8.17.2009

O silêncio dos inocentes


















As qualidades de Changeling tornam-se óbvias se também formos objectivos na análise ao filme. O que Clint Eastwood dá a ver é uma sociedade distópica de finais dos anos 20 do século passado (quando estamos habituados a olhar para a distopia projectada num tempo futuro). As principais vítimas são as mulheres e as crianças. Os maiores carrascos são os polícias e os políticos, em concreto a polícia corrupta de Los Angeles que procurou distorcer a verdade na história (verídica) de Christine Collins. O papel de Eastwood, realizador, é o de tomar partido na defesa dessa mesma verdade. O trabalho de planificação expõe por um lado os aspectos sórdidos da natureza humana, e resgata por outro a inocência dos oprimidos: a este propósito é comovente o retrato do jovem Sanford Clark (Eddie Alderson), cúmplice forçado nos homicídios de Wineville, coagido pelo medo e pelo horror ao seu redor. É altura de dizer que não sei porque não soube reconhecer de imediato em Changeling o belo filme que é. Um dos aspectos magníficos de Changeling é que a partir do momento que nos faz acreditar na (mais que provável) morte do filho de Christine, Walter Collins, orienta o sentido de reparação para aquilo que é preciso fazer em relação aos vivos: aspecto que a cena da libertação das mulheres encerradas num hospital psiquiátrico ilustra com uma eloquência que nos poderá levar a conter as lágrimas.

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