12.15.2008

Honky tonk blues


















Vi os primeiros exemplos do que então se veio a designar por (novo?) cinema independente americano, nas décadas de 80 e 90. É claro que os autores que impuseram marcas de estilo mais visíveis - como Tarantino, Hal Hartley, Jarmusch ou Spike Lee - vieram a adquirir uma projecção que pode deturpar a noção deste cinema independente se tomada na essência: histórias pessoais que dão a impressão de terem sido vividas, de tal modo elas surgem na tela libertas das fórmulas cinematográficas de grande consumo. O cinema independente norte-americano é aquele que vai às raízes do melhor que a América produziu na década de 70, quando o sistema foi tomado de assalto pelos "movie brats" - Scorsese, Coppola, Spielberg, Cimino -, mas também por gente igualmente cinéfila, embora menos dada ao estrelato, como Robert Altman, Bob Rafelson, John Cassavetes ou Hal Ashby. E então aí, das duas uma: ou era a visão do realizador que se impunha pela originalidade e pela pujança do seu "storytelling", ou a aposta passava pela pequena história que ao desenrolar-se em frente aos nossos olhos, nos fazia sentir parte dela uma vez que a empatia estabelecida entre personagens e espectador era forte, assim como também o era o efeito de real recuperado para o cinema já não tanto por via do artifício (isto porque o cinema é sempre artifício, construção, mimetismo), mas pela colocação da tónica no tempo e na duração das cenas que possibilitavam a maior complexidade dos personagens e das situações. Reconhecendo partes de nós naquelas figuras, o cinema punha-nos a olhar justamente para dentro de nós. Tratavam-se de filmes nossos semelhantes. Encontrei recentemente outro exemplo que reúne algumas destas virtualidades no primeiro filme de Joey Lauren Adams (para quem se lembrar, a actriz de Chasing Amy que tem aquela adorável voz de cartoon), cujo título é Come Early Morning, e que anda a ser vendido por aí com jornais e revistas e pelo preço destes. É interpretado pela excelente Ashley Judd, que volta a ter um raro papel à medida do seu talento: o de uma mulher sob influência que aprenderá aos poucos a bastar-se a ela própria. Come Early Morning (entre nós, Amargo Amanhecer) é uma simpática fatia de "americana" onde não faltam jukeboxes, bares de honky tonk, igrejas de madeira onde a Bíblia é cantada na música do rock, a caução das veteranias de Diane Ladd e Stacey Keach, e uma boa dose de nostalgia. Não é grande filme, mas é um filme que me soube muito bem.

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