
O que é maravilhoso no trabalho de Van der Keuken passa pela disponibilidade do olhar, pela curiosidade face às manifestações do mundo (mundo esse que ele nos torna familiar até nas culturas mais remotas), pelo modo como usa a câmara para se aproximar das pessoas e das situações com uma postura gentil mas interrogativa. The Long Holiday será a obra mais serena que encontraremos tratando do tema da morte, que mesmo nos momentos de maior vitalismo não deixa de estar presente - até porque Van der Keuken deseja terminar o filme e confronta-se com as limitações físicas que surgem: havendo a tendência de ampliarmos os sinais que o corpo dá quando se sabe que se tem cancro; uma indicação nova poderá ser lida como se a morte estivesse mais iminente.
Van der Keuken elenca visões distintas sobre esta questão (da preparação para aceitarmos a morte), tão distintas quanto as que um monge tibetano ou um médico oncologista de Utrecht podem dar. A última cena (ou última ceia) de The Long Holiday mostra-nos o realizador reunido com familia e amigos durante um almoço, com a câmara a registar a boa disposição geral, certamente a imagem que Van der Keuken quis preservar daqueles que ama. Mas as derradeiras imagens são pontos de luz reflectidos pelo mar, que parecem remeter para o mistério da vida e para todas as partículas que a constituem. Um belíssimo apontamento pujante de força metafórica que é também das mais belas despedidas que o cinema nos deixou.