5.28.2009
Olha lá
Isto é redundante para quem esteja a par da minha primeira semana de estada no Facebook, mas vai assim mesmo. Não escondi que a adesão à tal rede social tinha por objectivo divulgar cada uma das etapas que, espero, tenham por desfecho o concerto de Marcelo Camelo, em Lisboa, no dia 5 de Agosto. Faço o que posso, costurando uma rede de contactos que permita tão auspiciosa reunião. Camelo, várias vezes ressalvei, fez parte dos Los Hermanos, grupo rock brasileiro que durou uma década e terminou no topo sem alarido. Os dois cérebros protagonistas, Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante, estão activos e recomendam-se. Há pelo menos 300 pessoas que já compraram o CD Sou, de Marcelo Camelo, entre Janeiro e Maio, em alguma das Fnac, informação oficial com selo de garantia. O disco de Camelo demarca-se em parte do som Los Hermanos, mais intenso e rebelde, fixando-se num impressionismo musical que tem tanto de cosmopolita como de naturalista. Marcelo Camelo compõe com o mesmo grau de sofisticação literária e musical que usava nos Los Hermanos, trocando muita de electricidade por um pendor acústico e por uma estética que não se encerra. As canções são maravilhosas, e pairam como imagens que nunca se revelam totalmente (impressões, memórias, esquiços, vocês percebem onde quero chegar). Uma doçura lúcida que espero o público de Lisboa possa encontrar em Agosto, e com todo o destaque que um talento como o de Marcelo Camelo justifica. Eu até achava que exagerava, mas vozes amigas confirmam o meu entusiasmo. Isto é tão bom quanto eu acredito que seja. Mantenham-se por aqui, e não se aborreçam. Em Agosto a festa é nossa.
5.26.2009
Em que estás a pensar?
Quando hoje almoçava, e alguém a meu lado comia uma cabeça de garoupa, lembrei-me de João Bénard da Costa.
[e isto é uma forma de traição ao Facebook; é verdade, também já lá estou].
[e isto é uma forma de traição ao Facebook; é verdade, também já lá estou].
Onde, onde, onde!
Onde está o Wally, e já agora o Moreno, o Rodrigo, o Domenico, o Kassin, o Sá, e o resto?
Resposta: dias 4 e 5 de Julho no anfiteatro ao ar livre da Gulbenkian.
5.25.2009
5.23.2009
A nuvem no entanto movia-se
À mesma hora a que os cine-filhos e cine-netos de Bénard da Costa começavam a despedir-se do Johnny Guitar na Cinemateca, eu atravessava para o Barreiro, com dois amigos, num catamarã da Soflusa. A actuação de William Basisnki teria início com longo atraso já próximo da uma da manhã, depois das escusadas primeira e segunda partes habituais neste tipo de eventos. Basinski surgiu na frente de uma tela onde se projectava a imagem de um céu azul-violeta e de uma nuvem cor-de-rosa, aparentemente imóvel. Muito lentamente o drone que percorreria a hora de actuação do norte-americano insinuava-se na plateia de quarenta pessoas, não mais que isso. Estávamos na primeira fila, e pude notar todos os movimentos de Basinski, da troca de fitas magnéticas usadas na sobreposição dos loops, às suas poses estudadas, de mão no quadril, enquanto observava, concentrado, o resultado daquele labor. A música que saía do laptop junto com o gravador de fita magnética era puro Basinski: serena, melancólica, espalhando-se pela sala que muito lentamente se apercebia de que a imagem do céu e da nuvem afinal se movia. Quase imperceptivelmente, se procurássemos fixarmo-nos nela. Dir-se-ia que evoluindo em tempo real. A actuação de William Basinski permitiu observar o modo como a sua música se forma, num quadro sonoro impressionista onde os loops se misturam vagarosamente, e qualquer nuance resulta num desafio para os ouvidos mais atentos. Total imersão, que suscitou o comentário irónico de Basinski, no final, quando se ouviam os escassos aplausos, surpreendido com o facto de termos conseguido saber das nossas mãos (após tão demorado mergulho afásico).
