2.09.2009

Express yourself


























Antony Hegarty terá sido o primeiro a estranhar a androginia da sua voz e as primeiras manifestações dessa muito particular sensibilidade artística. Ao terceiro disco e após a consagração do Mercury Prize a somar às vendas extraordinárias de I Am a Bird Now, tudo isso ficou para trás (mas nunca completamente). As entrevistas de Antony e os resultados que se descobrem em The Crying Light apontam para a aceitação e para uma maior confiança no seu trabalho: é significativo, por exemplo, que Antony tenha prescindido dos duetos que pontuavam o anterior CD. The Crying Light apresenta depurada a beleza do imaginário de Antony, cujo canto me recordou hoje o Billy MacKenzie de Winter Academy, que lembra por sua vez Peggy Lee interpretando o tema do filme Johnny Guitar. Os espirituais brancos de Antony and the Johnsons são afinal uma declinação da torch song de outros tempos. O que arde e nos consola nestas canções não podia ser mais universal. Extinguem-se memórias e emoções distantes, alimentadas por um desejo de transcendência. As pequenas mortes na vida são verdadeiramente estas e não escolhem género, apenas pessoas. E erguem-se depois em beleza se esta existir dentro delas.

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