5.19.2009

Kicking and screaming



















Pude comprovar, mais de vinte anos depois, como The Karate Kid continua a ser um filme central na minha relação com o cinema e, por extensão, com a vida. Percebo isso quando antecipo o que vai acontecer nos pormenores e nas emoções já menos intensas, umas a seguir às outras. Há linhas de força neste filme de John G. Avildsen (realizador do Rocky original, que The Karate Kid plasma em versão juvenil) que se prolongam, por exemplo, até ao recente Gran Torino, de Clint Eastwood: pensem na relação que se estabelece entre o senhor Miyagi e Daniel, e na de Walt (Eastwood) com o jovem vizinho hmong, no fortalecimento da tenra fibra dos mais novos por intermédio de trabalhos vários cujo sentido de início eles não percebem, e no modo como a ligação de contornos paternais é forjada não isenta de atritos próprios da diferença de gerações, e decorrentes do coração endurecido dos mais velhos. Como se a amizade mais difícil de alcançar fosse a mais verdadeira de todas. Como se qualquer lição de vida obrigasse a uma dor por via da prática. Se reconheço hoje por que razão The Karate Kid foi filme que nunca esqueci, e dos que vi repetidas vezes na adolescência, é porque em grande medida permaneço a pessoa que fui, tão sensível como dantes aos temas que o filme convoca: da paixoneta interclassista (plausível para quem viveu em Cascais e frequentou todo o tipo de meios), há necessidade de afirmação, e de conquista do respeito dos outros. Mas posso também supor que o sortilégio motivado por The Karate Kid decorre do facto de não ter dado nunca o pontapé acompanhado do grito definitivamente libertadores. Agora psicanalizem-me.

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