na verdade, tratava-se de conseguir uma distracção fora das normas e não uma prova debilitante para a saúde. O seu combate contra a ignomínia reinante não tornava necessário um grupo armado nem mesmo uma sigla que referisse a sua existência. Era um combate solitário, não uma congregação de massas ululantes, mas uma operação prazenteira de salvação da humanidade, sem lhe pedir a opinião e sem esperar uma autorização vinda do céu. Há muito tempo que Mokhtar decidira que o seu papel na vida seria o de dinamitar o pensamento universal e os seus miasmas fétidos que atulhavam há séculos o cérebro fraco dos miseráveis. Esmagadas e fragilizadas, as massas humanas ainda sobreviventes à superfície do Globo foram levadas a acreditar em tudo o que lhes conta uma propaganda que ofende em permanência a verdade. Afigurava-se-lhe com nitidez que o drama da injustiça social só desaparecerá no dia em que os pobres deixarem de crer nos valores eternos da civilização, um palmarés de mentiras deliberadas, programado para os manter para sempre na escravidão. Por exemplo, a honestidade. Os pobres estão convencidos de que a honestidade é a virtude fundamental que lhes vai salvar a alma das chamas do inferno, e esta crença condena-os a uma miséria endémica, enquanto os ricos, cujos antepassados inventaram a palavra, sem jamais terem acreditado nela, continuam a prosperar. É certo que esta análise, aparentemente pueril, da economia capitalista, não satisfará os espíritos sérios, inimigos implacáveis da verdade, porque o seu simplismo impede-os de parecer profundos. [...]
Tradução: Luís Leitão
Revisão: Carla da Silva Pereira
A Antígona ofereceu aos seus leitores as primeiras páginas do romance [Uma Época de Filhos de Cães] para sempre inacabado de Albert Cossery, que morreu aos 94 anos, em Paris, em Junho de 2009, no hotel onde vivia há mais de sessenta anos. Estas páginas manuscritas foram encontradas no seu quarto e constituem o princípio de um romance sobre o qual o escritor trabalhava, escrevendo, segundo ele, uma linha por semana…
11.30.2009
E quem não salta...
Está a ser divulgada a lista de concertos dos Them Crooked Vultures, com início na Europa e que será retomada no ano seguinte do outro lado do mundo. De Portugal (Espanha ou França), nem sinal. Apetece pegar nos nossos promotores de concertos, atá-los num saco, e mandá-los à merda.
O meu bloomsday
She wanted only to be free of him and to satisfy the common enough human wish to move on and try something else. [p. 127]
Permitam-me a imodéstia. Não tenho a pretensão de ocupar um minuto que seja a cadeira do sr. Harold Bloom. Longe disso. Mas deve haver por aí muito escritor cuja obra completa não atinge em nenhum momento o poder de síntese desta frase, junto com a sua capacidade de ir fundo na natureza humana. Uma frase recta, implacável, sem vírgulas. A Philip Roth bastaram as 140 páginas de uma novela, The Humbling, que em minha opinião não está sequer entre os melhores livros que li dele. Quando alguém afirmou que Deus se encontrava nos pormenores, devia estar a pensar sim no génio dos homens.
11.27.2009
Abutres e bandoleiros
Privado de participar na reunião dos Led Zeppelin, e por motivos que me parecem legítimos (afinal havia o filho de John Bonham, Jason, ali pronto a tocar as malhas todas), Dave Grohl agarra-se à incumbência de dinamitar o som dos Them Crooked Vultures, e fá-lo sem regatear unhas ou dentes. A sua prestação é o que se costuma apelidar de espectáculo dentro do próprio. Para início de discussão, é favor ouvirem-no no tema Bandoliers.
[E para desfazer dúvidas e perplexidades, o som que predomina no disco tem o cunho late QOTSA. Nem Zeppelin, nem Foo Fighters, conseguem sobrepor-se, e isto era o esperado.]
Johnson & Johnson
Não me espantaria se viesse a encontrar numa entrevista de Damon Riddick (o homem artisticamente conhecido por Dâm-Funk) a explicação para a existência de dois discos de temperatura emocional um pouco diferente – além do facto de um deles ser todo instrumental – na edição CD de Toeachizown (to-each-his-own), justificada na distinção entre música sobre a "noite anterior" e música para a "manhã seguinte". A melhor música não fala de outra coisa. Estamos perante a evidência dos sons que em nós deslizam como mãos impregnadas de óleo pelas costas dessa outra pessoa; como o carro nos sonhos que avança de Verão por uma avenida vazia e iluminada; ou como as melhores produções da dupla Quincy Jones/Michael Jackson que põem os mais aptos a mexer-se pelas pistas de dança como se estas tivessem acabado de ser enceradas (I Can't Help It, sempre). Jackson serve o pretexto de chamar a atenção sobre uma ideia de génio – tão óbvia e simples – que foi colocar o realizador Pedro Costa a falar de música. A reportagem é de João Bonifácio, pode ler-se hoje no Ípsilon, e rápida vista de olhos deu para perceber que há ali material suculento. Pelo que venho ouvindo Dâm-Funk é homem para Costa. Do pouco que li Pedro Costa é bem capaz de ser homem para Dâm-Funk. Amigos-amigos, óleos à parte.
11.26.2009
11.25.2009
Eyes wide shut
11.24.2009
Sempre a abrir
Orelhas coladas ao novo Gazua, Música Pirata, trazido pelo estafeta antes do almoço. Roquenrole lisboeta de atitude "fight the power", a fazer lembrar Xutos e Pontapés dos primórdios: os Xutos da altura em que os ouvia. Apetece aplicar o trocadilho fácil, embora certeiro, e dizer que a música dos Gazua é sempre a abrir. Juntando o aviso. A embalagem que envolve o CD é bastante original, e no impulso de chegar rapidamente ao disco podemos produzir danos irreparáveis. A abertura dispensa a gazua, mas exige cabeça. Não se precipitem.
Podia morrer pela boca todos os dias
Nada me move contra os White Stripes ou Jon Spencer Blues Explosion, mas penso que nenhum disco saído do nicho revivalista blues-rock, que tem décadas, me entusiasmou na medida de Rubber Factory, dos Black Keys.
Está encontrado esse outro disco, agora que tudo me move a favor dos White Stripes.
11.23.2009
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