12.25.2009

Natal no Monte Estoril

A PAZ, Miguel Esteves Cardoso, Ainda Ontem, Público 24.12.09:

«Era eu novo e maluco e passava as consoadas à chuva, em hotéis ou com as minhas filhas ou amigos nas ruas vazias de Lisboa, à procura de restaurantes abertos e, sobretudo, de táxis. Muito que nos divertíamos - os poucos que apareciam, por pena e amor de mim - embora soubesse serem mais divertidas as consoadas portuguesas. Que nunca vivi ou viverei, não só por ser aspirante a judeu mas por não gostar, antijudaica e cristãmente - do divertimento obrigatório.
Hoje à noite a minha mulher e as minhas filhas estarão com as famílias de quem também faço parte, e que muito me convidaram, apesar de saberem que, como me ensinaram os meus pais, família é quem deixa cada um ser como é, sem deixar de amar cada um só porque não corresponde ao que queríamos que fosse.
Todos os membros das famílias são ovelhas negras. Eu cá gosto muito das minhas consoadas sozinhas, antijudaicas (com Joselito 5 Jotas) e anticristãs (sem ligar nenhuma ao nascimento, mal atribuído, do rabino cujo nome mudaram para Jesus). Com queijinhos frescos, ovas de salmão e blinis. A ver filmes de vanguarda, roubados da Internet, que alguns elogiaram mas não projectaram nos cinemas. Ou a ler. É a paz.
Tenho saudades das vésperas de Natal passadas à chuva com o Pedro Ayres e outros amigos, mas não dos Natais forçados e regimentados, fossem as regras americanas, inglesas, portuguesas ou internacionais.
Serei a pessoa menos indicada para dar um conselho, mas o meu são só quatro letras: a paz.»

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