7.16.2012

Kundera mestre escritor



















Um casal chega ao seu destino de férias em momentos diferentes. A mulher sai primeiro para passear sozinha próximo à praia. Passa por um conjunto de pessoas e mete na cabeça que os homens deixaram de se voltar para reparar nela. Conta isto mais tarde ao companheiro que decide criar para ela um admirador secreto que começa a deixar-lhe cartas no correio de casa após regressarem a Paris. O que acontece daqui para a frente é tanto real como pode ser sonho: de um ou mesmo dos dois elementos. Lembrei-me do derradeiro filme de Kubrick, Eyes Wide Shut, a propósito deste magnífico livrinho de Milan Kundera. Os problemas nas relações podem surgir muitas vezes do facto de transformarmos problemas nossos, questões nossas, reais ou imaginárias, em problemas com a outra pessoa. Diz-se que Proust caracterizava o amor como um "onanismo alucinado". Nada sei da vida de Kundera e muito menos da de Proust, mas o que este A Identidade denota é uma enorme capacidade de observação, de dar a ler a universalidade do carácter aparentemente excepcional dos gestos e pensamentos mais íntimos. Um extraordinário romance que é um livro de ideias extraordinárias. Agradeço a Maria do Rosário Pedreira que me fez reparar nele.

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