6.23.2009

Todos ao "Family"













O filme do filipino Brillante Mendoza pode trazer à memória o cinema de Abel Ferrara ou de Tsai Ming-liang, mas Serbis/ Serviço não é nenhum Go Go Tales e muito menos outro Goodbye, Dragon Inn. Serbis é um concentrado físico e temporal que tem lugar no espaço de uma decrépita sala de cinema – o cinema Family – que exibe filmes pornográficos de produção local, habitada e explorada por uma família desunida após a descoberta de que o patriarca tinha segunda mulher e mais filhos noutro ponto da cidade. A reserva moral do filme de Mendoza está com as mães. Os homens, os rapazes sobretudo, entregam-se ao mel do ventre das raparigas e à voracidade da boca dos homossexuais que acorrem como morcegos oferecidos aos recantos escuros do Family. Não vejo necessidade de alertar para o conteúdo sexualmente explícito do filme de Brillante Mendoza. Há uma cena não mais "chocante" do que outra vista anteriormente no Fantasma de João Pedro Rodrigues – um homem que chupa outro homem – que dá acesso ao circuito globalizado do cinema dito, orgulhosamente, gay e lésbico. E há o pirilau entumescido do protagonista e actor fétiche de Mendoza, o jovem Coco Martin, que não é nada que Larry Clark não tenha explorado no mainstream de outra época. O principal mérito de Serbis é tornar vivo um edifício que é um grande décor de cinema, e que se substitui a toda a cidade e talvez mesmo a todo um país. A insalubridade do Family, que Mendoza não se cansa de documentar, é menos a fossa moral a céu aberto do que inicialmente suspeitamos. Aquelas figuras têm valores (amor, preguiça, prazer) e aspirações (sobrevivência) com que qualquer um se identifica. Estão ali para fazer negócio (toda a gente oferece algum tipo de "serviço"), mas há um sentido de dignidade que o filme não sacrifica, e que encontramos nas figuras femininas e no olhar da câmara de Brillante Mendoza. Que no final, gratuitamente, se imola.

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