11.04.2009
Uma comovente despedida
Encontramo-nos no ano de 2006. Jane Tennison é uma superintendente alcoólica que descobrimos mais sozinha que nunca. Uma alcoólica anónima na medida em que resiste a reconhecer que tem outros problemas na origem daquele que tanto a prejudica e à sua imagem. Jane está a um mês de se reformar da polícia inglesa. Há uma jovem de 14 anos dada inicialmente como desaparecida que é encontrada morta. O pai de Jane está a morrer de cancro num hospital. Na primeira reunião dos AA's a que assiste, Jane dá de caras com Bill, um antigo subalterno com quem tivera sempre mau relacionamento. Por capricho da narrativa, Bill é a pessoa que surge nesta fase conturbada da vida de Jane. Jane está em perda. É uma questão de compaixão, o mais elevado sentimento que podemos ter uns pelos outros (identificarmo-nos com o que sentem os outros). Bill acaba sendo a única pessoa que Jane tem nesta altura. Ela estará com uma idade a rondar os 50 e muitos anos. Como lhe diz o pai, na cama do hospital, a vida dela fora sempre pautada pelas decisões correctas (pensamos em Jane Tennison e o que fica é a figura da mulher que para ser fiel a si própria acabou isolando-se dos de mais: da família, dos amantes, dos colegas de trabalho). Jane é uma mulher não reconciliada com o passado. O derradeiro caso que tem para resolver, debruçado sobre a vida de adolescentes com idade para ser seus filhos (se algum dia tivesse de facto considerado ter uma família dela), coloca a vida de Jane em perspectiva. E Prime Suspect despede-se de forma comovente. Seguidos cerca de 15 anos da vida desta mulher (experiência mais intensa se acompanharmos a série em DVD, ao contrário do que fizeram os telespectadores entre as datas 1992 e 2006, que correspondem ao arco irregular da produção), o que guardamos é dos retratos mais humanos que a televisão alguma vez deu. Temos todos um pouco de Jane Tennison em nós. As suas frustrações são as nossas frustrações. A sua mortalidade toca a nossa mortalidade.
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