9.15.2008

Impressionismo


















Mas o gozar a vida não implica ser-se forçosamente feliz.

A frase está no Le Stade de Wimbledon, de Mathieu Amalric. Filme de 2001, produzido por Paulo Branco, que adapta o romance de Daniele Del Giudice com esse título. Filme curto - cerca de 70 minutos - mas maravilhoso. A linha narrativa é ténue e vai-se progressivamente esfumando, tal como o rasto do avião que Amalric mostra num dos derradeiros planos. Há uma jovem mulher que viaja até Trieste (e mais tarde para Londres) para saber os motivos pelos quais um escritor adiou a escrita e acabou sem obra. O discreto agitador cultural, Bobby Vohler, que preferia viver a vida e a criação dos outros em vez das suas. O editor que os conhecidos recordam sem que as explicações dadas decidam sobre as razões profundas. O homem afinal como aglomerado de indícios cujo entendimento nunca poderá ser total. Le Stade de Wimbledon é sobre um mistério. Vários mistérios. Acrescentados à figura do escritor, a cidade de Trieste que Amalric capta nas diferentes estações, mergulhado na banalidade do trânsito de pessoas, horas, e veículos. E o mistério da deslumbrante Jeanne Balibar que interpreta a jovem mulher da qual não saberemos o nome, mas com quem mantemos aquela íntima ligação que se estabelece pelo testemunhar do que acontece quando nada parece acontecer. Nos silêncios e nas expressões que preenchemos com aquilo que é nosso e que nos faz ser parte deste filme. Pequenas ironias anónimas de todos os dias. O mistério da vida. Le Stade de Wimbledon acompanha a deriva da protagonista com igual sentido de risco ao que Amalric assume quando decide filmar sem argumento, apenas munido do livro de Del Giudice que acaba com os cantos todos dobrados: vê-se no DVD que tem um posfácio chamado Malus que oferece a reflexão sobre as fases do projecto, e que na minha opinião ganha em ser visto antes do filme - e assim do posfácio fazermos prefácio.

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