2.28.2012
Mark Lanegan's Favourite Albums
Foto: Herschell Hershey
Mark Lanegan is meeting with The Quietus in a Pimlico hotel on a sunny December morning to discuss his thirteen favourite albums and as the conversation unfolds it becomes apparent how much these records have informed his new work. Unsurprisingly it’s Lanegan’s most far-reaching collection and certainly his most satisfying.
“With this new record, because I use a lot of the elements of my influences that I haven’t on previous record, I’ve made a record that’s something more like I would personally listen to than some of the records that I’ve made before,” he says. Judging by his choices, it’s hard to disagree.
1. The Gun Club Miami
I suppose I could have chosen any Gun Club record but this record in particular resonates.
2. Joy Division Closer
Sometimes when you hear something that’s mirroring something that’s happening in your life – so much so that it hurts – it makes you feel better.
3. Roxy Music Country Life
There have been four or five-hour periods of my time where I’ve had ‘The Thrill of It All’ on repeat as I did stuff around my house.
4. The Bee Gees Trafalgar
I’ve said this before but to me they’re like what The Beatles are to other people. I’m really in awe of them; they’re really, really great.
5. The Flesh Eaters A Moment To Pray, A Second To Die
The Flesh Eaters had this great noir feel about them and that’s also true about the way Chris D writes; he writes outside of music and it’s almost like pieces from a Jim Thompson novel.
6. Fabrizio de Andre Canzoni
My girlfriend has horses and I was listening to it on my phone at the stables and all the horses came in and she was like, ‘Oh my God! They really love that!’ They do! They were all like, ears up, completely attentive.
7. Kraftwerk Radioactivity
There was a period of time when I would listen to it every night with the lights off and looking out of the window – usually of a hotel – at the lights of a city and that’s still the best way to hear it.
8. John Renbourn Faro Annie
On this record in particular I think a lot of Pentangle purists aren’t so into because it has a lot of wah-wah guitar, sitar and groovier elements and that’s part of the reason why I love it.
9. The Leather Nun Force Of Habit
I’m sort of a sucker for European persons singing in English – there’s something about it! They have this one song called ‘Prime Mover’ and I probably shouldn’t say this but I’ve managed to write four or five songs out of that song over the years.
10. John Cale Paris 1919
‘Why are you singing about elephants and cows and why is that making me so sad?’ But it does because the melody is so incredible. It makes me feel sad but in the best possible way.
11. Crime And The City Solution Shine
‘On Every Train (Grain Will Bear Grain)’ is a really sad song but it has a sort of imagery that has a dignity to it. It’s hard to put your finger on but it’s really compelling.
12. The New Christs Distemper
We didn’t have a TV; we just had a stereo. Somebody had that record – I’m pretty sure it came from the early days of Sub Pop because they distributed other records as well – and we would just sit around and listen to that record.
13. New Order Low Life
I still love that album and if you call my cellphone you’ll see that ‘Subculture’ is my ringtone [pulls out his phone and with a huge grin plays his ringtone to prove it].
Tenho absolutamente que mostrar ao Mark Lanegan o meu toque de telemóvel.
Espinhos sem coroa
Uma passagem apenas, comigo embrenhado na sonolência do fim de tarde, deu para perceber que Blues Funeral nunca será dos melhores discos de Mark Lanegan. Em circunstâncias outras, com um músico que não estimasse com a reverência que nutro por ele, encaminharia o objecto para o local onde o fui buscar, mas vou insistir e ver se quebro os espinhos levantados na primeira audição: a excessiva e aparentemente desnecessária duração de alguns temas e o recurso à electrónica para imprimir cadências rítmicas que soam datadas. O Pitchfork identificou estas dificuldades e aplicou uma classificação pouco entusiástica (5.9): But even the more uptempo material is hamstrung by strangely dated production that makes it come off like one of those "genre bending" roots rock albums from 1999 that tried to incorporate electronica and hip-hop touches. As a result, Blues Funeral sounds adrift both sonically and lyrically, chippy drum machines and oozing synths backing Lanegan's verbal merry-go-round of rising suns, avenging gods, and pitiless oceans. Como é óbvio temos sempre a voz, e aquela voz pode quase tudo.