5.22.2009
10 anos
Bom, para comemorar, esses 10 anos de união da gente, pô obrigado prá caralho prá vocês. Vocês são a melhor plateia do planeta. Cada um de vocês que está com a gente desde sempre, do coração de vocês. Obrigado, porra, obrigado.
Marcelo Camelo dirigindo-se ao público da Fundição Progresso, segundos antes de a casa ameaçar poder vir abaixo.
5.21.2009
Der himmel über Las Vegas
Pode-se olhar para Leaving Las Vegas de Mike Figgis como para um sonho ou um pesadelo. O filme é a fantasia hiper-romântica sobre dois seres que o mundo deixou para trás ("Have you ever had the feeling/ That the world's gone and left you behind"), ou então que sucumbiram aos acontecimentos das suas vidas. A cidade de Las Vegas, que tem sempre aquela irrealidade dos néones e das noites que parecem não acabar nunca, funcionará como purgatório (parte inferno, parte paraíso, a dicotomia é a constante do filme) para o "vampiro" Ben e para o "anjo" Sera, que se encontram no desamparado das suas existências, e que irão celebrar um pacto: ele prosseguirá como o plano de se suicidar garrafa após garrafa, e ela continuará a prostituir-se tal como fazia antes de o conhecer. As lógicas de cada um não serão comprometidas pelo facto de passarem a ter uma história comum. Pelo menos até que um dos dois morra. Assim, o penúltimo fôlego de Ben será o primeiro que dá "dentro" de Sera. O derradeiro testemunho dela para a câmara (para nós) é uma declaração de amor que abre perspectivas de ruptura com a sua auto-condenação. A mulher do sonho sobrevive ao homem, e o pesadelo termina. Em matéria “crepuscular” o meu coração não vai além disto.
5.20.2009
Arte conceptual
Nicotine, valium, vicodin, marijuana, ecstasy and alcohol. Cocaine.
["Feel Good Hit Of the Summer", Queens of the Stone Age]
["Feel Good Hit Of the Summer", Queens of the Stone Age]
5.19.2009
Tinhas razão, amigo João
Deixarmo-nos disso
18.05.09
Quando eu era novo mexia-me muito; participava; dava-me ao trabalho; fazia sugestões. Agora já não. Estou como o P2 do outro dia a propósito do Mini: “É tão giro ter 50 anos”. É sim. E uma das coisas mais giras é a modalidade de deixarmo-nos disso. Nunca faltam actividades das quais podemos desistir. Ao contrário da aprendizagem, não custa nada. A fase em que se cai da bicicleta não existe. Em vez da learning curve há apenas uma yearning kerb: uma berma à beira da estrada onde uma pessoa se senta para ver passar os ciclistas e gozar as saudades dos tempos em que ainda se sonhava com a camisola amarela. Aos velhos dão mais prazer as poucas coisas importantes e as muitas ninharias. Como o facto da berma das estradas americanas se escrever curb. Já não impressiona ninguém, mas até isso satisfaz; isso de termos deixado de nos queixar de que já ninguém se impressiona com a ortografia, que nem o nome num muro sabem pichar, etc. Já o deixar disso, quando é bem feito, choca um bocadinho. A militante da neta pergunta “Ó avô, então tu não vais votar?” E, desta vez, é ele que encolhe os ombros em genuíno whatever, como vingança por todos os uotéveres com que levou dos ingratos dos jovens que tentou aconselhar: “Para quê? Deixei-me disso. Olha, tu também havias de te deixar disso, que só arranjas desilusões e não é desiludida que arranjas marido…” E se ela mesmo assim se sentar para discutir o assunto, ele não discute. Deixou-se disso. Disso também. Disso sobretudo.
