Deves mudar de alma, não de clima. Ainda que atravesses a vastidão do mar, ainda que, como diz o nosso Vergílio, as costas, as cidades desapareçam no horizonte, os teus vícios seguir-te-ão onde quer que tu vás.
Séneca
7.30.2012
Veio a escuridão e engoliu tudo
Passou-se comigo o inverso do que sucede com as figuras de Béla Tarr, cavalo incluído. Enquanto resistiam pensava eu em desistir do filme. Quando desistem veio ao de cima a minha resistência, liberta de condicionalismos de vária ordem que um objecto como "O Cavalo de Turim" obriga a encarar e deixar para trás. Algum cinema, de uma época remota, já foi assim. Refiro-me a aspectos concretos (som e imagem) e filosóficos (tudo o que em desespero usamos para preencher o "vazio" para onde o filme nos atira). Não é possível ignorar a própria desistência do realizador húngaro, que anunciou "O Cavalo de Turim" como o seu derradeiro filme. O animal foi o primeiro a intuir o avanço da escuridão que no final engole tudo, e Béla Tarr remete-se daqui para a frente a um silêncio face ao final dos tempos que a sua obra anuncia. Mais importante que gostar ou não gostar, é vê-la. Depois, especular ou emudecer. Resistir ou como ele desistir.
A inimitável
QUANDO É QUE SE APAIXONOU? QUANDO É QUE TEVE DE LUTAR POR UM HOMEM?
Lutar, não lutei nada. Eu parece que tinha mel. Eles vinham.
PORQUÊ? PORQUE TINHA UM AR FOGOSO?
Não. Eu não era atrevida nem nada. Apaixonei-me muito, e viveu comigo muitos anos, o Fernando. Nem sei se está vivo, mas acho que sim. Também era um malandreco. É a minha sina. Malandrecos com mulheres. Uma vez dei-lhe umas grandes mocadas com tachos - juro por Deus -, fechei-o à chave em casa e fui-me embora. Desapareci três dias. Um amigo meu disse-me: "Coitadinho do Fernando. Se calhar não tem nada para comer." "Deixa-o estar." "Pode estar morto." "Não quero saber." Quando abri a porta até fiquei com medo que ele se amandasse como um leão. Nem tinha cigarros nem nada, estava enlouquecido.
Da entrevista DE ANTOLOGIA feita por Anabela Mota Ribeiro com a fadista Beatriz da Conceição. Saiu ontem na revista do Público.
Lutar, não lutei nada. Eu parece que tinha mel. Eles vinham.
PORQUÊ? PORQUE TINHA UM AR FOGOSO?
Não. Eu não era atrevida nem nada. Apaixonei-me muito, e viveu comigo muitos anos, o Fernando. Nem sei se está vivo, mas acho que sim. Também era um malandreco. É a minha sina. Malandrecos com mulheres. Uma vez dei-lhe umas grandes mocadas com tachos - juro por Deus -, fechei-o à chave em casa e fui-me embora. Desapareci três dias. Um amigo meu disse-me: "Coitadinho do Fernando. Se calhar não tem nada para comer." "Deixa-o estar." "Pode estar morto." "Não quero saber." Quando abri a porta até fiquei com medo que ele se amandasse como um leão. Nem tinha cigarros nem nada, estava enlouquecido.
Da entrevista DE ANTOLOGIA feita por Anabela Mota Ribeiro com a fadista Beatriz da Conceição. Saiu ontem na revista do Público.
7.29.2012
Uma cartinha por dia (20)
Unicamente a virtude nos proporciona uma alegria perene e inabalável. Algum obstáculo que intervenha tem tanta consistência como as nuvens que se movem abaixo do sol sem nunca poderem ocultar por completo a sua luz!
Séneca
Séneca
7.28.2012
Uma cartinha por dia (19)
Repara no comum das pessoas: todas teriam mais proveito na companhia de alguém que não fossem elas próprias! "Refugia-te dentro de ti próprio, em especial quando fores forçado a estar no meio da multidão!" -- mas só se tu fores um homem de bem, tranquilo, moderado. Doutra maneira deves procurar refugio na multidão e fugir de ti mesmo, escapando assim à presença íntima de um homem sem carácter.
