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I Am Legend dá a ver o filme (pós-)apocalíptico por redução, em contraste com a acumulação que faz a língua comum às produções do género. A primeira hora é das coisas realmente impressionantes do cinema contemporâneo: Nova Iorque destruída e deserta, filmada em silêncio nas perspectivas a que nos habituaram a olhar para ela, imagem que remete para a história recente (11.09.01) desta cidade que se confunde com a própria memória do cinema. Um homem atravessa a metrópole vazia na companhia da sua cadela pastor alemão. O tema carpenteriano da civilização reduzida à idade das trevas revisitado. I Am Legend subtrai tudo às funções e aos impulsos primordiais. A procura do outro e o instinto de sobrevivência. Palco desolador do formidável desempenho (físico e emocional) de Will Smith, na pele de um herói que tanto podemos considerar obstinado como aprisionado no cumprimento da sua lenda.