3.31.2011
Transmission (1979)
The things that we've learnt are no longer enough
No language, just sound, that's all we need know, to synchronise
love to the beat of the show
And we could dance
Dance, dance, dance, dance, dance, to the radio
O mundo está sempre a acabar
A Cinemateca mostrou ontem na sala pequena Radio On (1979) de Chris Petit. Mitologia pop rock e existencialismo punk convergem neste filme de estrada entre Londres e Bristol, que reproduz alguns traços da obra do aqui produtor Wim Wenders, a atravessar por esta altura o seu melhor período: entre 1974 (Alice nas Cidades) e 1984 (Paris, Texas). À superfície o filme de Petit pode parecer datado, as imagens e a música são produto de uma época muito específica. Incomunicabilidade, desorientação e cenários urbano-depressivos tingidos por uma gama contrastada de cinzentos. O mundo actual não está muito diferente disto, apenas insistem em distrair-nos com a agitação garrida da realidade simplificada e pronta a consumir. Quase ninguém arrisca pôr-nos a olhar para dentro de nós, arquivo de tempos mortos e do vazio relacional. O mundo termina todos os dias e quem lhe procura os limites acaba fazendo a manobra de retorno. Como dizia o Morrison, daqui ninguém sai vivo.
3.30.2011
3.29.2011
No extremo do extremo
Se existe disco mais extremo que Monotheist (2006), continuarei atento aos indícios. O poder dos Celtic Frost foi atingido por um princípio de total concentração. Isto aplica-se quer às palavras como aos sons. O exemplo das palavras: "Frozen is heaven and frozen is hell/ And I am dying in this living human shell/ I am a dying God, coming into human flesh". Não é tanto a ritualidade do sentido que importa, mas o peso acumulado das palavras utilizadas. O sentido primordial do conjunto significante menos que o impacto de cada uma delas em separado. Assim nos atingem os riffs lentos dos Celtic Frost que parecem chegar de algum lugar ou de um tempo longínquos e profundos. Um disco como Monotheist põe-me em sentido. É música que produz eco numa zona remota dentro de mim, que faz apelo a forças que não consigo racionalizar, e que por aquilo que revela suscita-me um respeito extremo.
Esperar o inesperado
3.28.2011
Resultados
Isto é tudo muito triste. Para quem votou na lista de Bruno de Carvalho, a sensação que fica é de ter perdido o jogo em tempo de descontos e com razões de queixa da arbitragem. A gravidade é que pode ser máxima. O clima de desconfiança instalou-se, a imagem para o exterior é de divisão e balbúrdia, a liderança vai distribuir-se por um grupo de vaidosos. É preciso jogarmos muito à bola para voltar a manter as aparências. Para apaziguar os ânimos. Para que os sportinguistas não se continuem a mandar uns aos outros "pró caralho". Não consigo sentir esperança. Estou apenas triste.
3.25.2011
Amanhã votamos
Bruno de Carvalho foi, tal como Sérgio Abrantes Mendes, um candidato que não pôs o discurso à frente das acções de campanha. Com uma diferença: Abrantes Mendes nada prometeu e nada concretizou, e Bruno de Carvalho concretizou tudo aquilo de que falou. A demagogia fica para as restantes três candidaturas. Pensem nisto.
O meu projecto é apoiado num modelo de negócio muito concreto, apesar das pessoas só falarem no fundo para o futebol. Ele é muito mais do que isso. Para ficar claro, o meu modelo de negócio apoia-se claramente no investimento em jogadores, com o risco diluído por parte dos investidores e as mais-valias, repartidas em 60 por cento para o Sporting e 40 por cento para os investidores, mas apoia-se igualmente, para a sustentabilidade financeira, na agregação do universo leonino, com os respectivos aumentos das quotizações, da fidelização dos sócios, vendas de gameboxes, de bilhetes para os jogos, numa política de estádio sempre cheio. Para tal, é fundamental o regresso do sonho aos sportinguistas, dos títulos, das conquistas, e renegociar, olhos nos olhos, com os parceiros e credores. Para um parceiro nosso meter publicidade no estádio, será diferente ter dez mil pessoas ou o recinto cheio. O nosso modelo de negócios implica um Sporting novo.
