Em encontro com o público do Estoril Film Festival que veio a terminar no mesmo tempo da vitória expressiva do Porto no Dragão (acompanhada via sms), Abbas Kiarostami falou com fecundidade sobre o seu trabalho e sobre o filme que tínhamos acabado de ver: Copie Conforme, espécie de «identificação de um casal» que várias vezes troca as voltas ao espectador que se procura orientar por entre o seu aparente naturalismo que veste uma construção fortemente conceptual. O momento que me interessa realçar de toda a conversa é o que diz respeito à minha relação com o filme. Kiarostami contou que após as primeiras leituras que fizera do argumento, Juliette Binoche lhe telefonara porque não sabia como se relacionar com a sua personagem, que lhe parecia uma mulher neurótica e imprevisível. Perguntou então ao realizador se devia adoptar por modelo a actriz Anna Magnani ou outra, ao que ele respondeu que devia sim procurar dentro dela as partes que se adequariam a cada situação. Copie Conforme é o filme mais sensual de Kiarostami, ou talvez aquele onde a sensualidade melhor encaixa nos padrões ocidentais. A sensualidade de Binoche (uma antiquária francesa e morar em Itália) é muito terra a terra, mas a verdade é que não consegui tirar os olhos do seu decote durante todo o filme, e muito por conta dos enquadramentos de Kiarostami. Se cheguei a pensar que aquela particularidade da focagem era de minha obstinada responsabilidade, quando a personagem de Binoche conta ao homem que entrara numa igreja apenas para se libertar do sutiã que a incomodava, dei por amnestiada a pequena perversão. Abbas Kiarostami, grande malandro, conseguiu ter a Binoche e também a parte da Magnani (originais e cópias uma da outra).
11.08.2010
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