3.04.2010

A pointless movie on the pointlessness of life


















A vida não faz sentido e um dia todos morremos (ou, morrer por morrer, que seja no mais bonito inglês: 'life is pointless and then you die'). Em teoria faz sentido, e então se estivermos em maré pessimista rapidamente vestimos a camisola. Pena que o filme dos Coen sirva tanto para vestir como para sorrir. A sua estrutura funciona como uma anedota demasiado longa que chega-se ao fim e não tem 'punchline'. Nada de muito original no regressado culto de uma certa estranheza que teve no passado melhores momentos. Os Coen atingem neste A Serious Man o patamar do filme afásico. Crónica dos dias de um homem perplexo com o que lhe acontece e reprimido com a possibilidade de fazer algo de diferente com a sua vida. Figura patética (termo que uso mas não em sentido pejorativo) que se caracteriza por ser a total antítese de uma personagem de cinema: o que o define é a incapacidade de agir, que os Coen subrepticiamente relacionam com aspectos dogmáticos e esotéricos da tradição do judaísmo. Isto assim posto, em separado, encerra um potencial de interesse que o filme desbarata. É que não só os Coen foram algumas vezes antes mais inspirados na tradução do prosaico contaminado por intervalos surrealizantes (que aqui invariavelmente se concluem com o acordar apavorado do protagonista), como em outros filmes o modo de observação dos irmãos Joel e Ethan surgiu melhor defendido em termos formais (em Miller's Crossing, The Big Lebowski ou Fargo). A Serious Man é objecto que não entranha e que vamos abandonando fruto da sensação de arbitrariedade instalada, onde apenas a imagem (gratuita, seja, mas sem dúvida bem-vinda) de uma bela mulher nua deitada ao sol é o instante solitário que se intromete na indiferença geral. Um filme que não tem sentido sobre a falta de sentido da vida tinha de dar origem a um texto pomposo.

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