[leia o resto da entrevista com Bruno de Carvalho hoje no Público]
3.24.2011
Como as coisas se fazem (dois)
Só a queda do governo menorizou os estragos dirigidos à candidatura de Bruno de Carvalho. Reparem na pequenina chamada de capa: "Carvalho falha negócio russo". Trata-se do diário mais lido no país, qualquer sportinguista que se limite a uma passagem de olhos fica logo com a ideia de que "o fundo já era". Ao avançarmos para o miolo do jornal tomamos conhecimento de um negócio irrelevante para esta campanha e para o candidato visado (nas actuais circunstâncias), que terá sido tratado em 2006 e transferido na sua concretização de Lisboa para o Algarve. É muito baixo o jogo de quem procura descredibilizar o candidato Bruno de Carvalho. São os sportinguistas, entre eles, com a conivência do jornalismo influenciável, a revelarem a mesma sanha dos partidos políticos. Há gente agarrada ao protagonismo e aos favorecimentos que os cargos principais no Sporting permitem, que estão dispostos a tudo para conspurcar o carácter de quem se lhes oponha. Que isto possa ser orquestrado por um benfiquista é a suprema das ironias.
Como as coisas se fazem
Esta é a pequena história do meu fracasso no marketing político. Em 2004 eu trabalhava para a agência que viria a fazer a campanha que opôs Santana Lopes a José Sócrates (legislativas de 2005). Para os profissionais brasileiros vale tudo quando se está em campanha, e nesse tudo coube a criação do blogue Portugays onde mais do que se insinuou a homossexualidade do candidato socialista. Não satisfeitos com isto, que a imprensa portuguesa da altura ainda mal espiolhava a blogosfera como depois veio a fazer, um dos marqueteiros melhor relacionados com os jornais do Brasil pediu a um camarada que colocasse uma notícia dando conta da alegada ligação entre Sócrates e Diogo Infante que, como é óbvio, passou para a imprensa deste lado do Atlântico.
Esta sucessão de tristes episódios ocorreu-me a propósito da notícia veiculada num orgão de comunicação italiano que dá conta do desejo de Marco van Basten de treinar a Fiorentina. A mesma foi arremessada ao candidato Bruno de Carvalho pelo seu adversário Pedro Baltazar (administrador de uma agência de planeamente de media e publicidade), em debate na SportTv a que não assisti, e o Record dá conta que «Carvalho refutou, acusando Baltazar de “colocar” notícias nos jornais». Baltazar tem na sua lista Pedro Santana Lopes, o que será por certo a única coincidência de todo este imbróglio.
Esta sucessão de tristes episódios ocorreu-me a propósito da notícia veiculada num orgão de comunicação italiano que dá conta do desejo de Marco van Basten de treinar a Fiorentina. A mesma foi arremessada ao candidato Bruno de Carvalho pelo seu adversário Pedro Baltazar (administrador de uma agência de planeamente de media e publicidade), em debate na SportTv a que não assisti, e o Record dá conta que «Carvalho refutou, acusando Baltazar de “colocar” notícias nos jornais». Baltazar tem na sua lista Pedro Santana Lopes, o que será por certo a única coincidência de todo este imbróglio.
3.23.2011
Leões avisados (dois)
“Factor russo” na eleição do presidente do Sporting Clube de Portugal” por José Milhazes
Como adepto do Varzim Sport Club, estou à vontade para falar do famoso “factor russo” na eleição do presidente do Sporting Clube de Portugal, pois não estou preocupado em saber qual dos candidatos irá vencer.
Decidi colocar aqui uma postagem sobre o tema, pois acompanhei intensamente a passagem de um dos candidatos, no caso Bruno Carvalho, por Moscovo, onde veio apresentar o grupo de investidores russos.
Além disso, recebi alguns mails de sócios do Sporting a tentarem saber mais pormenores. Eram muitos aqueles que esperavam que se tratava de um forte “bluff” na luta pela presidência do Sporting.
Mesmo depois de eu ter enviado vários serviços para a Lusa, para a SIC e para a RDP após a apresentação do fundo russo por Bruno Carvalho, um camarada jornalista de um órgão de informação português telefonou-me para confirmar se realmente eu tinha visto em pessoa Leonid Tiagatchov, Alexandre Nazarov e Iúri Passetchnik. Respondi que “não só vi, mas cumprimentei e conversei com eles”. Sublinhei que “eles realmente existem”.
Tendo em conta o curriculum vitae dos potenciais investidores no Sporting caso Bruno Carvalho, não duvido da capacidade deles conseguirem arranjar 50 milhões de euros.
