1.10.2008

O fiel timoneiro

Dizem-me que Paulo Bento é adepto do Benfica. Se tal for verdade é aquele que mais merece a minha consideração de entre todos os rivais da 2ª circular. O Sporting fez ontem uma primeira parte miserável (repito, miserável), encolhido frente ao Setúbal e na segunda metade continuou a revelar incapacidades preocupantes na qualidade do passe, profundidade atacante e finalização. A equipa dá dó de ver jogar e quando o elemento que mais se destaca é o guarda-redes Stojkovic, está tudo dito. Had fez um jogo próximo da nulidade (nada lhe saiu bem), Purovic é de uma incomodidade confrangedora, Izmailov vai-se abaixo das canelas ao mais pequeno choque, Polga e Tonel deixaram de dar um com o outro depois de se entenderem na perfeição, no meio-campo só Moutinho e Vukcevic puxam a carroça verde e branca e mesmo assim frequentemente sem que isso se reflicta na produtividade do grupo. Liedson, mesmo quando faz beicinho, nota-se que é de categoria à parte. Os amuos e a consequente desconcentração são a única intermitência no seu brio e na sua raça. Oxalá Derlei recupere logo para voltarmos a ter samba lá à frente.
Perante este cenário e sem cheta para reforços, Bento pouco ou nada pode fazer: excepto corrigir e persistir. Se bem que eu o considere o elemento determinante à recuperação que o Sporting venha a encetar: diz o povo que "não há bem que não acabe ou mal que sempre dure". Sinto-o penalizado por um trabalho de comunicação do meu clube que roça a pusilanimidade. No lugar de dirigente já tinha dado instruções – e no início da época – para que a mensagem difundida fosse tão clara quanto possível. A prioridade passa pelo equilíbrio das contas (diminuição do mastodôntico passivo que implica o pagamento de tiranossáuricos juros), pela formação de activos na Academia que possam valorizar-se em devido tempo, reforçando primeiro a equipa principal e tendo por objectivo último a sua rentabilização numa transferência para um emblema poderoso de um campeonato próspero. E talvez, daqui a uns anos, o Sporting possa almejar a outras glórias, internas e externas. Paulo Bento é também neste sentido o técnico certo num cenário que muitos teimam em perturbar por entre expectativas irrealistas face à racionalidade dos números que conduz o desígnio empresarial que preside aos maiores clubes, sabotando de caminho o melhor aproveitamento dos jovens que o Sporting deseja integrar no plantel sénior.
Não deixem Paulo Bento isolado! Sejam homenzinhos, senhores dirigentes do Sporting Clube de Portugal. Estendam-lhe a blindagem com que querem proteger a equipa. E repitam para os adeptos que este é o melhor conjunto de jogadores possível relativamente às prioridades estabelecidas a curto-médio prazo, também resultado dos percalços (lesões, inadaptações) que a máquina humana sempre acarreta. Deixem-se de silêncios reveladores de tibieza comprometida, sobretudo com a obrigação de ver o estádio sempre cheio. Respondam aos boatos com transparência. Chamem os sportinguistas ao imperativo dos factos e talvez tenham uma surpresa. E acima de tudo não façam e não deixem que outros façam de Paulo Bento o próximo bode expiatório. Somos todos do Sporting. Saibam respeitar o carácter e a alma que distinguem este clube.

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