Se o critério for convergência de popularidade, longevidade e respeitabilidade crítica penso que é seguro eleger os Beatles, os Led Zeppelin, os Pink Floyd e os Rolling Stones como as melhores bandas de todos os tempos. Os nomes do meio não entrariam nas minhas contas até há meses atrás, mas a idade ajuda a remediar injustiças, o que leva a que apresente a tetralogia reformulada. Na cauda, os Beatles, para imensos tremenda injustiça. Paciência. Depois os Rolling Stones (O Exile on Main St., o Sticky Fingers, o Beggars Banquet, o Let It Bleed, e o Their Satanic Majesties Request, valem para mim acima de qualquer conjunto de discos da rapaziada de Liverpool.) Na segunda posição colocaria os Pink Floyd, que saltam de um obscurantismo a que os condenei em fase imberbe da vida, e que hoje reconheço, e como reconheço, na excelência destes discos: A Saucerful of Secrets, Atom Heart Mother, Meddle, Animals, The Dark Side of the Moon ou Wish You Were Here. Uma curiosidade sôfrega acabará recompensada. Finalmente os mais tremendos de todos Led Zeppelin. Os Zeppelin agarram pela cintura e não largam mais. Um som xamânico que mexe com energias profundas, e que se vive num estado de euforia mística, pagã, ou ambas. Até Physical Graffiti, na totalidade de seis álbuns, não há segundo desaproveitado. Mesmo os instantes de silêncio entre músicas são para respirar entre êxtases.
Os Radiohead representam aquele caso de comboio apanhado com anos de atraso. Entrei no OK Computer que me pareceu um clássico instantâneo. E quase instantaneamente rejeitei os dois álbuns seguintes: Kid A e Amnesiac. O que estranho, e que em parte me embaraça, é que os Radiohead dessa altura gozavam já de culto significativo que não se explicava aparentemente pelo grau de experimentação que então trilhavam. Os Radiohead de Kid A e do seu sucedâneo são aquilo que se costuma chamar de banda para músicos. Penso que existe uma bagagem musical que é preciso adquirir para melhor compreender o que eles fizeram depois de OK Computer. Foi esse o trabalho que acabei fazendo até voltar a sentir curiosidade por esses dois álbuns. Que agora se me afiguram como dois estupendos discos: que recolhem elementos da electrónica, do neoclassicismo orquestral, e do psicadelismo, que uma vez juntos dão origem a uma música mais coesa do que as primeiras audições possam sugerir. E onde o apelo da melodia é muito mais forte e intenso, como brechas de luz que rasgam um corpo granítico.
Tão bom como aquilo que referi a propósito dos exemplos anteriormente citados é o que se reúne neste disco dos Popol Vuh, In den Gärten Pharaos. A banda de Florian Fricke, Holger Trulzsch e Frank Fiedler teve o mérito de imaginar uma música só sua a partir de elementos cultural e geograficamente díspares, que sendo francamente moderna (e então à época, inícios de 70!) trazia consigo uma qualquer marca de tempos imemoriais. Chega-se ao âmago do trabalho dos Popol Vuh por um processo de desarmamento da interpretação. O caminho vai da impressão causada pelos sons naquilo que estes têm de concreto, para que depois se dê o passo seguinte. Uma rota que se permite ser tão pessoal quanto mais numerosos sejam os destinatários. Imagino a música deste disco como a interpretação que uma civilização extraterrestre faria a partir da recolha de elementos musicais do nosso planeta a que a mesma teria tido acesso na sua forma rarefeita. A música de In den Gärten Pharaos oferece espaço de arejamento para que o seu poder sugestivo possa assumir as mais diversas formas. Exótica e muito além.