3.17.2011

Príncipe entre os fabulosos




















Existe uma pulsão irracional, utópica, no cinema de Jean-Claude Brisseau, que caso estejamos do lado dos filmes não devemos tentar segurar. O início de Les Savates du Bon Dieu (1999) é um reconhecimento da influência do primeiro Godard em Brisseau. A música de Jean Musy cita a partitura de Georges Delerue para Le Mépris, a montagem sincopada, de cortar a respiração, traduz em dois ou três planos o amor de Fred (Stanislas Merhar) por Elodie (Coralie Revel). Ele é generoso (isto não é necessariamente bom), ela é calculista (isto não é necessariamente mau). Lição número um, se extrapolarmos para os géneros masculino e feminino. Lição número dois: devemos fazer aquilo que sabemos fazer bem e termos orgulho nisso. Lição do filme: nunca nos resignarmos a uma vida servil em nome do que nos ensinaram ser correcto – aos olhos da religião, da cultura –, porque "deus" pode falhar o nosso encontro. Generosidade, utopia, liberdade. Todos os filmes de Jean-Claude Brisseau se abrem à imaginação, ao desejo e à poesia. É um cinema que recupera a vida, liberto das convenções que constituem uma vida imposta.



















une orange sur la table
ta robe sur le tapis
et toi dans mon lit
doux présent du présent
fraîcheur de la nuit
chaleur de ma vie
Porque mesmo se formos príncipes na vida, no amor não passamos de escravos. Jean-Claude Brisseau é fabuloso, no sentido ficcional do seu cinema e na grandiosidade das pulsões por ele expressas.

Arquivo do blogue