1.15.2010

Anjos caídos


























Na minha opinião, nem o talento nem a beleza de Benjamin Biolay sofrem contestação. Ele traz para o presente a aura de artista maldito de um Serge Gainsbourg, sendo menos brilhante que este mas compensando no invólucro com um charme mais universal. Gainsbourg era um personagem infinitamente mais rico que Biolay, que no entanto tem um magnetismo sexual de maior correspondência. Isto gera preconceitos nos que se pronunciam sobre a sua música. A obra é desequilibrada. O excesso, sempre o apelo do excesso. A megalomania onde ambos se encontram. Mesmo assim, Benjamin Biolay produz bastante menos. Os tempos actuais são propícios a uma erosão demorada, que por outro lado nos consome mais tempo. Viver consome mais tempo. E uma ausência torna-se menos notada pelo excesso de presenças. Biolay tem pelo menos três bons discos com alguns momentos notáveis em todos eles. La Superbe, um duplo-CD, é o mais recente. De cada vez que o ouço descubro novos motivos de interesse. O spleen de Biolay contém cada vez mais elementos de uma realidade mesquinha que é património da humanidade. Por mais aventuras amorosas que lhe colem à imagem, e por outras tantas conquistas que ele possa (orgulhosamente ou não) ostentar, o homem que canta em La Superbe é um indivíduo profundamente só. Um anjo caído nosso semelhante. Apenas até ver diferente porque mais belo. Mas como dizia Gainsbourg, a vantagem dos feios é que a sua fealdade dura para sempre.

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