Na entrevista à Kapa de 1992, Luiz Pacheco diz a páginas 52 e 53 [O Crocodilo que Voa - Entrevistas a Luiz Pacheco, Tinta da China 2008]:
(...) Agora há também outra coisa: há outra maneira de escrever. Eu não posso escrever como o Miguel Esteves Cardoso. Há outras maneiras de humor, de escrever, há outra maneira de chegar a um público novo que eu conheço mal. São estas raparigas, estes rapazes da geração das cassetes e dos vídeos. (...)
Luis Pacheco afirmava nunca poder escrever à M.E.C., mas M.E.C. pode escrever à Luiz Pacheco. Eis o motivo de eu ter voltado a comprar o Público todos os dias. Eis a prova:
Diário da Perna
O recobro (sáb 15/03/08)
Ai. Eis-me esticado na sala de recobro, já sem maneira de me armar em bom. Tenho uma meia branca de can-can enfiada na perna esquerda, e a anca nova já a cantar na direita, dilacerada, como a portuguesa.
A operação correu muito bem, graças ao cuidado de uma equipa superluxo: dois cirurgiões, o dr. Ribeiro da Cunha e a dra. Hermengarda Azevedo, dois anestesistas, a dra. Teresa Neta e o dr. António Nunes, e um céu estrelado de enfermeiros. A operação foi canja.
Só o meu ego é que continua muito ferido. É a única coisa que me dói. Entrei armado em estrela de rock, rodeado pela minha entourage de gajas giras (a minha mulher e as minhas filhas) todos com iPods e portáteis a discutir como é que se haveria de quitar a cama, e veio logo uma enfermeira sorridente tirar-me as peneiras.
Primeiro deu-me uma injecção na barriga. Depois levou-me a uma casa de banho gigante, muito gira. Mas, mal eu tinha começado a elogiá-la, interrompeu-me, mandou-me agachar, enfiou-me dois clisteres pelo cu acima e disse-me para aguentar o cocó o máximo de tempo possível. Estava eu a controlar o esfíncter quando ela ligou uma máquina máquina temível para me rapar a pintelheira e os tomates. Isto para uma operação à anca. Depois admiram-se que Portugal esteja no estado em que está. Ainda me ofereci para segurá-los durante a depilação, mas já estavam limpos de qualquer penugem. E pronto. Já não quero dizer mais nada. Ai. Ai.
bold meu.
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