11.10.2010

Música calada
















Chamar um filme de melodrama é atribuir-lhe classificação que tende a colocá-lo fora do nosso tempo. É ainda um género infelizmente em desuso pelo que mesmo recordando a distante recepção a que foi sujeito por ocasião da estreia em Portugal, tinha curiosidade de ver este The Painted Veil (2006) e mais curioso fiquei após ter descoberto o filme anterior de John Curran, Desencontros / We Don't Live Here Anymore (2004). The Painted Veil é um objecto tão discreto que quase não se dá por ele. Curran mostra-se próximo da sensibilidade de Pollack e Minghella mas é mais envergonhado que eles. Parece pedir licença para meter cada plano da paisagem asiática que serve de fundo à maior parte da história, e a intensidade da relação do casal protagonista é gerida com extremo pudor. Os sentimentos são permanentemente calados, até quando de um casamento de conveniência manchado pela traição (e consequente ressentimento nunca exteriorizado com veemência), nasce o amor e o dever que o acompanha: o «estado de graça» a que se refere a personagem de uma madre superiora. The Painted Veil é na essência um melodrama que termina onde os outros começam. Quando o sentimento é mútuo. E isso é também bonito de ver.

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