Numa conversa com um homem que trabalhou durante muitos anos com Tiagatchov no Comité Olímpico da Rússia, ele disse-me: “Tiagatchov pode não ter no bolso 50 milhões para investir no Sporting, mas tem tantas ligações a nível de ministros, oligarcas e políticos, que não terá dificuldade em arranjar essa quantia”.
“Num país onde há mais de 100 bilionários, 50 milhões de euros são trocos”, acrescentou.
E não posso deixar de concordar com ele. Quero recordar que a transferência do médio português Danny do Dínamo de Moscovo para o Zenith de São Petersburgo custou “apenas” 30 milhões de euros.
Sinceramente falando, pareceu-me que o fundo russo não avança com mais dinheiro, pois espera para ver como irão correr as coisas.
Claro que os mais curiosos gostariam de saber se a proveninência é limpa ou não e não querem que eu repita o ditado latino: “o dinheiro não cheira!”, mas apenas posso dizer que isso é tarefa que deve ser resolvida pelas autoridades portuguesas competentes.
A nós, jornalistas, cabe a tarefa de informar o mais pormenorizadamente possível os leitores sobre as pessoas ou empresas envolvidas em operações deste tipo, o que eu tentei fazer, o resto caberá aos órgãos sociais do Sporting que deverão controlar as contas, bem como à polícia, se for caso disso.
Os investidores russos sublinharam várias vezes que os contactos foram estabelecidos e acompanhados pela Embaixada da Rússia em Lisboa, acrescentando que decidiram avançar depois de receberem informações dos diplomatas russos sobre Bruno Carvalho.
Segundo eles, os contactos entre Bruno Carvalho e os russos já tem mais de dez anos.
Resumindo, independentemente do candidato que vença, desejo votos de muitos êxitos ao clube, espero que esteja representado nas competições europeias e venha jogar muitas vezes à Rússia. [novamente daqui, sublinhados meus]
Como adepto do Varzim Sport Club, estou à vontade para falar do famoso “factor russo” na eleição do presidente do Sporting Clube de Portugal, pois não estou preocupado em saber qual dos candidatos irá vencer.
Decidi colocar aqui uma postagem sobre o tema, pois acompanhei intensamente a passagem de um dos candidatos, no caso Bruno Carvalho, por Moscovo, onde veio apresentar o grupo de investidores russos.
Além disso, recebi alguns mails de sócios do Sporting a tentarem saber mais pormenores. Eram muitos aqueles que esperavam que se tratava de um forte “bluff” na luta pela presidência do Sporting.
Mesmo depois de eu ter enviado vários serviços para a Lusa, para a SIC e para a RDP após a apresentação do fundo russo por Bruno Carvalho, um camarada jornalista de um órgão de informação português telefonou-me para confirmar se realmente eu tinha visto em pessoa Leonid Tiagatchov, Alexandre Nazarov e Iúri Passetchnik. Respondi que “não só vi, mas cumprimentei e conversei com eles”. Sublinhei que “eles realmente existem”.
Tendo em conta o curriculum vitae dos potenciais investidores no Sporting caso Bruno Carvalho, não duvido da capacidade deles conseguirem arranjar 50 milhões de euros.
Numa conversa com um homem que trabalhou durante muitos anos com Tiagatchov no Comité Olímpico da Rússia, ele disse-me: “Tiagatchov pode não ter no bolso 50 milhões para investir no Sporting, mas tem tantas ligações a nível de ministros, oligarcas e políticos, que não terá dificuldade em arranjar essa quantia”.
“Num país onde há mais de 100 bilionários, 50 milhões de euros são trocos”, acrescentou.
E não posso deixar de concordar com ele. Quero recordar que a transferência do médio português Danny do Dínamo de Moscovo para o Zenith de São Petersburgo custou “apenas” 30 milhões de euros.
Sinceramente falando, pareceu-me que o fundo russo não avança com mais dinheiro, pois espera para ver como irão correr as coisas.
Claro que os mais curiosos gostariam de saber se a proveninência é limpa ou não e não querem que eu repita o ditado latino: “o dinheiro não cheira!”, mas apenas posso dizer que isso é tarefa que deve ser resolvida pelas autoridades portuguesas competentes.
A nós, jornalistas, cabe a tarefa de informar o mais pormenorizadamente possível os leitores sobre as pessoas ou empresas envolvidas em operações deste tipo, o que eu tentei fazer, o resto caberá aos órgãos sociais do Sporting que deverão controlar as contas, bem como à polícia, se for caso disso.