Séneca
Séneca
7.27.2012
Uma carta por dia (18)
Raros são os homens que conseguem ordenar reflectidamente a sua vida. Os outros, à maneira de destroços arrastados por um rio, em vez de caminharem deixam-se levar à deriva. Se a corrente é fraca ficam parados na água quase estagnada, se é forte, são arrastados com violência; a uns, deixa-os a corrente em seco ao abrandar junto à margem, a outros, um fluxo impetuoso acaba por lançá-los ao mar. Por isso mesmo é que nós devemos fixar de uma vez por todas o que queremos e manter-nos firmes nesse propósito.
Séneca
Séneca
7.26.2012
Uma cartinha por dia (17)
O meu desejo é que a alegria habite sempre em tua casa; e fá-lo-á, se começar a habitar dentro de ti. Os outros tipos de alegria não satisfazem a alma; desanuviam o rosto, mas são superficiais. A menos que entendas que estar alegre é estar a rir! Não, a alma deve estar desperta, confiante, acima das contingências. Acredita-me, a verdadeira alegria é uma coisa muito séria.
Séneca
Séneca
7.25.2012
Uma cartinha por dia (16)
Ninguém se preocupa em viver bem, mas sim em durar muito, quando afinal viver bem está ao alcance de todos, ao passo que durar muito não está ao de ninguém.
Séneca
Séneca
7.24.2012
Uma cartinha por dia (15)
Há que despertar do sono a nossa alma, há que espicaçá-la, há que mostrar-lhe como é exíguo o que a natureza nos concedeu. Ninguém nasce rico; no momento de vir à luz temos uma fralda e um pouco de leite: e é a partir de tais começos que chegamos a pensar que um reino é estreito para nós!...
Séneca
Séneca
7.23.2012
Deus, pátria e alienação
Estou certo de ter sido na casa do Zé Luís Saldanha, amigo de Cascais que não vejo há muito, que ouvi pela primeira vez Cabeça Dinossauro, dos Titãs, junto com outro marco da música brasileira do mesmo ano, 1986, o álbum Dois, da Legião Urbana. Nunca mais esqueci nenhum dos discos, mas eu não tinha andamento para o punk rock conceptual, vagamente situacionista, da banda de Tony Bellotto e Arnaldo Antunes. Passaram mais duas décadas, Cabeça Dinossauro teve direito a edição comemorativa do quarto de século, e apresenta-se impecável, vivificante e tão actual como na data da sua produção. É um disco que tem de tudo como o Sandinista! dos Clash. Tudo num só disco. Uma revolução aqui dentro.
Uma cartinha por dia (14)
Pior mal não sucede ao homem público e obcecado pelos seus negócios do que tomar como amigos aqueles que o não olham como amigo! Um tal homem pensa que as suas prodigalidades conseguem granjear-lhe simpatias, quando, na realidade, os outros quanto mais lhe devem mais o odeiam: quem pouco deve é devedor, quem deve muito é inimigo!
Séneca
Séneca
7.22.2012
Uma cartinha por dia (13)
Cultiva, portanto, em primeiro lugar a saúde da alma, e só em segundo lugar a do corpo; esta última, aliás, não te dará grande trabalho se o teu objectivo apenas for gozar de boa saúde. A ginástica destinada a desenvolver a musculatura dos braços, do pescoço, do tórax, é uma insensatez totalmente imprópria dum homem de cultura: ainda que sejas bem sucedido na eliminação da adiposidade e no crescimento da musculatura nunca igualarás nem a força nem o peso de um boi gordo!
Com esta é que o Séneca me tramou.
Com esta é que o Séneca me tramou.
7.21.2012
Uma cartinha por dia (12)
Por muito certos que sejam os nossos temores, mais certo ainda é que um dia o que tememos há-de cessar, tal como o que esperamos nos virá a decepcionar. Pondera, portanto, os motivos de esperança e de medo, e sempre que as coisas te apareçam todas como ambíguas, age pelo melhor e acredita no que preferires.
Séneca
Séneca
7.20.2012
To miss, to sigh, to wait, never to die
Peter O'Toole anunciou que se retira da carreira de actor, e que se irá dedicar a escrever o terceiro volume de memórias. Fico à espera do quinto, e ainda de um sexto.
