12.31.2008

Trágico é o homem achar-se ridículo


























Breezy é a terceira longa-metragem de Clint Eastwood como realizador. Talvez o seu filme menos conhecido, teve rodagem colada à de High Plains Drifter (um western, sempre mais expectável da parte do "homem sem nome"), o que proporciona que uma das suas cenas tenha lugar num cinema onde o par protagonista se prepara justamente para assistir a High Plains Drifter: espécie de brincadeira hitchcockiana. Breezy trata do envolvimento amoroso entre uma jovem hippie de grande coração e desmesurado optimismo que vagabundeia pela região da Califórnia, e um cinquentão divorciado, mais autónomo e cínico do que todos os seus amigos. História de amor improvável, de um improvável amor, alguns diriam até que inverosímil, que Eastwood procura defender colocando-se ao lado da estupenda Kay Lenz/ Breezy (num papel que teria muitas possibilidades de se tornar tonto, tornando-se num retrato de "menina selvagem"). Sucede que o argumento de Jo Heims aliado à direcção de Clint Eastwood, particularmente desperta para não condescender no tratamento do confronto de gerações, nos apanham com algumas soluções inesperadas. Uma delas encaminha-nos para um quarto de hospital onde Frank (William Holden) visita uma mulher a quem esteve ligado antes de Breezy, que acabara de perder o marido no acidente de carro onde ela igualmente ficara maltratada. A conversa entre os dois leva a que a mulher confesse que embora tivesse casado por comodismo tinha ficado a gostar muito do marido. Era casamento em que Frank não depositava quaisquer expectativas, tomado por um igual cinismo que o levara a achar despropositada a sua afeição por Breezy. Este momento determinará uma mudança de atitude da parte de Frank face à prova de que o amor pode vingar para além das nossas diminutas expectativas. E um Frank moderado no seu cepticismo partirá em busca de Breezy. O filme de Eastwood toma assim partido pela liberdade conquistada para lá das convenções sociais, e uma vez vencido o constrangimento de um homem poder sentir-se ridículo. Como o próprio Frank diz a certa altura, "people never mature, they just grow tired".

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