Os investidores russos sublinharam várias vezes que os contactos foram estabelecidos e acompanhados pela Embaixada da Rússia em Lisboa, acrescentando que decidiram avançar depois de receberem informações dos diplomatas russos sobre Bruno Carvalho.
Segundo eles, os contactos entre Bruno Carvalho e os russos já tem mais de dez anos.
Resumindo, independentemente do candidato que vença, desejo votos de muitos êxitos ao clube, espero que esteja representado nas competições europeias e venha jogar muitas vezes à Rússia. [novamente daqui, sublinhados meus]
Leões avisados (um)
“Credibilidade junto à banca, para que serve?” por Zé Diogo Quintela
Nos últimos anos, sempre que se fala numa alternativa para dirigir o Sporting, torce-se o nariz e diz-se que não dá porque o putativo candidato não tem “credibilidade junto da banca”.Muitos sócios votaram em José Eduardo Bettencourt porque lhes foi garantido que a banca só emprestava dinheiro ao Sporting se o presidente fosse JEB, um gestor competente com “credibilidade junto da banca”.
Sucede que JEB não era competente. Viu-se ao longo do mandato (seria fastidioso enumerar os exemplos) e confirmou-o a própria banca, por José Maria Ricciardi, que disse que o dinheiro foi mal gasto no mandato de JEB.
Apesar de o presidente não ser competente e de a banca saber disso, a verdade é que continuou a haver dinheiro para o Sporting (o tal dinheiro que foi mal gasto).
Donde se conclui que:
a) afinal, a competência do presidente do Sporting é indiferente para que a banca empreste dinheiro ao clube;
b) a banca é má avaliadora da competência dos gestores;
c) a “credibilidade junto da banca” não garante nada;
Depois das gestões com “credibilidade junto da banca” de Soares Franco, de JEB e de Nobre Guedes, julgo que é altura de colocar a questão a montante. E a questão não é tanto da credibilidade que alguém tem junto à banca, mas antes a credibilidade que a banca tem junto a nós. E que credibilidade pode conferir um aval passado por uma instituição que provou não ter, ela própria, credibilidade? Conhecendo o historial da banca nos últimos anos e o seu papel na crise, o facto de se querer a opinião da banca é, já de si, um mau princípio. É como aconselhar-se junto das trabalhadoras do Elefante Branco sobre a seriedade de uma namorada.
Reparem como a banca apoia a lista de Godinho Lopes que tem Nobre Guedes, um dos responsáveis pela má gestão anterior, e Paulo Pereira Cristóvão, que há dois anos era o candidato contra quem a banca avisava os sócios, por não ter a tal credibilidade junto de si. A prova de que a banca, além de credibilizar, redime. Pelos vistos, se os banqueiros usassem mitra, a banca era a Igreja Católica.
A “credibilidade junto da banca” não só é negligenciável como chega a ser prejudicial, porque indicia à partida que podemos estar na presença de um gestor que não só não é melhor do que outro sem “credibilidade junto da banca”, como até pior para o Sporting.
É que já se percebeu que o que granjeia “credibilidade junto da banca” são decisões do tipo venda de Moutinho ao rival Porto; venda de Liedson; não renovação de Derlei e posterior contratação de Caicedo; sentar-se ao lado de Pinto da Costa depois de ser achincalhado de toda a forma e feitio; e outras do mesmo estilo. A banca confere credibilidade é a esta forma desastrosa de gestão.
Se Bruno Carvalho não tem “credibilidade junto da banca”, nomeadamente este tipo peculiar de “credibilidade” junto a este tipo específico de “banca”, para mim é só mais uma razão para votar nele. [daqui, sublinhados meus]
3.22.2011
Choque de trovões
3.21.2011
Amigos prá vida
There’s a depressing line in the film about still “having to jerk off even though you’re married.” Is the greater message of the film “Hey, teenager, don’t think you’re going to stop masturbating when you become an adult”?
Peter: [Laughs] Well, I think the sooner that you get over that fact the happier you’re going to be. I remember being like 18 thinking this is terrible, I shouldn’t be jerking off at this point. I should have stopped at 15! What is wrong with me? Now I’m in my 50s and still going away at it. It doesn’t end. Nice image for the readers. When you’re a kid you think that once you get married, certainly, you’ll never have to do that again. But, you know, what you find out is that it’s not out of necessity, sometimes it’s out of… (daqui)
Estreia esta 5ª feira.
Com os holandeses
Não quero as caras e as influências do costume. Quero acreditar que posso ser surpreendido.
