11.15.2010

Um anjo desceu no Estoril


























foto: Tim Knox.

Se a proposta tivesse ficado pela leitura, já teria sido bom ter ido ver Laurie Anderson. Digo bem, ter ido ver, porque é uma presença que se sente como qualquer coisa de muito agradável. Laurie Anderson irradia de facto uma tal bonomia, na sua figura leve e discreta de gentil anjo de idade indeterminada (tem 63 anos, disse-o com o mínimo ênfase), que bastava estarmos ali sem que nada acontecesse. Mais fascinante foi o momento em que acedeu a responder a três questões do público, sobre as quais se alongou com tais graça e agilidade de raciocínio apenas ao alcance das pessoas verdadeiramente ricas interiormente. Falou sem pessimismo sobre a integração de novas tecnologias nos hábitos de leitura, e no seu próprio trabalho desde sempre; referiu-se ao projecto em torno de Moby Dick, o seu livro preferido, experiência à qual não mais regressará; por último e a pretexto do pequeno livro Night Life, falou de sonhos e dessa linguagem que cada um interpreta à sua maneira. Respostas sempre longas e naquela cadência suave e muito própria que nos habituámos a sentir como música.

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