Kicking and screaming
Pude comprovar, mais de vinte anos depois, como The Karate Kid continua a ser um filme central na minha relação com o cinema e, por extensão, com a vida. Percebo isso quando antecipo o que vai acontecer nos pormenores e nas emoções já menos intensas, umas a seguir às outras. Há linhas de força neste filme de John G. Avildsen (realizador do Rocky original, que The Karate Kid plasma em versão juvenil) que se prolongam, por exemplo, até ao recente Gran Torino, de Clint Eastwood: pensem na relação que se estabelece entre o senhor Miyagi e Daniel, e na de Walt (Eastwood) com o jovem vizinho hmong, no fortalecimento da tenra fibra dos mais novos por intermédio de trabalhos vários cujo sentido de início eles não percebem, e no modo como a ligação de contornos paternais é forjada não isenta de atritos próprios da diferença de gerações, e decorrentes do coração endurecido dos mais velhos. Como se a amizade mais difícil de alcançar fosse a mais verdadeira de todas. Como se qualquer lição de vida obrigasse a uma dor por via da prática. Se reconheço hoje por que razão The Karate Kid foi filme que nunca esqueci, e dos que vi repetidas vezes na adolescência, é porque em grande medida permaneço a pessoa que fui, tão sensível como dantes aos temas que o filme convoca: da paixoneta interclassista (plausível para quem viveu em Cascais e frequentou todo o tipo de meios), há necessidade de afirmação, e de conquista do respeito dos outros. Mas posso também supor que o sortilégio motivado por The Karate Kid decorre do facto de não ter dado nunca o pontapé acompanhado do grito definitivamente libertadores. Agora psicanalizem-me.
5.18.2009
Última chamada
William Basinski actua na próxima sexta-feira no OUT.FEST. Os bilhetes podem ser comprados até dia 21 na Flur, na Carbono ou na Louie Louie.
The edge of Cannes
Se conseguisse sentir aquilo que penso, aquilo que sei
Todos precisamos de consolo, e este consolo tem pouco de sexual (ainda que, na nossa língua, a palavra "consolado" tenha uma conotação sexual). Penso nela no sentido de conforto íntimo, de satisfação. Às vezes, como não conseguimos descobrir essas formas de consolação amplas, ficamos por formas pequeninas de consolação; entre elas, a sexual. E isto não é desprezar o sexual!, que acho muito importante. Mas não acho que tenha a centralidade que noutras fases da vida lhe damos.
O falhanço das relações não decorre, tantas vezes, de se olhar para o outro como ele é e não como estava projectado na nossa imaginação e desejo?
Qualquer pessoa pode enunciar isto. Agora, constatamos todos os dias que isto que se sabe não se sente.
(...) reproduzimos coisas que dizem respeito a um tempo em que começámos a perceber que não somos únicos. E que, além de não sermos únicos, não somos centrais. Crescer é também isso. E dói. Integrar essa dor, ser capaz de lidar com ela, reestruturar coisas a partir disso é o que nos permite, enquanto adultos, viver bem as separações, os diferentes níveis de infidelidade, de autonomia.
(...) Não vale a pena, e é triste, ajudarmos as pessoas a crescer em fuga das suas próprias dores. Não há maneira de escapar à dor. Mas há maneiras de gerir melhor as dores que se têm. Essa dimensão da dor não é intrinsecamente má. É uma circunstância da nossa existência. Temos de aprender estratégias para lidar com isso.
(...) Tem imensa gente que envelhece sem alguma vez ter crescido. É dramático. Conseguem ter os seus desempenhos sociais, às vezes até brilhantes, mas não ficaram maduras de um ponto de vista emocional. Há uma definição para isso de que gosto: "Ser adulto e ajudar os outros a ser adulto." Somos, nessa altura, contentores dos limites dos outros. Há pessoas que não o conseguem. Precisam de espelhos, espelhos, espelhos que reproduzam imagens, que digam: "És bom, és óptimo, consegues." Isto, que era uma coisa narcísica e ligada a classes privilegiadas, está disseminado. A classe média faz da educação dos filhos um lugar com poucos limites, com pouca tolerância à frustração. Claro que a vida dói. Mas onde é que está escrito que não doía?
(...) O facto de uma pessoa se sentir mal amada ao longo dos anos, preterida, frequentemente determina uma busca activa no sentido de ser estimado, gostado. Normalmente isso faz-se de duas maneiras. Uma é desenvolver um comportamento hiperafirmativo/agressivo...
"Vejam como sou boa, amem-me por causa disso"?
