12.17.2008
Retrato do artista
Parece-me justo dizer-se que a diferença entre um filme como O Clube dos Poetas Mortos, de Peter Weir, e a adaptação ao cinema da peça de Terence Rattigan, A Versão Browning, é que o primeiro trata de uma história do sucesso (do seu potencial de concretização), e o segundo de uma história do fracasso irremediável. É a diferença, no fundo, entre o carpe diem que ecoará no coração dos alunos do jovem professor John Keating (Robin Williams), e a efémera ovação dirigida a Andrew Crocker-Harris, conhecido como o Hitler of the lower fifth, que conhecerá o vexame sob várias formas, que se sobreporão até ao quase insustentável: trata-se de um texto magnífico sobre a crueldade da vida personificada naqueles que nos rodeiam.
O Clube dos Poetas Mortos é um filme que trata do começo da vida adulta e de todas as possibilidades que encerra. Uma visão cândida. A Versão Browning, no caso em comparação o filme realizado por Mike Figgis (o seu melhor filme, digo eu), é um balanço de vida e uma assumpção da derrota nas diversas frentes. Seria necessário um actor extraordinário para suportar com dignidade o ordálio do "obsoleto" Crocker-Harris. Albert Finney possui a melhor escola de todas que é a dos palcos ingleses. Percorreu as etapas necessárias para facetar a rocha onde a amargura de Andrew foi embutida. E a actualização exercida por Ronald Harwood sobre o texto de Rattigan faz do visionamento desta segunda adaptação uma experiência do nosso tempo cada vez mais presente. A substituição de valores que o filme assinala na celebração do êxito desportivo de um professor que optou por se tornar uma estrela do cricket, relegando para envergonhado segundo plano a reforma antecipada do professor de Cultura Clássica, vislumbra a sociedade do perpétuo entertenimento onde hoje vivemos.
Como é possível aprender a suportar o fracasso na época de todas as ilusões? Talvez somente regressando ao convívio dos Clássicos.
Na imagem o retrato do jovem Albert Finney.
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