1.30.2008

Italiano passivo









A pergunta é se o mundo ficava mais pobre caso não existissem discos de Mariano Deidda? A resposta dá-se pela negativa. Deidda, que por estes dias voltará a apresentar aos lisboetas o seu trabalho sobre poemas de Fernando Pessoa, é, paradoxalmente, o elo mais fraco das suas produções artísticas. O homem tem bom gosto nos poetas que elege, é compositor razoavelmente competente que não se aventura demasiado, faz-se rodear de músicos de grande qualidade - no seu CD mais recente, Rosso Rembrant, brilham o trompetista excepcional Kenny Wheeler e o tocador de oud Aleksandar Sasha Karlic -, só que as músicas raro se elevam para lá de uma mediania confortável servida pela voz pouco impressiva de Mariano Deidda. O drama de Deidda só será menor do que o de muitos de nós que cultivarão a música e a poesia, porque cedendo embora ao impulso criativo o seu trabalho dá testemunho de apuro estilístico superior (ao real talento). Deidda não deixará obra que resista à passagem do tempo: da competência não reza a história e até o génio leva tempo a gerar consenso. Por outro lado, ninguém o remeterá ao saco dos nulos. O mais punitivo que o seu trabalho pode suscitar é a relativa indiferença.

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