4.20.2007

INDIELISBOA (dia primeiro)

















Disse-me um amigo que já leu Lacrimae Rerum, que o documentário The Pervert’s Guide to Cinema, conduzido em colaboração com a realizadora Sophie Fiennes, pelo mesmo Slavoj Žižek – filósofo, psicanalista e cinéfilo (não necessariamente por esta ordem) –, anda à volta dos mesmos cineastas e conceitos. Os exemplos vêm de Chaplin (The Great Dictator, City Lights), Bergman (Persona), Hitchcock (muito The Birds, muito Vertigo bendito seja!) Lynch (Blue Velvet, Wild at Heart, Lost Highway, Mulholland Drive), Kieslowski (Trois Couleurs: Bleu), The Matrix, Alien(s), Star Wars, entre outros, ao longo de inebriante montanha-russa (ou, para ser mais correcto, montanha-eslovena) conceptual que dura cerca de 160 minutos, distribuídos por três partes, que arrisco resumir através de uma das frases felizes que Godard roubou ao próximo – e apesar deste ser nome omisso na reflexão de Žižek. Dizia então Jean-Luc, pela boca de André Bazin, que “le cinéma substitue à notre regard un monde qui s’accorde à nos désirs.” Qualquer coisa como, o cinema apresenta-nos um mundo alternativo que corresponde aos nossos desejos. Uma “zona”, agora já por sugestão zizekiana (e influência tarkovskiana), que na vida quotidiana nunca atravessamos a não ser na direcção do ecrã bigger than life da sala de cinema. O cinema como amante para a vida inteira, da qual não ocultamos as mais profundas fantasias do nosso inconsciente (o Id ou a libido a que Slavoj Žižek tanto se refere). Entenda-se que a frase de Bazin/ Godard, se sintetiza o programa de The Pervert’s Guide to Cinema, nem por sombras o diminui. Valoriza ambos. Valoriza também o IndieLisboa que dificilmente poderia ter arrancado de modo mais auspicioso. Repete terça-feira 24, no Londres, às 15h45. (4 estrelas)

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