Uma das candidaturas à presidência do Sporting cedo avançou com o primeiro holandês. Eu que nos últimos anos, sempre que abre vaga no comando técnico da minha equipa, anseio por Co Adriaanse, fiquei na expectativa de perceber se Frank Rijkaard representa uma proposta de renovação do futebol do Sporting. Para que tal venha a suceder, entendo que melhor que entregar a equipa a um holandês, é vê-la comandada por dois holandeses. O "sinal" chegou em noite "azarada" frente à União de Leiria. Outro candidato apresentava Marco van Basten como seu treinador, e não confirmava ainda Mitchell van der Gaag na função de adjunto. Acreditem-me, se quiserem: van der Gaag é a chave. Pode ser que desta vez seja bendita a intuição. Considerar que posso pressentir o carácter e o profissionalismo de alguém através de impressões distantes e breves. São as que tenho. E é baseando-me nelas que voltarei a decidir. Sábado próximo o meu voto vai para Bruno de Carvalho. A dupla por ele escolhida antecipa disciplina e exigência, e uma mudança no futebol leonino que não podia ser alcançada com portugueses (que respeito). Não quero as caras e as influências do costume. Quero acreditar que posso ser surpreendido. Por uma vez vou correr esse risco. Com os holandeses.
3.18.2011
3.17.2011
Príncipe entre os fabulosos
Existe uma pulsão irracional, utópica, no cinema de Jean-Claude Brisseau, que caso estejamos do lado dos filmes não devemos tentar segurar. O início de Les Savates du Bon Dieu (1999) é um reconhecimento da influência do primeiro Godard em Brisseau. A música de Jean Musy cita a partitura de Georges Delerue para Le Mépris, a montagem sincopada, de cortar a respiração, traduz em dois ou três planos o amor de Fred (Stanislas Merhar) por Elodie (Coralie Revel). Ele é generoso (isto não é necessariamente bom), ela é calculista (isto não é necessariamente mau). Lição número um, se extrapolarmos para os géneros masculino e feminino. Lição número dois: devemos fazer aquilo que sabemos fazer bem e termos orgulho nisso. Lição do filme: nunca nos resignarmos a uma vida servil em nome do que nos ensinaram ser correcto – aos olhos da religião, da cultura –, porque "deus" pode falhar o nosso encontro. Generosidade, utopia, liberdade. Todos os filmes de Jean-Claude Brisseau se abrem à imaginação, ao desejo e à poesia. É um cinema que recupera a vida, liberto das convenções que constituem uma vida imposta.
une orange sur la table
ta robe sur le tapis
et toi dans mon lit
doux présent du présent
fraîcheur de la nuit
chaleur de ma vie
Porque mesmo se formos príncipes na vida, no amor não passamos de escravos. Jean-Claude Brisseau é fabuloso, no sentido ficcional do seu cinema e na grandiosidade das pulsões por ele expressas.
3.16.2011
3.15.2011
Toe rings
Sabiam que Teri Polo tinha posado para a Playboy (em Fevereiro de 2005)? Eu também não. Tratando-se de uma figura pública e ainda para mais, hoje em dia, de uma senhora comprometida, só mostro as fotografias menos indiscretas. As mais belas também. Aumentem as imagens e suspirem no acto de contemplar os anéis nos dedinhos em cada pé Dela. E há tatuagens para ver, mas não aqui.
3.14.2011
Um pouco vago e destilado
A dado momento do documentário Get Thrashed, alguém cujo nome não me ocorre chama a atenção para a qualidade dos músicos nórdicos, que se apresentam nos diferentes subgéneros do metal com elevado conhecimento e competência extrema. Os Grand Magus são um trio de suecos. O seu heavy metal, como a própria designação deixa implícito, é revivalista (ou clássico). As digressões com cartazes de respeito (juntaram-se recentemente aos Motörhead; agora aos Grave Digger) contribuíram para fazer aumentar o número dos que os seguem, e em Abril (dia 17) é a vez de Portugal apanhar com o Hammer of the North. E não será por aqui que se justificarão as cabeças pesadas na manhã seguinte, que o metal dos Grand Magus segue destilado. Prontos para a guerra?
Bonecas suíças
Uma fotografia da alemã Isolde Ohlbaum, obtida num cemitério em Génova, serviu a capa do Ep I Won't Dance, dos suíços Celtic Frost, que no interior do livrete da edição remasterizada e aumentada do álbum Into the Pandemonium (1987, reed. 1999), se conhece pelo design original – de inspiração Peter Saville (diferente daquele que acima se vê) – que não veio a ser usado.
