4.14.2007

Vozes maiores



Juro por Deus! Há alturas em que me julgo a pessoa com melhor gosto musical do mundo. Ou isso, ou então o tipo mais afortunado no momento de entrar numa loja de discos. É que não acredito que alguém, neste dia, em lado algum, tenha trazido para casa meia dúzia de CD's tão fantásticos quanto os que eu trouxe. E os meus vieram parcialmente por troca, uma vez que tinha levado para a Carbono coisas que não interessavam mais. Foi assim que depois de meia-hora curvado a vasculhar de A a Z, expositor após expositor, pedi para ouvir os discos que, quase todos, vieram a aterrar no saco. Não escutei um deles - ó epifania das epifanias! - por tratar-se do CD novo de June Tabor, Apples, que não sabia sequer que existia: a leitura do Ípsilon fica normalmente reservada para o lazer de domingo. Tabor é a maior de todos e de todas. Sempre foi e continua a sê-lo com aquela cada vez mais rara evidência. Sobre Apples (e o cabelo dela, todo branco, documentado nas fotografias do livrete) nem vou dizer mais nada porque as palavras são pobres de sentido quando se trata de June: Dame June, para mim. Tenho todos os seus discos. Todos assinados. Todos menos este, agora.
Depois, já instalado em casa escutei outro CD que é do firmamento dos Clássicos instantâneos. E tanto que os Incognito, de Jean-Paul "Bluey", tiveram que gravar para finalmente tocarem o infinito! Munindo-se de standards da soul e de canções que vêm de anteriores registos do projecto, Bees + Things + Flowers é o mais bem sucedido exercício de reciclagem que ouvi este ano. Arranjos no ponto (equilibrio, depuração, feeling, essas coisas fundamentais) e vozes convidadas (as de Maysa, Carleen Anderson, Imani, Jocelyn Brown e outras) e atingirem interpretações definitivas, uma a seguir à outra. O melhor disco de soul de 2007, so far, é feito de canções de diferentes épocas. A eternidade na qual se projectará há-de encarregar-se de as fazer contemporâneas entre si. Obra de referência? Parece-me também que sim. O que falta mencionar de tão inspirada colheita passa por Mogwai (Come On Die Young, acumulação de electricidade que vai adiando o momento libertador que chega pujante rompendo com a toada pausada e concentrada que domina o disco, ou seja, Mogwai vintage), pelos Sparklehorse (Dreamt For Light Years In the Belly of a Mountain, a aguardar escuta atenta que tenho a certeza confirmará o conhecido e o expectável: estranho lirismo, belo lirismo), por Isolée (Western Store, house quente e no osso que convoca ambos os prazeres, o sensual e o cerebral), e por um Young Gods (Music For Artificial Clouds, os TYG em registo "ambiental" que sempre desejei conhecer).
Diz-me, então, espelho meu, há alguém no mundo com melhor gosto musical que o meu? (Silêncio...) Bem que desconfiava...

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