2.03.2009

A mitologia do Western





















Admito que possa ser do lapso momentâneo de referências, mas não é em Escape from New York que nos apercebemos mais facilmente da aplicação da matriz Western numa variante, para o caso, "futurista". No entanto existem elementos que remetem para essa genealogia, como o exemplo da pala no olho usada por Snake Plissken (Kurt Russell) que faz pensar de imediato em realizadores como John Ford ou André De Toth, mas sobretudo no John Wayne do True Grit de Henry Hathaway, figura que muitos trataram em vida pela simples alcunha de Duke.
O filme de John Carpenter passa-se numa Nova Iorque do futuro, que já é passado. Nos anos anteriores a 1997, de acordo com o filme, Manhattan teria sido transformada em toda a superfície numa prisão de alta segurança para onde se entrava e de onde não mais se saía. A premissa de Escape from New York tem algo de premonitório que é o acto terrorista que desvia o Air Force One, o avião presidencial, de encontro à cidade. Plissken, que aguarda transferência perpétua para a Ilha, terá possibilidade de ver a sua pena comutada caso aceite a missão de resgatar o Presidente (Donald Pleasence) que veio a cair nas mãos dos vândalos encerrados, liderados pelo (atenção à referência cruzada!) The Duke (Isaac Hayes), tal como Natalie Wood viria a ser refém dos índios nessa obra máxima que é The Searchers (A Desaparecida), de John Ford.
Mas finalmente aquilo que ancora Escape from New York no espírito do Western tem a ver com a couraça do protagonista, Snake Plissken. Snake ("call him Snake!") é o renegado que confia apenas nas próprias capacidades. É o individualista e o sobrevivente nato, o herói de pragmáticos recursos que volvidos todos estes anos se tornou mais politicamente incorrecto ainda. Um homem onde merece a pena pôr os olhos, e copiar a atitude: tão cedo não corto o cabelo e a barba fica como está. Grande filme. Grande Carpenter.

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