9.05.2008
Zé do Caixão
Todo o homem tem dentro dele um Zé do Caixão. O próprio Mojica Marins tratou de explicar aos presentes na sessão de ontem de Encarnação do Demónio que o cinema de terror serve para homens e mulheres se agarrarem aproveitando a mecânica dos fluidos posta a circular no escuro. O terror do universo do Zé do Caixão - a avaliar por este filme que parece funcionar como súmula... 40 anos depois - é da estirpe romântica. E o corpo humano o seu principal veículo de expressão. A violentação das carnes postas à prova pelo coveiro como modo de separar os seres superiores dos inferiores (aqueles que suportam menos a tortura, que têm medo de sofrer - de morrer), tem por propósito a união das almas. José Mojica Marins usou este personagem para despir um grande número de jovens e belas mulheres (ressalve-se a subjectividade de ambas as categorias), e não me ocorre de momento intento tão nobre para o cinema. Até porque é encenando pequenas mortes que nos preparamos para o desfecho derradeiro. O universo do Zé do Caixão é uma brincadeira, mas feita com tamanho gosto, brio e folclore (o vibrato do protagonista em constante overacting é fantástico) que embora suspeitando da superior qualidade dos filmes que vêm antes (que serão mostrados no decorrer desta edição de MotelX), devo confessar que me diverti com o desvario sanguinário e alucinado da segunda infância do Zé: do caixão à cova.
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