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Depois do remake de triste memória com base no Candidato da Manchúria de John Frankenheimer, surgido em igual momento crucial da história política norte-americana, que culminou com a reeleição de Bush, Jonathan Demme confunde de novo o que é fazer um filme político ou usar da mais descarada demagogia. O Casamento de Rachel outra coisa não é que a expiação da culpa americana cena após cena. E a culpa encontra-se toda do lado dos brancos. Negros, asiáticos e hispânicos são figuras alegres, pacíficas e conciliadoras, tal como no exemplo do futuro marido de Rachel que obviamente serve a representação do desejo de mudança a que a eleição de Barack Obama atribuiu eco universal. Obama, claro está, é inimputável para com o desatino de Jonathan Demme, que faz aqui um filme esquemático, denunciado e beato em busca da América miscigenada e idílica. Um país que só aliviará a culpa acumulada com a integração absoluta e festiva das outras culturas, como num Carnaval ingénuo e acrítico. O Casamento de Rachel é cinematograficamente vulgar (nem toda a câmara que balança assina Cassavetes), e parte de um argumento que verte clichés democraticamente e sem olhar à cor. Nenhum instante se justifica a não ser pelo despoletar do conflito que expõe a disfuncionalidade do lado da família da noiva, que só pode ser abafado com os tambores de África e a bonomia sábia das suas gentes. Não me recordo da última vez que vi um filme tão conceptualmente a preto-e-branco.