2.13.2009
Quando da «obamania» se fez psicodrama
Depois do remake de triste memória com base no Candidato da Manchúria de John Frankenheimer, surgido em igual momento crucial da história política norte-americana, que culminou com a reeleição de Bush, Jonathan Demme confunde de novo o que é fazer um filme político ou usar da mais descarada demagogia. O Casamento de Rachel outra coisa não é que a expiação da culpa americana cena após cena. E a culpa encontra-se toda do lado dos brancos. Negros, asiáticos e hispânicos são figuras alegres, pacíficas e conciliadoras, tal como no exemplo do futuro marido de Rachel que obviamente serve a representação do desejo de mudança a que a eleição de Barack Obama atribuiu eco universal. Obama, claro está, é inimputável para com o desatino de Jonathan Demme, que faz aqui um filme esquemático, denunciado e beato em busca da América miscigenada e idílica. Um país que só aliviará a culpa acumulada com a integração absoluta e festiva das outras culturas, como num Carnaval ingénuo e acrítico. O Casamento de Rachel é cinematograficamente vulgar (nem toda a câmara que balança assina Cassavetes), e parte de um argumento que verte clichés democraticamente e sem olhar à cor. Nenhum instante se justifica a não ser pelo despoletar do conflito que expõe a disfuncionalidade do lado da família da noiva, que só pode ser abafado com os tambores de África e a bonomia sábia das suas gentes. Não me recordo da última vez que vi um filme tão conceptualmente a preto-e-branco.
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