10.20.2008

"Dong" (doclisboa 2008)
















Dong foi produzido na altura de Still Life e parte da acção tem lugar no mesmo espaço geográfico da barragem das Três Gargantas, tendo também a dado momento como figura secundária o protagonista daquela ficção (em pose na imagem). Trata-se em termos genéricos de um documentário sobre o pintor Liu Xiaodong e sobre a produção de dois trabalhos deste, sendo que o segundo decorre na cidade de Bangcoque, Tailândia. Os méritos de Dong, e do restante trabalho de Jia Zhang-ke que conheço, resumem-se na última frase do documentário, escutada da boca do pintor Xiaodong: cito de memória, "o objectivo do meu trabalho é mostrar a dignidade intrínseca a todas as pessoas". Outra coisa não faz Jia Zhang-ke, e isso suscita parte da comoção em torno da sua obra. Mas o olhar de Zhang-ke tem elementos de originalidade só dele. A sensibilidade para o enquadramento por onde apetece dirigir o olhar, o ritmo que permite a interpretação dos vários elementos (Zhang-ke é particularmente brilhante a captar os rostos e os corpos, transmitindo uma aura de subtil compaixão que só a escala do plano e a duração podem decidir), uma acuidade para dar a ver a condição humana (muitas vezes em regiões remotas, algumas desoladoras) sem qualquer espécie de panfletarismo. Jia Zhang-ke é dos mais importantes cineastas revelados na última década, e se Dong não é tão fascinante quanto Still Life, justifica a existência perfeitamente autónoma ou então o irresistível jogo dos paralelismos.

Nota negativa: a sessão foi introduzida por uma curta-metragem mais antiga do realizador, In Public (2001), exibida na íntegra sem som e legendagem, sem que qualquer elemento da organização tivesse solucionado o problema ou apresentado uma explicação.

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