3.18.2008

Franceses com cio na bacia mediterrânica
























Mais ainda por se tratar de uma actriz que já fez tudo e foi alvo de todas as consagrações, é surpreendente encontrar Isabelle Huppert neste filme (o segundo) de Christophe Honoré, Minha Mãe. Mãe que é uma puta. Que se autoproclama ser a maior puta das Canárias. O filme mergulha sem freio no universo de Bataille, arriscando até onde a literatura não pode chegar. Literatura igual a imaginação; cinema igual a real: no modo como com eles lidamos. Daí ser forçosamente necessário dar o "salto poético" para atravessar os cenários de decadência moral e de transe místico que o filme apresenta, não cedendo à tentação de lhes opôr preconceitos (nossos) que colidem com uma liberdade (sua). É olharmos para as imagens de Honoré, para a intensidade com que ele filma os corpos, a noite, a praia deserta e procurar ver na materialidade intrínseca a essas imagens, signos de uma linguagem (de uma libertinagem) que deseja essencialmente ser livre. É para filmes como este Minha Mãe que faz sentido o uso da abusada expressão "ame-se ou odeie-se". Da primeira vez que o vi, de facto, odiei-o. Mas desejei vê-lo de novo. E como se fosse mesmo novo.

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