O tempo que resta
Todos os encontros verdadeiramente importantes passam por esta obra-prima total e absoluta. Nas conversas sobre a relação, quando os casais se questionam sobre se devem ficar juntos ou seguir diferentes caminhos, lembro-me sempre do filme de Kasdan e faço(-lhes) a pergunta: pensem se gostam da pessoa que são quando estão um com o outro, e tirem as conclusões devidas.
3.11.2011
Heartbroken
3.10.2011
Optimus na caminha
O título do DVD, Everywhere But Home, se por um lado constata uma evidência, a de que os concertos apresentados em substância (4) aconteceram fora dos Estados Unidos (Canadá, Irlanda e Islândia), pode por outro também exprimir o desejo de regressar a casa que chega a todos os músicos que andam na estrada. Foi com isto em mente, a juntar ao comodismo e à ocasião de me ter cruzado com este registo generoso dos Foo Fighters, e ainda recuperando a feliz formulação do nosso lançador do peso, Marco Fortes, que afirmo que o Optimus Alive (os Foo Fighters são cabeças de cartaz da edição deste ano) é bom é próximo da caminha.
No sossego de casa, servido pela dinâmica e atenta realização de Maurice Linnane, servindo-me alguns shots de Jim Beam, pude receber a intensidade dos Foo Fighters no palco, concentrada, verdade seja escrita, nos dois elementos mais carismáticos: Dave Grohl, um não tão impressionante vocalista e guitarrista como quando encarna o espírito do rock atrás da bateria, e o baterista Taylor Hawkins, que não tendo os recursos e a escola de Grohl cumpre totalmente o que os temas dos Foo Fighters exigem: um balanço de cruzeiro muito Cheap Trick e um encadear de canções com energia e identificação entre elas como num concerto dos Ramones. O principal mérito do som dos Foo Fighters é a eficácia. Quando Dave Grohl quer maiores desafios nunca lhe faltou companhia para vivê-los. Um concerto dos Foo Fighters é uma festa, que graças a este DVD podemos decidir tornar privada.
[... e um pequeno extra que não faz parte do DVD, mas que motiva durante o concerto um comentário de Dave Grohl a propósito do vídeo ter sido recusado pela televisão norte-americana]:
Da empalação
Os finlandeses Impaled Nazarene tem a melhor designação que conheço para uma banda de black metal. O nome ficou no ouvido e não consigo libertar-me da versão original ou da sua tradução para português: Nazareno Empalado, imagino o que seria o som dos Nazareno Empalado, a identidade dos seus elementos e o programa" estético" destes? A verdade é que para abraçar a proposta dos Impaled Nazarene – devoção incondicional a Satanás e ódio homicida às mulheres – era necessária a total refundação da minha ligação à música. É sempre possível escutar o grupo de Mika Luttinen "minister of sexual perversions", Reima Kellokoski "minister of demonology and occult", Mikael Amkil "minister of offense", ou o meu favorito Tomi UG Ulgreen "minister of alcoholism", com distanciamento crítico e o sentido do ridículo que pedem as coisas extremas, mas seria preciso empalarem-me como ao Nazareno para que fizesse outra coisa da audição de Road to the Octagon (2010) que uma prova radical e alarvemente metafórica a superar. A superar. E a superar.
3.09.2011
Cerimónia
A partir do mínimo reconhecível de relevância, a produção e o consumo da música são actividades que implicam um propósito de afirmação. Podemos fazer ou escutar música para nos aproximarmos ou afastar dos outros. Podemos sentir idêntica necessidade de afirmação em diferentes fases da vida. Ao longo da mesma, com maior ou menor empenho, menor ou maior desespero, todos mantemos a vontade do amor recíproco, ainda que a mascaremos de muitos obstáculos e ilusões.
Os Swans "originais" eram a banda perfeita para os que gostavam de gostar de música de que poucos conseguiam gostar. Consigo identificar o sentimento porque tempos houve em que procurei este tipo de confronto e escolhi discos que, pensava eu, criavam uma barreira entre mim e o mundo (de gente frustrante e pouco confiável). Quando passei a encarar a música exclusivamente como forma de comunicar com outros a partir do sentimento já de empatia que procurei fosse sincero, aquelas bandas difíceis acabaram todas nas prateleiras de uma qualquer loja de discos em segunda mão. Alguns Swans tiveram este destino.