E isso faz com que as pessoas olhem para ela/ele como sendo muito auto-suficiente. "Ela é muito boa, não precisa de nada, deixa-me ir embora." Nem se aproximam porque o outro (parece que) não dá espaço. "Ai que arrogante, que convencido." Isto é uma angústia brutal para as pessoas que estão sozinhas. Podem até suscitar admiração, mas não suscitam aquilo que querem: proximidade e afecto.
Há características pessoais e há circunstâncias felizes que nos possibilitam, apesar de tudo, transformar formas de ser. A história passa a ser: "Sou assim, não por causa do que me aconteceu, mas apesar do que me aconteceu."
Diz-se muito: "Se eu conseguisse sentir aquilo que penso, aquilo que eu sei..." Mas também: "Se eu conseguisse saber/entender o que sinto."
Não é um jogo de palavras. Isto é dito em discurso directo, tem personagens, tem acontecimentos. Dito de outra maneira: são sempre tentativas de crescimento.
Excertos da entrevista de Isabel Leal, psicóloga clínica, 52 anos, a Anabela Mota Ribeiro, na revista Pública.
Os grandes temas.
O falhanço das relações não decorre, tantas vezes, de se olhar para o outro como ele é e não como estava projectado na nossa imaginação e desejo?
Qualquer pessoa pode enunciar isto. Agora, constatamos todos os dias que isto que se sabe não se sente.
(...) reproduzimos coisas que dizem respeito a um tempo em que começámos a perceber que não somos únicos. E que, além de não sermos únicos, não somos centrais. Crescer é também isso. E dói. Integrar essa dor, ser capaz de lidar com ela, reestruturar coisas a partir disso é o que nos permite, enquanto adultos, viver bem as separações, os diferentes níveis de infidelidade, de autonomia.
(...) Não vale a pena, e é triste, ajudarmos as pessoas a crescer em fuga das suas próprias dores. Não há maneira de escapar à dor. Mas há maneiras de gerir melhor as dores que se têm. Essa dimensão da dor não é intrinsecamente má. É uma circunstância da nossa existência. Temos de aprender estratégias para lidar com isso.
(...) Tem imensa gente que envelhece sem alguma vez ter crescido. É dramático. Conseguem ter os seus desempenhos sociais, às vezes até brilhantes, mas não ficaram maduras de um ponto de vista emocional. Há uma definição para isso de que gosto: "Ser adulto e ajudar os outros a ser adulto." Somos, nessa altura, contentores dos limites dos outros. Há pessoas que não o conseguem. Precisam de espelhos, espelhos, espelhos que reproduzam imagens, que digam: "És bom, és óptimo, consegues." Isto, que era uma coisa narcísica e ligada a classes privilegiadas, está disseminado. A classe média faz da educação dos filhos um lugar com poucos limites, com pouca tolerância à frustração. Claro que a vida dói. Mas onde é que está escrito que não doía?
(...) O facto de uma pessoa se sentir mal amada ao longo dos anos, preterida, frequentemente determina uma busca activa no sentido de ser estimado, gostado. Normalmente isso faz-se de duas maneiras. Uma é desenvolver um comportamento hiperafirmativo/agressivo...
"Vejam como sou boa, amem-me por causa disso"?
E isso faz com que as pessoas olhem para ela/ele como sendo muito auto-suficiente. "Ela é muito boa, não precisa de nada, deixa-me ir embora." Nem se aproximam porque o outro (parece que) não dá espaço. "Ai que arrogante, que convencido." Isto é uma angústia brutal para as pessoas que estão sozinhas. Podem até suscitar admiração, mas não suscitam aquilo que querem: proximidade e afecto.
Há características pessoais e há circunstâncias felizes que nos possibilitam, apesar de tudo, transformar formas de ser. A história passa a ser: "Sou assim, não por causa do que me aconteceu, mas apesar do que me aconteceu."
Diz-se muito: "Se eu conseguisse sentir aquilo que penso, aquilo que eu sei..." Mas também: "Se eu conseguisse saber/entender o que sinto."
Não é um jogo de palavras. Isto é dito em discurso directo, tem personagens, tem acontecimentos. Dito de outra maneira: são sempre tentativas de crescimento.
Excertos da entrevista de Isabel Leal, psicóloga clínica, 52 anos, a Anabela Mota Ribeiro, na revista Pública.
