4.08.2010

O mar
















Foto: O mar de Capri being Sugimoto pelo Eduardo.

Continuo a encontrar mulheres que procuram o mar e que do mar outra coisa não desejam que a tranquilidade, a paz de espírito, ou algo equivalente. As mulheres que dizem procurar o mar atraem-me. Embora possam trair-me. O homem não pode ser tão imenso como o mar, e se procurar transmitir calma constante, ainda que aparente, elas aborrecem-se. O mar, no fundo (e à superfície), representa aquilo que a mulher não pode ter a um dado momento. Com a segurança de saberem que ele está no mesmo lugar. O mar é o amigo natural das mulheres, o confidente dos momentos em que querem desabafar consigo mesmas. Quando querem apenas o eco acrítico dos seus pensamentos. O espaço ideal da sua autocomplacência. Nesta lógica o mar diz-lhes o que querem ouvir. O mar fala-lhes com palavras delas. Se quisermos ser mar para elas, no sentido da amizade, podemos estar seguros de que regressarão algum dia (vezes sucessivas). Mas se queremos ser mar sendo mais qualquer coisa, estamos quilhados: se queremos dar elas sentem-se em dívida, ao passo que o mar nada cobra, recebe apenas. Mas ser mar é ser-se demasiado a mesma coisa. Excepto quando se é apenas mar.

Arquivo do blogue