Passou meia década desde a edição do penúltimo álbum de estúdio da banda de Michael Gira, e os novos/velhos Swans surgem com um disco de título "smoguiano": My Father Will Guide Me Up a Rope to the Sky. Não me alongarei sobre um registo que percebe-se logo requer paciente digestão. Mas há sinais que saltam aos ouvidos, como a sofisticada construção dos ambientes sonoros sobre os quais se sobrepõe a batida marcial e apocalíptica de outrora, e também se isso for possível alguma serenidade na voz de pregador obscuro de Michael Gira: nunca assisti a um concerto dos Swans, mas vi Gira sozinho num palco e quando aquilo é para meter medo, mete mesmo medo.
Se os velhos/novos Swans se permitem ser amados de forma não tão tortuosa, e se a sua música actual irradia trevas junto com alguma pacificação ao avançar por territórios de negrume abstracto que podem sugerir passagens ou imagens de Cormac McCarthy, e talvez trocando exorcismo por resignação, é também possível da nossa parte retomar o caminho interrompido, recomeçando por este My Father Will Guide Me Up a Rope to the Sky. E degustá-lo com paciência e sem masoquismos.
Sacanas com lei
Uma das coisas que fiz com a inutilidade do Carnaval foi rever Inglourious Basterds. No geral não subi a minha apreciação primeira, embora tenha percebido melhor aquilo que gosto mais no filme de Tarantino. Daí até ao wikiFeet, ao YouTube e a este breve exemplar do namoro à francesa, foram três passinhos ágeis e silenciosos.
3.04.2011
Fugazi. O elo descoberto.
Podia passar a vida inteira a ouvir música sem que os Fugazi se atravessassem no caminho. Estes breves contemporâneos dos Pixies pugnavam por uma sonoridade similar à da banda de Black Francis (baseio-me no único álbum que conheço por enquanto; condensados de energia que frequentes vezes não passam dos dois minutos de dura acção), embora de produção "no osso", que ousou deixar de fora as costuras do seu rock-punk-indie-hardcore, tudo ao mesmo tempo. Os Fugazi existiram numa década – os anos 90 – em que me exilei por géneros musicais mais conformistas, e são recuperados hoje por grupos com som pesado e heterogéneo como os Kylesa de Spiral Shadow. A descoberta dos Fugazi devo-a a Laura Pleasants, uma das vozes e guitarras dos Kylesa. Sinto-me informado e inconformado, duplamente satisfeito:
I am a huge Fugazi fan. I remember anxiously waiting for this record to come out. I believe I bought it the day it came out, and I studied the liner notes and art relentlessly. I think, as a whole, this is their best record. I jammed this and Repeater a whole lot in high school (as with Minor Threat) …well…I jammed all of their records but this probably reminds me of high school the most….maybe this and Red Medicine Riding around in Jonathan Fuller’s old car with this blaring in the tape deck, FUGAZI was the band that got me through so much bullshit. I loved their lyrics, their punk ethic and their control of weird guitar feedback. They took their punk roots and twisted them into an angle of their own. They did everything themselves. They charged $5 for their live shows. They blew everyone away and influenced more people than most bands of their day, and they never had an interview in a major music magazine like Spin or Rolling Stone. I have so much respect for this band.
Os Fugazi, eles próprios, eram como a música que faziam. Inteligentes, não estereotipados (diz-nos por exemplo a wikipedia, citando várias fontes):
The group (MacKaye in particular) also made a point of discouraging violent, unwanted slam dancing and fistfights, which they saw as relics of the late 1970s/early 1980s hardcore punk era. Azerrad quotes Mackaye, "See, [slam dancers] have one form of communication: violence ... So to disorient them, you don't give them violence. I'd say, 'Excuse me, sir...'- I mean, it freaks them out -'Excuse me, sir, would you please cut that crap out?'" (emphasis in original) Azerrad writes, "[Mackaye's] admonitions seemed preachy to some. And by and large, people would obey - it wasn't cool to disrespect Ian MacKaye." Occasionally, Fugazi would escort an unrepentant slam-dancer from the concert, and give them an envelope containing a $5 refund (they kept a stock of such envelopes in their tour van for these occasions).
Arte povera
© &
Um seio estriado, um dragão do lado, a carpete manhosa, o sol que descobre o rosto, onde se nota a íris tricolor que vai do verde bronze à cor de mel.
(Clique na imagem para ver o que eu vi.)