Os grandes temas.
5.15.2009
Chocolate branco
Era Dan in Real Life ou There's Something About Mary. As canções de Sondre Lerche ou as de Jonathan Richman. Um filme nunca visto ou um filme visto há muito. No final imperou o critério "Binoche does Hollywood". Mais implausibilidade menos disparate, vai dar tudo ao quintal da comédia romântica, neurótica e disfuncional. E aquele que não sonha encontrar a mulher da sua vida cercado por prateleiras de livros, que atire o primeiro cartapácio.
Em breve, na mesma sala: Doidos por Mary, Little Miss Sunshine, O Momento da Verdade (yesss) e Não Digas a Ninguém (este é francês, dirigido por Guillaume Canet, e não existem votos dos críticos).
Who would you most like to fuck in the entire world?
(...) Bernard's fourth wife, Sue, never suspected him of being at all homosexual but considered that 'he might have done it for a drink. He was always trying to get money for a drink.'
Many other friends, however, were convinced that Bernard had never had even the mildest homosexual relationship. 'I don't think he's homosexual because if he was he would have written about it,' said his old friend and journalist colleague Richard West. 'He's too bloody honest and outspoken.' Even his friendship with Minton 'was simply opportunist,' said Oliver Bernard, 'perhaps a bit predatory but in fact they did like each other. Jeffrey was quite amusing company and Minton was a very nice man, very happy and generous'. Oliver said that he himself had actually slept in the same bed as Minton 'and he'd put his arm round my shoulder and say goodnight' but that would be all. 'He wasn't an agressive homo at all.' Minton's younger painter assistant Bobby Hunt also slept with Minton in the same bed 'but we never had sex', he told Farson. This so frustrated Minton that he gnawed his fingers with such ferocity that the sheets were blood-stained. Frances Spalding certainly believed that Bernard was no more than a 'prick teaser', and pointed out in her biography of Minton that Minton preferred to associate with heterosexual men and boys, perhaps because they offered more of a sexual challenge.
Bernard never lost his habit of fleecing homosexuals. As late as the Seventies Frances Bacon was still slipping him the odd £50 note, though Bacon did once enquire in his high, piercing voice: 'What are you going to do now, Jeffrey, now that your looks have gone?' Bernard denied that Bacon had ever tried to seduce him: 'Good God, no. He preferred rough trade or very smart businessmen.' In fact Bacon preferred such rough trade that one of Bernard's favourite stories in later years related to Bacon's £1,500 Cartier watchand the sailor whom he picked up one evening and inveigled home for a night of joy. Bacon despatched the sailor, 'a rough person', to the bathroom to wash, and as he reclined in bed awaiting his return was suddenly convinced that the matelot would mug him and steal the expensive watch, so he hid the watch under the carpet and lay back in bed to await his love. On returning from his ablutions the sailor, whose huge feet were just right for the roll of the ocean swell, trod on the watch and smashed it.
But the most convincing witness of all was the openly homosexual Ian Board, who was Muriel Belcher's barperson at the Colony Room Club and succeeded her when she died. If anyone would have known about Bernard's possible homosexuality it would have been Board but he told me: 'He didn't come across for any of them.'
It is worth remembering, as Bernard's fourth wife Sue pointed out, that in his earliest days in Soho Bernard bummed off everybody without necessarily sleeping with them. He was very good with rich older women as well as homosexuals, and one fur-coated, elderly aristocratic lady who met him in the French Pub bought him numerous drinks and trinkets. He appealed to both sexes and claimed that an older woman once paid him £20 to service her. 'He was a toyboy in those days, you see,' said Sue, 'before a toyboy was invented.'
Other friends of both sexes would look after him and give him treats without expecting any sexual favours. He always dreamed, for instance, of being taken to Wheelers fish restaurant in Old Compton Street and finnally managed to persuade an old prep school contemporary to take him there, Tony Hubbard, a Woolworth heir. Later Bernard often persuaded richer friends to take him to Wheelers: Alan and Isabel Rawsthorne, Frank Norman, Francis Bacon. He never paid himself. One Wheelers visit with Bacon many years later was to pass into Soho legend.
