3.12.2010

A guitarra e três outras máquinas


























Quando o documentário arranca, observamos Jack White que constrói uma espécie de slide guitar a partir de um pedaço tosco de madeira, um fio metálico, uma garrafa de Coca-Cola e um modesto pickup. O som que ele tira da engenhoca é incrível e não mais o filme de Davis Guggenheim consegue atingir-nos com aquele impacto. Jack White pergunta-se e pergunta-nos porque precisamos então de uma guitarra? Segue-se a montagem paralela da deslocação dos três protagonistas para o ponto de encontro. De carro seguem também The Edge e Jimmy Page, e tudo é filmado como se fossemos assistir a um duelo. Só que o suposto duelo transforma-se na troca amigável em estúdio das vivências dos três com os seus instrumentos, e de parte da história das bandas onde estiveram. It Might Get Loud é suficientemente pessoal e dá acesso a algumas obsessões dos indivíduos (a colecção de discos de Page não é menos impressionante que a sua colecção de guitarras). The Edge é o homem dos pedais de efeitos que usa até o som da guitarra se tornar irreconhecível. Jimmy Page é aquele que encerra o estatuto de lenda viva. Mas só Jack White encarna a figura do músico que persegue ainda as raízes do som que o deixou fascinado. O músico dos White Stripes e dos Raconteurs tem um tipo de carisma em estado bruto, que Page embrulhou na sua vasta cabeleira branca e que The Edge, até por questões geográficas e de história pessoal, dificilmente podia testemunhar. E voltamos à tosca slide guitar que faz vibrar a garrafa de Coca-Cola...

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