2.27.2012
Bo Diddley o gajo que inventou os Black Keys
O descoberta do criador em nada diminuiu o valor das criaturas. Espero o dia em que guitarras cheias de vibrato governarão o mundo outra vez.
Venham outras cinco
Existe uma constância qualitativa de que a série Dexter se recusa a abdicar, e o prazer acrescido para bocas refinadas quando traz certos tipos para certos papéis que exigem tarimba, carisma, que se encontram sobretudo do lado dos actores de cinema, ditos "character actors". O exemplo do Keith Richards ali em cima é a todos os "frames" televisivos nada menos que categórico.
Nascimento de uma nação
Seja a construção do país chamado Estados Unidos da América ou a celebração da sua cultura, da família e da fé, quando cantadas pela voz de Johnny Cash, é como se a história – da pequena história à grande história – ganhasse vida no momento presente. Cash transporta para as suas interpretações a personalidade de grande demiurgo, o grão da voz, a cadência e autoridade que usa quando canta parecendo que está a falar (a contar), valores que muitas gerações depois de nós poderão reconhecer com o impacto que sentimos hoje. O legado de Johnny Cash não é de tempo determinado, pois é dele um sentido de comando muito particular sobre o tempo. Tem a ver com espírito. Algo que não se pode ver e tocar mas que é mais verdadeiro do que se o pudéssemos fazer. Cash é um milagre. Estão aqui dois.
Os meus Oscars
2.24.2012
2.23.2012
2.22.2012
Bom gigante
Dava-me certo jeito que houvesse uma disciplina universitária de livre frequência sobre Neil Young. Notem a extensão da obra. Um gajo perde-se por ali mesmo sem tirar os olhos das estrelinhas. Estas imagens só aqui estão para dar testemunho de que Neil Young é humano. Parece bom tipo. After the Gold Rush, Harvest, On the Beach, Unplugged, vamos então continuar.
Mil novecentos e setenta
De há uns tempos para cá é como se praticamente toda a música que me interessa fosse de um período que se encaminha para o ano em que nasci. Como quando comprei este disco (luxuosa edição – 2 CDs e 1 DVD) pensando tratar-se do álbum de Simon & Garfunkel que o meu pai tinha em vinil, a foto "idêntica" dos dois cheia de grão, que recordo pelo prazer táctil que representava para a criança que era eu quando tocava no disco, mais do que quando o punham a tocar. Apesar de não ser o mesmo, lembro-me como se o fosse. As memórias acabam sendo no futuro mais significativas que os factos. Bridge Over Trouble Water (1970) é um belíssimo disco; e isto é um facto. Épico e intimista na forma de canções.
The Boxer (para a Lia, antes de qualquer outra pessoa)
2.20.2012
Grandes diferenças
2.17.2012
Chateado com a senhora?
Passei na Louie Louie para trocar uns discos e o Jorge perguntou se estava chateado com a senhora? Como se o Revolver somente não valesse já as discografias completas dos The Kills e Dead Weather.
Escritos de guerra
«A política é uma chatice, excepto para as pessoas que querem o poder.»