'Who would you most like to fuck in the entire world?' enquired Bacon in his loud, high-pitched voice.
Christ, thought Bernard, I don't know. Cyd Charisse? Sophia Loren? Monica Vitti?
'Out of everybody in the world,' Bacon shrilled, 'I'd like to fuck Colonel Gadaffi.'
Four American tourists at the next table rose and left the restaurant.
págs. 66/68
Um pouco de História
6th September 1989. Jeffrey Bernard (left) whose column in 'The Spectator' magazine has been described as 'a suicide note written in weekly installments' and actor Peter O'Toole both indulging in a favourite occupation outside The Coach & Horses pub in Soho today. Mr O'Toole is to play the writer in a play devised by Keith Waterhouse 'Jeffrey Bernard is Unwell' which opens in the West End on October 17th. ©2002 Credit:Topham / PA
5.14.2009
Os Furtwängler
Circula por aí a nota que dá conta do lançamento de Estado Civil, de Pedro Mexia, que ocorrerá no próximo sábado pelas 16h00, na Feira do Livro de Lisboa. A apresentação é protagonizada (acham eles) pelo músico Samuel Úria, pelo humorista Ricardo Araújo Pereira, e pelo professor Joaquim Furtwängler: psiquiatra que lecciona na Universidade de Viena. Uma rápida pesquisa na Internet permite saber que o professor viaja sempre acompanhado da esposa, a actriz e também médica Maria Furtwängler, que marca invariavelmente presença nos eventos em que o marido participa, o que convenhamos é toda uma forte razão para atravessar por entre a multidão que se amontoa em passo lentíssimo pelas alamedas do parque.
Just the one
Ninguém terá ficado tão famoso pela actividade de grande bebedor como Jeffrey Bernard (1932-1997). Era curioso verificar se a informação constava do cartão de cidadão do principado The Coach & Horses, logo depois do número de identificação e da data de nascimento. Como se o definisse mais do que tudo o resto. O que era verdadeiro. Veja-se o caso da notícia há anos atrás da venda do retrato de um dos irmãos de Jeffrey, o crítico de arte Bruce Bonus Bernard, pintado pelo amigo deste Lucian Freud. Pretexto para nova referência às colossais besuntas daquele que foi o maior cronista de todos em causa própria. O simpático figurão aqui em baixo.
5.12.2009
Tiazinhas
O novo disco de Caetano (não mais Veloso) com a bandaCê, Zii e Zie, começa por ser mais interessante do ponto de vista do som, depois do ritmo, e só depois da lírica. Gosto bastante do modo como os instrumentos são captados, que contribui para a atmosfera de carcaça largada a céu aberto onde o alinhamento de treze músicas se vai equilibrando. Zii e Zie joga-se na linha de fronteira onde o “transamba” encontra o “transrock”, e a modernidade do disco é definida pela cadência afro-brasileira à qual é sobreposta a electricidade saturada das guitarras e do piano Rhodes. A animosidade de Caetano para com o sexo feminino também surge pulverizada, e isso favorece Zii e Zie relativamente ao anterior Cê, fazendo-o deslocar-se da quezília pessoal por demais evidente, na direcção da genérica e ancestral incompatibilidade dos géneros (há mesmo um tema, pedido de empréstimo a João Bosco, que se chama justamente Incompatibilidade de Gênios, onde Caetano canta, “Se eu dou (ai, se eu dou)/ Um pulo, um pulinho, um instantinho no bar/ Bastou/ Durante dez noites me faz jejuar”). O génio – no sentido do talento e não já do feitio – de Caetano tem-se manifestado nas suas consecutivas metamorfoses. Ele sempre foi e será um “transcaetano”, preparado para escapar para onde não prevemos, operando ligeiras mutações entre guinadas significativas, para diante ou para trás numa discografia que é todo um universo: a última das quais produzida com Noites do Norte, e a sua aproximação a um som enxuto no concreto dos sons e das palavras, no imediato do ataque das percussões e dos riffs eléctricos. Não acho que o formato bandaCê dê mostras de esgotamento. Penso pelo contrário que nos apercebemos aqui do potencial que há para estender. Se ousar o vaticínio, diria que Caetano andará pelos “transambas” e “transrocks” alguns anos ainda. Caetano trocou o charme pela rebeldia, coisa que assalta o ouvido.
