11.20.2009

Marcada para sofrer






















Contado poucos acreditariam. Mas lido no jornal a coisa fia mais fino: «A bailarina [Rita Marcalo], directora artística da companhia de dança Instant Dissidence, com sede na cidade inglesa de Leeds, é epiléptica desde os 17 anos. Marcalo deixou de tomar os seus medicamentos na semana passada e por 24 horas, a partir da uma da manhã do dia 11 de Dezembro, os espectadores poderão ver as suas tentativas de ter um ataque em palco.» A coisa ganha contornos grotescos logo a seguir:«Assim, haverá o recurso, no espectáculo, a luzes estroboscópicas, programas informáticos específicos, a bailarina terá de fazer jejum, privar-se de dormir, tomar estimulantes da actividade cerebral, como o álcool e o tabaco, e será elevada, artificialmente, a sua temperatura corporal. As actuações de outros artistas, em termos de dança e de instalações, entreterão os espectadores enquanto esperam que Marcalo tenha um ataque epiléptico.» A prosa parece tendenciosa, só que há dinheiro na história:«O Arts Council England justificou a sua decisão de pagar [13.889 mil libras, cerca de 15 mil euros] a Marcalo para a realização deste espectáculo afirmando que ela é uma “artista importante cujo trabalho merece ser visto”.» Gente da cultura que promove a tortura à condição de espectáculo. E uma bailarina (como todas as bailarinas, um anjo Deus meu!) que se vende como mercadoria exposta à condição pornográfica. Mais que pornográfica, uma vez que o actor arrisca ser subjugado pela personagem. Umas costas assim bonitas (anjos, como eu digo): havia necessidade?

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