Aki Kaurismäki, 2012
Pertencer a alguma coisa
«O Ronnie é a pessoa mais maleável que conheço, um autêntico camaleão. A verdade é que nem ele próprio sabe bem quem é. Não se trata de fingimento, anda apenas à procura do seu pouso. Tem uma necessidade quase desesperada de amor fraternal. Precisa de pertencer a alguma coisa; precisa de uma banda. O Ronnie é decididamente um homem de família. Passou por alguns momentos puxados – o pai, a mãe, e ambos os irmãos morreram nos últimos anos, uma coisa duríssima para qualquer um. "Lamento imenso, Ronnie." Ele diz-te que outra coisa não é de esperar, que a toda a gente cabe a sua hora. Mas certas coisas guarda-as dentro de si, remói-as durante imenso tempo. O Ronnie sente-se um bocado perdido sem a mãe. Era o filho mais novo, o menino da sua mãe. Eu também sou assim, sei bem o que isso é. O Ronnie remói demasiado. É um sacaninha duro, o cabrão do cigano. Vem da última família de "ciganos dos rios" a instalar-se em terra seca, um momento único na história da evolução, embora não me pareça que o Ronnie tenha herdado as suas barbatanas. Talvez por isso lhe custe tanto deixar a bebida. Não gosta de se sentir seco, ele; precisa de voltar ao seu elemento.»
Keith Richards, Life.
2.16.2012
Fabulosa Mrs. Baker
Etta Baker a tocar Careless Love mais para o final do vídeo. E as outras também.
2.15.2012
Isto em série não é para fracos
O caso chama-se Walter Barnett. Sublime actor: John Mahoney. 60 e muitos... (no BI 71 anos, idade para ser o meu pai). Em criança assistiu à morte do irmão por afogamento. Procurou compensar a preferência dos pais por aquele tornando-se um super-homem. Não quebrou no Vietname. Distinguiu-se como presidente do conselho de administração de uma empresa farmacêutica, suscitando a estima por parte dos donos que tomou por uma quase "adopção". Na vida familiar fora também a "cola" que tudo susteve. Não teve tempo para crises nem outras manifestações de fraqueza. Camuflou-se sob uma capa de competência e total disponibilidade. Um dia a filha partiu para o continente africano em trabalho humanitário. Walter sentiu o tapete a fugir-lhe debaixo dos pés e os esporádicos ataques de pânico tornaram-se regulares e difíceis de disfarçar. Foi fazer terapia, coisa de que desconfiava e que considerava desnecessária à situação. Medicou-se. Continuava frágil e tinha gente a cobiçar-lhe o lugar. Cedeu e acabou sendo despedido. Deprimiu-se. Tentou o suicídio. Voltou ao gabinete do terapeuta em convalescência, acompanhado da filha que regressara para ajudar. Ele que sempre tinha sido o pilar da família não podia esconder mais o seu estado débil. Só que o disfarce não tinha caído na totalidade. Quando o terapeuta lhe diz que o que o fez viver foi a necessidade de o seu lado mais frágil e humano se manifestar, Walter agarra-se à perna dele e desata num pranto. Aprender a viver aos quase 70 é para poucos. Reconhecer que o narcisismo é uma máscara para a fraqueza é a última fronteira: "I'm sorry, I'm sorry, I'm sorry", exclama um Walter totalmente quebrado. Pronto ou não para reunir os cacos de uma vida de fachada, preparando-se para o tempo que resta. Preparem-se vocês também! Uma série como In Treatment pode provocar pequenos desmoronamentos da alma ou despedaçar-vos o coração. Aconselha-se o consumo em doses moderadas. Sei do que falo e não é o orgulho que me faz falar.
Blakroc(kers)
Saio de casa e passo pelos grupos pouco misturados de rapazes e raparigas que estudam numa escola de artes uns metros abaixo. Fumam coisas que cheiram esquisito, falam alto para chamar a atenção e ouvem música: normalmente hip hop foleiro, ou então é a fraca reprodução sonora que não permite perceber a qualidade do que ouvem. Pergunto-me se conhecerão este disco? Quando músicos muito estimáveis como Erykah Badu ou Common resolveram electrificar o seu som, talvez na tentativa de fazer o crossover para o lado dos que gostam de rock, que na América por exemplo continuam a ser numerosos, eu achei aquilo uma aberração e rejeitei esses álbuns sem lhes ter dado meia oportunidade. O que Dan Auerbach e Patrick Carney (os Black Keys) fazem em Blakroc é a produção inversa. A matriz é roqueira, as guitarras têm a rugosidade que associamos aos discos da dupla, e as batidas vêm depois. Assim como as vozes de Ludacris, RZA, Q-Tip e outras. Assim resulta, para mim. Há o punch de tipo Led Zeppelin embrulhado com uma atitude desafiadora contemporânea. O todo faz corpo. Não existem partes que soam a corpos estranhos. Até parece que os músicos envolvidos foram criados a escutar as mesmas coisas, e se calhar até foram.
