8.21.2009
Em nome da sobriedade
Esta imagem é, no que ao enquadramento diz respeito, simétrica de uma outra que alguns recordarão do filme Magnolia, de Paul Thomas Anderson. Estão lá o filho adulto e o pai moribundo. Mas enquanto que o olhar de Tom Cruise não exprimia outra coisa a não ser ressentimento, Colin Firth mostra no seu semblante menos hirto um princípio de reconciliação. Estamos, nos dois casos, em territórios que são a antítese do "efeito Kuleshov": what you see is exactly what you get. O contracampo ou planos subsequentes em nada alterarão a nossa interpretação.
Cheguei a When Did You Last See Your Father? (que teve exibição comercial em Portugal) há poucas semanas e por recomendação de um amigo. O filme de Anand Tucker, que já nos havia dado o simpático Shopgirl, escrito e interpretado por Steve Martin (e pela rapariga do shopping, Claire Danes), trata da relação mais formadora de todas na vida de um homem. Tucker, era sabido, gosta de estilizar e gosta de fazer poesia com o cinema. Mas aqui tem rédea curta imposta pelo sóbrio guião de David Nicholls, que adapta o livro de memórias de Blake Morrison (o filho adulto de que Colin Firth se ocupa). A pequena proeza de When Did You Last See Your Father?, suspeito bem que seja manter-se fiel ao material escrito. Trata-se aqui da vida de alguém que de facto existiu, e que teve com o seu pai uma relação que suscita variadas identificações. Uma vida como todas as outras: feita de contradições, de inconsequências, de balanços que levam a quase nada.
Há também aqui actores de enorme categoria, começando pelo pai de Blake, Arthur, interpretado por Jim Broadbent. E há um gosto da sobriedade que contagia a narrativa sempre à beira de se tornar cinema (tombando lá de vez em quando), finalmente reconciliada em ser menos que isso. Se estiverem virados para um objecto middle of the road, discreto e timidamente imbuído de sensibilidade, talvez vos aguarde uma boa surpresa. Em jardim de magnólias, a flor vulgar pode fazer-se notar.
Arquivo do blogue
-
▼
2009
(484)
-
▼
agosto
(52)
- The taking of Sylvian 123
- Basinski's lunchbox
- Bernd Friedmann é Burnt Friedman
- Newton vs. Almodóvar
- O superlativo da beleza
- Kill Hitler
- Setembro é o melhor dos meses
- Tatuagem
- Assim como assim
- já a seguir
- Sporting mais pobre
- O gladiador
- O meu onze para Florença
- Best I've ever Ad
- 20 valores
- Agente Gross se faz favor
- A melhor juventude
- Uma tarde a ouvir sem sobressaltos
- Da excelência crítica que olha a música de dentro ...
- Em nome da sobriedade
- Rezo a todos os santos
- Nas lojas a 28 de Agosto*
- Menina do mar
- Olha o papagaio
- Lendas urbanas
- Um feixe de luz
- Como sempre basta vencer
- Homens que gostam de actrizes
- Bizarre love triangle
- Everytime they sing goodbye
- O silêncio dos inocentes
- Sobre "Tony", a primeira curta-metragem de Bruno L...
- It’s Mann’s world
- Greetings
- 15 movies that I will always remember
- Collector's item
- Brothers in charms (Fire in the Forest Tour 03/04)
- Missão imaginária
- Escrito na pele
- Bello na despedida
- Em reposição
- Porque gosto de rosas
- Flores para um amigo
- Felinos
- A felina
- Série. B
- As férias do exterminador
- Sempre convosco
- When Poets Dreamed of Angels
- Máquina do tempo
- "I'll take care of you."
- Anatomia de Gray
-
▼
agosto
(52)