A grandeza dos sóis
O fado hoje já é servido on the rocks, e está muito bem (cada qual bebe como gosta), mas o brilho mais intenso ainda é o que vem da tradição, e as melhores letras do novo disco de Pedro Moutinho, Um Copo de Sol, foram escritas pelo lendário Henrique Rêgo*, camarada do Marceneiro, e por Manuela de Freitas, camarada do Camané. Com fados a condizer.
* (...) Se fores de noite à rua, / deves guardá-los com jeito, / não quero que a dona Lua / toque ao de leve o teu peito, / que eu sempre guardei respeito / pela grandeza dos sóis, / mas vim a saber depois / e fiquei compenetrado / que deve ser respeitado / coração que é de nós dois [Colchetes de Oiro, faixa #8]
5.08.2009
Me Tarzan, tu Jeanne
O espectáculo com Jeanne Balibar, La Danseuse Malade, que hoje repete na Culturgest é uma pretensiosisse sem ponta onde nos agarrarmos. Tem ideias fortes como a da câmara instalada no interior da caixa da carrinha que se desloca no palco, cujas imagens são projectadas sobre a superfície branca da mesma, ou o cão que irrompe cena adentro de assalto ao braço de Boris Charmatz, também coreógrafo, e que se evade da nossa vista com igual ímpeto, fazendo acreditar por segundos na utopia de podermos assistir um dia a uma dramaturgia em que homens e animais de carne e osso interagissem como iguais. Só que o resto, que é quase tudo, é um penoso arrastar de ideias batidas, sacadas ao universo viscoso de Matthew Barney, ou procurando tirar partido da presença da extraordinária actriz na sustentação de uma lengalenga incompreensível que ela debita uma eternidade de tempo enquanto conduz para a frente e para trás. Exemplos como La Danseuse Malade até podem fazer-nos descrer da dança contemporânea, território que me tem dado a ver outras coisas absolutamente notáveis. No final, o aplauso que se ouviu eram palmas geladas.
5.07.2009
... like they used to
"Well, opinions are like assholes, everybody has one" ou "hero today, gone tomorrow" são frases usadas no filme realizado por Buddy Van Horn onde um jovem Jim Carey morre de fake OD depois de o filmarem a fazer um playback de Welcome to the Jungle dos Guns N' Roses ao melhor estilo Zé Diogo Quintela; Liam Neeson interpreta um realizador de filmes de terror que usa um ridículo rabo-de-cavalo (estávamos nos 80's, o que desculpa alguma coisa); a então estreante Patricia Clarkson é a repórter de televisão que se envolverá muito além das horas de serviço na história que tem de relatar; e onde Eastwood faz dupla polícial com um chinês-americano, exemplar do cruzamento cultural vertido em pancadaria modelo Jackie Chan. A série Dirty Harry original despedia-se aqui, sabendo nós hoje que o melhor, em ligeiramente revisionado, seria recuperado.
"i"... nada
Parece que isto de fazer jornais ou revistas não é um dado adquirido. Depois da lamentável estreia da Playboy portuguesa – olhei, paguei, folheei, mandei para o lixo –, a história do novo diário, o "i", ou leva uma torção de 180º ou arrisca-se a ter vida curta. No geral, que não fui ainda ao miolo do texto, tem péssimo aspecto, e manchete de capa, xenófoba, de fugir (a Ucrânia é a nova África): ilustrada com foto que parece ter sido comprada nos arquivos de Auschwitz. Em nome da total transparência devo dizer que me propus colaborar com o diário dirigido por Martim Avillez Figueiredo; e que se me convidassem hoje, provavelmente aceitaria. Mas isso não impede o comentário de total decepção que me motiva esta estreia. (to be continued?)