Exemplo prático:
Zeppelin
+
Blakroc (ver no You Tube)
2.14.2012
It's not the pale moon that excites me
That thrills and delights me, oh no
It's just the nearness of you
It isn't your sweet conversation
That brings this sensation, oh no
It's just the nearness of you
When I'm in your arms and
I feel you so close to me
All my wildest dreams come true
I need no soft lights to enchant me
If you'll only grant me the right
To hold you ever so tight
And to feel in the night the nearness of you
Voz: Jo Stafford
Honest Mark
Uma entrevista honesta com Mark Lanegan. Muitas perguntas sobre primeiras vezes, o que pode ser irritante. Ele não se irrita. Parece pacificado com os seus demónios: alguns tornados públicos. Não lhe interessa mexer nesse passado. Será a isso que um título como Blues Funeral faz alusão?
Crepúsculo dos deuses
Decorria o período em que os Stones gravavam onde Keith Richards montava residência. Tal como no colosso Exile on Main St. (1971) não se notam marcas culturais da costa francesa, também é irrelevante para o som de Goats Head Soup (1973) a contagiante música da Jamaica. Chegava ao fim a série de grandes discos dos Rolling Stones; para a frente, de significativo, talvez apenas Some Girls e Tattoo You (dizem os conhecedores). Os Beatles haviam encerrado para balanço eterno em 1970; os Led Zeppelin nada de monumental dariam ao mundo na segunda metade da mesma década. Era o crepúsculo dos deuses, faltava quem espicaçasse os Stones para fazer grande música, e só o prazer de tocar ao vivo, de manter a pedra a rolar, explica a sua longevidade. Isso e claro que o prazer ainda maior de voltar a bluesadas e roqualhadas que não se hão-de esgotar.
2.13.2012
Dois em Sá
Fim de caminho
Quando comecei a escutar Joan Manuel Serrat o pai de um amigo era das poucas pessoas que eu sabia que apreciavam o músico catalão. Nunca chegámos a falar sobre ele e agora a ocasião não mais se irá proporcionar. Chegou ao fim do caminho. Que descanse em paz.
2.10.2012
Escrito nas nuvens
Entre Nuvens Passageiras e Le Havre há uma diferença de 15 anos. São as nuvens que passam, o tempo que passa, tudo o que passa. E tudo passa. Só o cinema de Kaurismäki se mantém onde sempre esteve. A olhar para as nuvens na esperança que algo mude.
Não vi Le Havre nem é preciso para dizer que gosto muito.
O Sherlock português
Sempre que vejo Jeremy Brett, o Sherlock Holmes que fica para a eternidade, me lembro do actor português João Grosso. Uma associação imediata que ocorreu da primeira vez sem qualquer intervenção racional no processo. De semelhanças físicas ficamos conversados. Deve ter a ver com a rigidez e elegância com que a personagem de Conan Doyle se desloca, a elevação que usa quando fala, algures entre a pompa e o paródico. O Sherlock de Brett, como aliás muitas das figuras distribuídas por diferentes episódios, trazem a postura e a loquacidade que têm raízes no teatro. João Grosso é alguém que valoriza essa tradição, que no essencial não difere de país para país. Se houvesse um Sherlock português talvez João Grosso tivesse ganho a eternidade. Mera dedução.
Nunca mais esquecer
2.09.2012
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