2.07.2012

Entre músicos puros


















«Dos músicos que conheço ou conheci pessoalmente, as duas pessoas com uma abordagem à música mais parecida com a minha eram o Gram Parsons e o John Lennon. Poderia dizer o mesmo do Otis Redding, que não cheguei a conhecer. E que consiste no seguinte: pouco importa o saco em que a indústria musical decide pôr-te, que não passa de uma simplificação grosseira, de um catálogo para fins comerciais. Põem-te num saco ou noutro porque isso lhes facilita a tarefa de desenhar as tabelas de venda, ajuda-os a perceber quem está e quem não está a vender. Mas o Gram e o John eram músicos puros. Só a música lhes interessava, e de repente viram-se metidos naquele jogo. Quando te dás conta disso, das duas, uma: ou te deixas levar ou resistes. Há pessoas que nem se apercebem de como o jogo funciona. E o Gram era corajoso. Um tipo que nunca teve um hit; alguns discos venderam bem, mas nada do outro mundo. Mas a sua influência nunca se fez sentir tanto como hoje. Sem ele não terias Waylon Jennings, não terias outlaw country. O Gram mostrou ao mundo que o country não tem de ser um nicho para pacóvios do campo e fê-lo sozinho. Não é que tenha feito disso uma cruzada. Ele adorava a música country, não lhe agradava era a indústria em torno dela. E sabia bem que não se resumia a Nashville; é uma música de horizontes bem mais amplos, que devia chegar a toda a gente.»


Keith Richards, Life.

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