2.15.2012
Isto em série não é para fracos
O caso chama-se Walter Barnett. Sublime actor: John Mahoney. 60 e muitos... (no BI 71 anos, idade para ser o meu pai). Em criança assistiu à morte do irmão por afogamento. Procurou compensar a preferência dos pais por aquele tornando-se um super-homem. Não quebrou no Vietname. Distinguiu-se como presidente do conselho de administração de uma empresa farmacêutica, suscitando a estima por parte dos donos que tomou por uma quase "adopção". Na vida familiar fora também a "cola" que tudo susteve. Não teve tempo para crises nem outras manifestações de fraqueza. Camuflou-se sob uma capa de competência e total disponibilidade. Um dia a filha partiu para o continente africano em trabalho humanitário. Walter sentiu o tapete a fugir-lhe debaixo dos pés e os esporádicos ataques de pânico tornaram-se regulares e difíceis de disfarçar. Foi fazer terapia, coisa de que desconfiava e que considerava desnecessária à situação. Medicou-se. Continuava frágil e tinha gente a cobiçar-lhe o lugar. Cedeu e acabou sendo despedido. Deprimiu-se. Tentou o suicídio. Voltou ao gabinete do terapeuta em convalescência, acompanhado da filha que regressara para ajudar. Ele que sempre tinha sido o pilar da família não podia esconder mais o seu estado débil. Só que o disfarce não tinha caído na totalidade. Quando o terapeuta lhe diz que o que o fez viver foi a necessidade de o seu lado mais frágil e humano se manifestar, Walter agarra-se à perna dele e desata num pranto. Aprender a viver aos quase 70 é para poucos. Reconhecer que o narcisismo é uma máscara para a fraqueza é a última fronteira: "I'm sorry, I'm sorry, I'm sorry", exclama um Walter totalmente quebrado. Pronto ou não para reunir os cacos de uma vida de fachada, preparando-se para o tempo que resta. Preparem-se vocês também! Uma série como In Treatment pode provocar pequenos desmoronamentos da alma ou despedaçar-vos o coração. Aconselha-se o consumo em doses moderadas. Sei do que falo e não é o orgulho que me faz falar.
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