Desafiei dois amigos a apresentarem listas que divulgaria aqui no blogue. Não são autoridades reconhecidas em matéria de cinema e música, mas aprendi bastante com eles nestas matérias. Foram e são sobretudo importantes pelas coisas que me deram a descobrir. E pelas pessoas que são. O Nuno chegou primeiro com os seus filmes da década. Não recordo com clareza quando o conheci. Terá sido no liceu, talvez, mas foram muitas as noites passadas a ver os VHS que trazia dos Estados Unidos, país para onde viajava todos os anos, num desses anos tendo-me por companhia. Vimos qualquer coisa como 30 filmes em doze dias. Recordo isso, e agrada-me reconhecer na lista do Nuno alguns nomes que eram motivo de conversa desde essa altura. E passo-lhe a palavra:
OS MELHORES FILMES DA DÉCADA
O Top 10 (ou 13)
THIS SO-CALLED DISASTER (2003) – Este documentário de Michael Almereyda segue as três semanas de ensaios que antecedem a estreia mundial da nova peça de Sam Shepard, “The Late Henry Moss”. Brilhante nem que seja pelo “clash” que surge a certa altura entre Nick Nolte, Sean Penn e Woody Harrelson que interpertam os papeis principais na peça. O melhor filme sobre teatro desde “Vanya on 42nd Street” de 1994.
DON’T COME KNOCKING/A ESTRELA SOLITÁRIA (2005) – A magia com que Wim Wenders e Sam Shepard nos brindaram com “Paris, Texas”, está de volta com mais esta obra-prima sobre o mito do Western e sobre a América. Esperemos que a próxima colaboração não demore outros 20 anos.
BEFORE SUNSET/ANTES DO ANOITECER (2004) – Se “Before Sunrise” me fez acreditar no amor (afinal eu tinha ainda 26 anos), “Before Sunset” fez-me acreditar na vida. A carreira de Richard Linklater (ou os seus filmes) parecem muitas vezes reflectir a minha vida (desde esse verão de 1991 quando em New York a frequentar um workshop de cinema na New York University, vi pela primeira vez “Slacker” e a minha visão de cinema mudou completamente), mas não mais do que neste “pequeno” e intimo filme que é “Before Sunset”.
TAPE (2001) e WAKING LIFE (2001) – Mais uma vez Richard Linklater surpreende. Em “Tape”, uma adaptação da peça de Stephen Belber (com quem eu tive o prazer de trabalhar, nos Naked Angels em 1996 e 1997), consegue captar a essência da peça usando apenas uma câmara DV (manuseada pelo próprio Linklater). Uma lição de cinema. Em “Waking Life” regressa ao tema de “Slacker” (e a alguns dos personagens desse filme) e utilizando a técnica de rotoscópio (que viria a utilizar novamente em “A Scanner Darkly” cinco anos mais tarde) cria um filme sublime.
FLANNEL PAJAMAS (2006) – Realizado por Jeff Lipsky, um dos grandes da cena indie norte-americana (fundador por exemplo da October Films), realiza esta pérola (apenas o seu segundo filme como realizador, depois do tambem magnifico “Childhood’s End” em 1997).
THE SQUID AND THE WHALE (2005) – Apenas digo que Jeff Daniels tem aqui talvez o seu melhor papel no cinema. Ele que é para mim um dos melhores actores da sua geração ou de qualquer geração.
SIDEWAYS (2004) – Uma celebração da vida, da amizade, do amor, do vinho. Não digo quantas vezes no filme me identifiquei com (Miles) Paul Giamatti, mas digo que depois de ter visto o filme pela primeira vez, de passagem por Paris, passei dias, semanas (qual “method actor”) agarrado à personagem que ele interpreta.
LA TURBULENCE DES FLUIDES/CHAOS AND DESIRE 2002 – Vi este filme Canadiano quando estava a viver em Edimburgo, numa das minhas salas de cinema favorita (Filmhouse). É um filme perfeito. Sobre relacções humanas, sobre “coming home”, sobre sonhos e sobre “giving up”. Uma grande interpretacção de Genevieve Bujold. Sete anos volvidos ainda me assombra, talvez por nunca mais o ter visto (não consigo encontrar edição em DVD nem no Canadá). Isto lembra-me outro filme que me assombra desde a primeira e unica vez que o vi (“Liebe auf den ersten Blick”/“Love at First Sight” de Rudolf Thome de 1991) e que não encontro edição em DVD tambem. Será que revistos, anos mais tarde ganham ou perdem o seu impacto original?
BEST IN SHOW(2000)/A MIGHTY WIND(2003) – Christopher Guest é o mestre do “mockumentary” e nestes dois filmes está bem patente o porquê. Hilariantes ao ponto de me fazerem chorar (especialmente “Best in Show”). A “troupe” de actores de que se rodeia e que entram em quase todos os seus filmes (desde o tempo de “This Is Spinal Tap”) é outra das razões porque estes filmes resultam. Senão vejamos. Eugene Levy, Fred Willard, Michael McKean, Harry Shearer, Jane Lynch, etc. Todos eles grandes comediantes no seu próprio direito. Juntos são “a barrel of laughs”.
BROKEN FLOWERS (2005)/THE LIMITS OF CONTROL (2009) – Jim Jarmusch. “Enough said”.
Menções Honrosas (mais 10 ou 13)
SUNSHINE STATE (John Sayles, 2002); BIG BAD LOVE (Arliss Howard, 2001); NO COUNTRY FOR OLD MEN (The Coen Brothers, 2007); THERE WILL BE BLOOD (Paul Thomas Anderson, 2007); HEIST (David Mamet, 2001); MATCH POINT (Woody Allen, 2005); HIGH FIDELITY (Stephen Frears, 2000); ALMOST FAMOUS (Cameron Crowe, 2000)/ELIZABETHTOWN (Cameron Crowe, 2005); FAY GRIMM (Hal Hartley, 2006); WAKING THE DEAD (Keith Gordon, 2000); THE MAN WITHOUT A PAST (Aki Kaurismäki, 2002); EMPIRE FALLS (Fred Schepisi, 2005) tecnicamente uma mini-série da HBO.
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