3.16.2009
Ver outras coisas
Walt Kowalski: [reading aloud from the newspaper] Your birthday today, Daisy [a cadela golden retriever de Walt]. This year you have to make a choice between two life paths. Second chances comes your way. Extraordinary events culminate in what might seem to be an anticlimax. Your lucky numbers are 84, 23, 11, 78, and 99. What a load of shit.
Quando se olha para Gran Torino pela quarta vez, até as cenas que nada parecem ter que ver com o avanço da narrativa ganham eco significativo. Até o carácter jocoso (muito presente de resto em todo o filme, à semelhança das derradeiras obras de Ford e Hawks; e considerando que a rabugice ou a irascibilidade são formas de sobreviver aos fracassos da vida como quaisquer outras, ou talvez mesmo mais humanas do que as outras) resultante aqui da leitura do horóscopo encerra alguns indícios do que está para vir... A reflexão que Gran Torino opera sobre o significado da vida e da morte, e a sua intermutabilidade, parece obedecer ao princípio do Bushido (código Samurai) segundo o qual os assuntos sérios devem ser considerados de forma ligeira. O filme é bastante divertido, e todas as salas onde o vi reagiram ao seu tom espirituoso. Penso que só esta falsa leveza (bittersweet/agridoce, palavra usada em Gran Torino para descrever a sensação deixada pela morte: bitter in its pain, sweet in its salvation) permite chegar àquele final que resulta numa catarse e ao mesmo tempo num anti-clímax (pense-se no derradeiro confronto de Imperdoável, ou em geral na representação pelo cinema da aplicação da justiça pelas próprias mãos, para melhor entender estas palavras). Considero que Clint Eastwood realizou aos 78 anos o seu filme popular mais profundo, e que Gran Torino tem dentro de si uma parte considerável do que significa estar vivo (creio que Miguel Gomes terá usado estas palavras para se referir recentemente ao seu filme Aquele Querido Mês de Agosto), o tema afinal de todo o cinema que é grande.
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