5.12.2009

Tiazinhas
























O novo disco de Caetano (não mais Veloso) com a bandaCê, Zii e Zie, começa por ser mais interessante do ponto de vista do som, depois do ritmo, e só depois da lírica. Gosto bastante do modo como os instrumentos são captados, que contribui para a atmosfera de carcaça largada a céu aberto onde o alinhamento de treze músicas se vai equilibrando. Zii e Zie joga-se na linha de fronteira onde o “transamba” encontra o “transrock”, e a modernidade do disco é definida pela cadência afro-brasileira à qual é sobreposta a electricidade saturada das guitarras e do piano Rhodes. A animosidade de Caetano para com o sexo feminino também surge pulverizada, e isso favorece Zii e Zie relativamente ao anterior , fazendo-o deslocar-se da quezília pessoal por demais evidente, na direcção da genérica e ancestral incompatibilidade dos géneros (há mesmo um tema, pedido de empréstimo a João Bosco, que se chama justamente Incompatibilidade de Gênios, onde Caetano canta, “Se eu dou (ai, se eu dou)/ Um pulo, um pulinho, um instantinho no bar/ Bastou/ Durante dez noites me faz jejuar”). O génio – no sentido do talento e não já do feitio – de Caetano tem-se manifestado nas suas consecutivas metamorfoses. Ele sempre foi e será um “transcaetano”, preparado para escapar para onde não prevemos, operando ligeiras mutações entre guinadas significativas, para diante ou para trás numa discografia que é todo um universo: a última das quais produzida com Noites do Norte, e a sua aproximação a um som enxuto no concreto dos sons e das palavras, no imediato do ataque das percussões e dos riffs eléctricos. Não acho que o formato bandaCê dê mostras de esgotamento. Penso pelo contrário que nos apercebemos aqui do potencial que há para estender. Se ousar o vaticínio, diria que Caetano andará pelos “transambas” e “transrocks” alguns anos ainda. Caetano trocou o charme pela rebeldia, coisa que assalta o ouvido.

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