7.11.2012

Luther, primeira série, três episódios depois

















Parece que depois de nos reconciliarmos com o facto de um papel como Stringer Bell (na série HBO, The Wire) ser inultrapassável, podemos olhar para Luther, produção BBC, com isenção. Três episódios depois não me encontro ainda reconciliado. E é estranho porque sendo Idris Elba um actor inglês, criado e tarimbado em parte em Inglaterra, mais facilmente a figura de Luther decorreria, aos olhos do fã, da própria pessoa do actor. Mas Luther partilha com Stringer Bell a imensa massa negra do seu corpo, embora Stringer se afirmasse pelo silêncio, e raras vezes o tivéssemos visto tomar qualquer atitude física mais exuberante, e Luther seja uma personagem de acção, que usa também a inteligência, algumas vezes irada, que revela um desejo de morte que à falta de melhor explicação atribuímos à sua continuada convivência com as várias faces do mal. A diferença mais significativa é de que não haveria Luther sem filmes como O Silêncio dos Inocentes, Sete Pecados Mortais ou a trilogia Millennium, ao passo que Stringer Bell terá antecedentes em figuras da realidade de Baltimore com quem o criador de The Wire, David Simon, se terá cruzado. É o que distingue um entretenimento eficaz e robusto, que se resolve ao fim de 50 minutos, da complexidade da natureza humana que nos perseguirá o resto da vida. O mistério de Stringer Bell assombra Luther e, curiosamente, de uma forma que não lhe é desfavorável.

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