Uma cartinha por dia (11)
Certas coisas angustiam-nos mais do que há razão para tal; outras angustiam-nos antes que haja razão; outras angustiam-nos sem a mínima razão. Isto é, ou exageramos o nosso sofrimento, ou o sentimos por antecipação, ou apenas o imaginamos!
Séneca
Séneca
7.19.2012
Uma cartinha por dia (10)
Pois abracemo-la, apreciemo-la: se a soubermos usar, a velhice é uma fonte de prazer. (...) Como é bom já ter cansado os nossos desejos, tê-los abandonado.
Séneca
Séneca
7.18.2012
Awesome
O Awesome People Hanging Out Together, dentro do género o melhor que vi até hoje.
(via Bomba Inteligente)
E esta então que é todo um programa:
Sidney Poitier, Harry Belafonte, e Charlton Heston na Marcha pelos Direitos Civís de 1963, em Washington.
Todas as histórias têm três actos
I
Percebi que tinha força, por qualquer movimetno involuntário que fez sobre a mesa quando fomos comer um hamburguer numa estação de serviço à noitinha, depois do nosso primeiro cinema… Eis senão quando, o meu amor (41) se revela em todo o seu esplendor quando se despe!.. (OMG, estou a fazer subir a parada!… Shh! Quietas meninas, continuem a sonhar com o Gosling, ok?) E mais, eis que eu percebo finalmente os benefícios da prática prolongada e assídua do Yoga… “no acto”! :))
II
Onde se encaixa um homem nesta minha vida de duas miúdas quase em exclusivo (de dois pais diferentes), muito desapontamento, muito trabalho, cansaço, preocupação que não desliga, etc?... Pois só vos digo que não fora quem é e não estaria por cá!.. :) E é preciso muita disposição para aturar este feitiozinho, eu sei. Um beijo grande - também virtual - de parabéns ao meu amor.
III
E enche-me as medidas quando homens feitos se apresentam como donzelas e me contam como foi passar uma vida de sofrimento e onanismo (vulgo punheta, mesmo) à espera da mulher ideal. Sozinhos, estóicos, inabaláveis no seu propósito, preservando-se, nas suas próprias palavras, e aos seus corpos e sentimentos impolutos, da promiscuidade. Tudo lindo, maravilhoso e poético, não fora o facto de irem às putas, que não contam para estatísticas e não têm nome (a não ser quando muito provocados). Enfim, o amor, brindemos ao amor!
Princípio, meio e fim.
Uma cartinha por dia (9)
Feliz o homem capaz de ter por alguém tanto respeito que a simples lembrança do modelo basta para lhe dar ordem e harmonia espiritual! (...) Temos necessidade, repito, de alguém por cujo carácter procuremos afinar o nosso: riscos tortos só se corrigem com a régua!
Séneca
Séneca
7.17.2012
Centenário Nelson Rodrigues
Leituras:
Biografia breve;
Nelson Rodrigues, o Monstro Moral;
Mural do bom-senso (frases).
Nelson Rodrigues nasceu no Recife, a 23 de Agosto de 1912.
Uma cartinha por dia (8)
Que importa, de facto, a situação em que te encontras se tu a considerares má? (...) só o sábio se contenta com o que tem, todos os insensatos sofrem de descontentamento consigo mesmos.
Séneca
Séneca
4 séculos de música e literatura em 2 minutos e meio
And when you ran to me, your
Cheeks flushed with the night
We walked on frosted fields
Of juniper and lamplight
I held your hand
7.16.2012
Uma cartinha por dia (7)
Quando muitos te cobrirem de louvores, verifica se ainda tens motivo de agrado ante ti próprio, já que és homem que muitos possam entender! Os teus autênticos bens são do foro íntimo.
Séneca
Séneca
Kundera mestre escritor
Um casal chega ao seu destino de férias em momentos diferentes. A mulher sai primeiro para passear sozinha próximo à praia. Passa por um conjunto de pessoas e mete na cabeça que os homens deixaram de se voltar para reparar nela. Conta isto mais tarde ao companheiro que decide criar para ela um admirador secreto que começa a deixar-lhe cartas no correio de casa após regressarem a Paris. O que acontece daqui para a frente é tanto real como pode ser sonho: de um ou mesmo dos dois elementos. Lembrei-me do derradeiro filme de Kubrick, Eyes Wide Shut, a propósito deste magnífico livrinho de Milan Kundera. Os problemas nas relações podem surgir muitas vezes do facto de transformarmos problemas nossos, questões nossas, reais ou imaginárias, em problemas com a outra pessoa. Diz-se que Proust caracterizava o amor como um "onanismo alucinado". Nada sei da vida de Kundera e muito menos da de Proust, mas o que este A Identidade denota é uma enorme capacidade de observação, de dar a ler a universalidade do carácter aparentemente excepcional dos gestos e pensamentos mais íntimos. Um extraordinário romance que é um livro de ideias extraordinárias. Agradeço a Maria do Rosário Pedreira que me fez reparar nele.