3.03.2011
Yucca brevifolia
3.02.2011
Ano clássico
É tempo de recuperar os Nazareth, quanto mais não seja por este disco. O álbum datado de 1974 – não foi premeditado mas é lá que continuo, em 74 – testemunha de modo exuberante a vitalidade do rock, e torna difícil a nossa satisfação com o que quer que venha que esteja aquém disto. Da Escócia com o coração na América, a banda de Dan McCafferty não teria motivos para se sentir inferiorizada perante ninguém. Rampant é um daqueles discos essenciais, altamente contagiantes. Rock'n'roll directo e verdadeiro. Um registo com a alma no ponto exacto de ebulição.
3.01.2011
Uma questão de distância. Um metro ou dois.
(...) Caminharam pelas ruas da baixa. A outra fazia perguntas que ele só respondia à segunda vez, quando realmente as escutava. Por vezes, apercebia-se que a outra ficava para trás – um metro, dois – porque ele caminhava demasiado depressa. Então, ele parava, esperava, e retomavam a marcha até que nova distância se instalasse entre os dois.
Foi nas margens do rio que a outra resolveu parar. Ele perguntou se ela estava cansada. A outra sorriu com ironia e respondeu: "Podes dizer que sim".
Ele gelou. Desconversou: que poderiam sentar-se na esplanada, descansar, tomar um café. A outra preferiu sentar-se no cais e tirar um cigarro do bolso. Acendeu-o. Pausa longa. E depois disse-lhe: "Quero apenas que me leves à estação, por favor".
Ele gelou novamente. E desconversou novamente: que se passava, perguntou, acontecera alguma coisa? Ele fizera alguma coisa?
A outra recusou-se a comentar o óbvio. Olhou-o apenas com desprezo e murmurou: "É pena que não tenhas reparado que fui eu quem veio ter contigo".
Ele olhou para ela pela primeira vez naquela tarde, pela primeira vez em todas as tardes, como se a frase o tivesse despertado. Havia uma presença real ao lado dele; uma presença discreta, e também por isso discretamente bela, que fumava às pressas para não chorar.
Ele sentia vergonha e nada disse. E também ternura e também desejo. A outra levantou-se e, sem esperar por ele, caminhou para o carro. Ele seguiu-a – um metro, dois metros atrás dela. (...)
Para ler o resto do conto é favor dirigir-se ao autor.
Foi nas margens do rio que a outra resolveu parar. Ele perguntou se ela estava cansada. A outra sorriu com ironia e respondeu: "Podes dizer que sim".
Ele gelou. Desconversou: que poderiam sentar-se na esplanada, descansar, tomar um café. A outra preferiu sentar-se no cais e tirar um cigarro do bolso. Acendeu-o. Pausa longa. E depois disse-lhe: "Quero apenas que me leves à estação, por favor".
Ele gelou novamente. E desconversou novamente: que se passava, perguntou, acontecera alguma coisa? Ele fizera alguma coisa?
A outra recusou-se a comentar o óbvio. Olhou-o apenas com desprezo e murmurou: "É pena que não tenhas reparado que fui eu quem veio ter contigo".
Ele olhou para ela pela primeira vez naquela tarde, pela primeira vez em todas as tardes, como se a frase o tivesse despertado. Havia uma presença real ao lado dele; uma presença discreta, e também por isso discretamente bela, que fumava às pressas para não chorar.
Ele sentia vergonha e nada disse. E também ternura e também desejo. A outra levantou-se e, sem esperar por ele, caminhou para o carro. Ele seguiu-a – um metro, dois metros atrás dela. (...)
Para ler o resto do conto é favor dirigir-se ao autor.
Purple crush
Em 1974 os Led Zeppelin encontravam-se entre Houses of the Holy e o Physical Graffiti, os Lynyrd Skynyrd avançavam com Second Helping, e os canadianos Rush traziam escancarada a matriz roqueira que lhes fervia nas veias. Partiam com atraso mas dispostos a dar nas vistas. Foi o que aconteceu (até hoje).
Dormir com mulheres deve ser bom
© Franklin Obregon
(...) Sleeping with women is like dessert. They look so pretty and are presented so well you just can't say no no matter how full you are. They are sweet, indulgent, can be enjoyed for hours. If they're simple they are clean and comforting, if they are mutli-layered they are complex and interesting, either way they are delicious and indulgent and so satisfying when you have them you don't need them all the time. Still, they're so appealing I've never been able to turn them down. (Tiah Delaney)
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