5.06.2009
Joni 67
Both Sides Now
Bows and flows of angel hair
And ice cream castles in the air
And feather canyons everywhere
I've looked at clouds that way
But now they only block the sun
They rain and they snow on everyone
So many things I would have done
But clouds got in my way
They rain and they snow on everyone
So many things I would have done
But clouds got in my way
I've looked at clouds from both sides now
From up and down, and still somehow
It's cloud illusions I recall
I really don't know clouds at all
From up and down, and still somehow
It's cloud illusions I recall
I really don't know clouds at all
Moons and Junes and Ferris wheels
The dizzy dancing way that you feel
As every fairy tale comes real
I've looked at love that way
The dizzy dancing way that you feel
As every fairy tale comes real
I've looked at love that way
But now it's just another show
You leave 'em laughing when you go
And if you care, don't let them know
Don't give yourself away
You leave 'em laughing when you go
And if you care, don't let them know
Don't give yourself away
I've looked at love from both sides now
From give and take, and still somehow
It's love's illusions I recall
I really don't know love
I really don't know love at all
From give and take, and still somehow
It's love's illusions I recall
I really don't know love
I really don't know love at all
Tears and fears and feeling proud
To say "I love you" right out loud
Dreams and schemes and circus crowds
I've looked at life that way
To say "I love you" right out loud
Dreams and schemes and circus crowds
I've looked at life that way
Oh but now old friends are acting strange
And they shake their heads
and they tell me that I've changed
Well something's lost but something's gained
In living every day
And they shake their heads
and they tell me that I've changed
Well something's lost but something's gained
In living every day
I've looked at life from both sides now
From win and lose, and still somehow
It's life's illusions I recall
I really don't know life at all
From win and lose, and still somehow
It's life's illusions I recall
I really don't know life at all
[Joni Mitchell escreveu esta canção aos 24 anos, e tornou a gravá-la cerca de 30 anos depois.]
5.05.2009
Coolness absoluta
5.04.2009
I put a spell on you
"La Chatte à Deux Têtes" IndieLx09 02.05.09
«Está uma noite de Verão. Ouvem-se grilos na cidade, e venho de confirmar a descoberta de um grande cineasta: Jacques Nolot. (…)» Enviei este sms para alguém pouco depois do final da projecção de La Chatte à Deux Têtes. Dois filmes vistos, já há mais a dizer sobre o cinema do actor, escritor e realizador francês. Nolot dá-nos a sensação de filmar aquilo que bem conhece, no caso de La Chatte à Deux Têtes a comunidade de solidões que se concentra num velho cinema pornográfico de Paris, onde os homens se entregam ao voyeurismo e à masturbação, mas onde há também quem até lá se desloque para escrever ou dormir, como é o caso do personagem interpretado pelo realizador. Nolot é o exemplo do espectador comprometido, e em ambos os lados da câmara, mas a sua ética no momento de filmar é exemplar. Quero com isto dizer que ele regista rotinas que lhe são familiares, os hábitos do prazer homossexual anónimo e clandestino tal como os terá presenciado. Desprovido de afectação ou militância, expondo a faceta demasiado humana daquelas figuras, que em muitos casos nunca passarão para nós de frágeis silhuetas lúbricas que na penumbra reproduzem mecanicamente os mesmos gestos. O que impressiona na obra de Jacques Nolot (que em cerca de vinte anos produziu uma curta-metragem e três longas) pode traduzir-se pela aspereza do humano, transmitida simultaneamente com rigor e coloquialidade. Claro que o retrato que Nolot dá de si próprio é o que sobressai nos filmes por ele realizados. O duplo risco releva também de uma dose de narcisismo, mas a presença de Nolot – como ele olha e como se olha e olha o que vê – é tão imperturbada que até nos momentos da maior exposição física dos actos sexuais o cinema de Jacques Nolot sai ileso do efeito do gratuito ou escandaloso porque o seu envolvimento é ainda mais cúmplice que comprometido, e em vez de Nolot se excluir daquilo que filma, leva-nos a aceder ao reduto íntimo de cada instante. Jacques Nolot é um grande cineasta porque acrescenta um ponto de vista individual sobre o que significa ser-se humano – o que no seu cinema equivale a sabermo-nos irremediavelmente sós – à latitude das nossas experiências. E é também por isso que La Chatte à Deux Têtes é uma grande experiência de cinema.
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