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Imperfeições, 1 e 2, metades que compõem o duplo-CD de António Pinho Vargas, Solo, foram pensadas como sequências de um recital, e em grande parte respeitadas pelo músico quando apresentou o trabalho no pequeno auditório do CCB, há algum tempo atrás. O alinhamento é fértil em felicidades, nenhuma, na minha opinião, tão extrema como a ligação dos temas Lindo Ramo, Verde Escuro e O Movimento Parado das Águas. Pinho Vargas é dos nossos mais universais melodistas (concordo com o que li algures que dizia que o compositor era o mais exímio melodista a chegar depois de Carlos Paredes), e o seu repertório popular parece seguir a fluidez dos movimentos e ciclos da natureza. Há uma certa intemporalidade nesta música que penso que é dos melhores elogios que lhe podemos fazer. Fauré, Shostakovich, Jarrett ou Reich passeiam-se por aqui.