Justified, segunda temporada, seis episódios depois
If you want to make a living in this business, you got to know your ABCs. "Always be cool." (Boyd Crowder)
O som e a fúria
O som é a fúria.
Grande, grande, grande, grande disco.
Concerto em Lisboa, no espaço Tmn Ao Vivo, dia 22 de Outubro!
7.15.2012
Uma cartinha por dia (6)
(...) aqui tens uma máxima que hoje encontrei com prazer em Hecatão. "Queres saber o que lucrei hoje? Comecei a ser amigo de mim próprio." Muito lucrou, deste modo nunca estará sozinho. Um tal amigo, fica sabendo, toda a gente o pode ter!
Séneca
Séneca
7.14.2012
Uma cartinha por dia (5)
Li no nosso Hecatão que pôr termo aos desejos é proveitoso como remédio aos nossos temores. Diz ele: "deixarás de ter medo quando deixares de ter esperança". (...) Nem é de admirar que assim seja: ambos caracterizam um espírito hesitante, preocupado na expectativa do futuro. (...) Nós tanto nos torturamos com o futuro como com o passado. Muitos dos nossos bens acabam por ser nocivos: a memória reactualiza a tortura do medo, a previsão antecipa-a; apenas com o presente ninguém pode ser infeliz!
Séneca
Séneca
7.13.2012
Em actualização...
Por fim, aos 27 anos, chega a um grande clube europeu, um dos jogadores mais completos a fazer o flanco esquerdo, em diferentes posições, sem perder nunca qualidade. Mais do que um polivalente, ele parece especialista em qualquer uma delas. Como lateral ou como ala, quase extremo. É o croata Danijel Pranjic, rápido (1,72m. e 68kg.) com jogo de cintura a ultrapassar adversários, em espaços longos ou mais curtos, define também muito bem na hora de cruzar ou tentar jogadas de combinação para entrar na área. Nasceu no Osijek croata e nas últimas quatro épocas esteve no Heereveen holandês. Por isso, Van Gaal conhece-o bem e não hesitou em o trazer consigo para a aventura de Munique.
Não sou eu que o digo, mas Luís Freitas Lobo, três anos atrás. A imagem é do jogo com a Espanha, no último Europeu.
Uma cartinha por dia (4)
Se queres ter uma vida agradável deixa de te preocupares com ela! Nenhum objecto dá bem estar ao seu possuidor senão quando este está preparado para ficar sem ele; e nenhuma coisa mais facilmente podemos perder do que aquela que é irrecuperável depois de perdida.
Séneca
Séneca
7.12.2012
A música de hoje faz-me rir
Os próprios Stones de agora quase fariam rir, não lhes tivéssemos nós muito respeito.
Speak english? Yes I do.
Desfazermo-nos de um disco e tratarmos depois de o reaver porque lhe sentimos a falta.
Acerto de contas
Não sou grande leitor, embora tantas vezes me possam ver acompanhado de um livro, e tenha pilhas deles desordenadas junto à cama. Sou leitor disperso, que se dispersa no próprio acto de ler, e impaciente também. Li recentemente um livro português, de memórias, de alguém que conhecia apenas de "a ler" na altura em que comprei o livro. Caderno de Memórias Coloniais, de Isabela Figueiredo. Passou bastante tempo desde essa compra. Foram-se amontoando outros que o relegaram para uma zona menos visível, mas quando lhe peguei foi de vez. A Isabela escreve como no blogue; outra coisa é que seria um desperdício. Tem uma pluma viril e desassombrada. Há ali ressentimento e mágoas antigas. Mas do ponto de vista de quem lê, abençoadas contas e bendito ressentimento. Tem qualidades de grande livro (que sei eu) e ainda o facto de ser curto (gosto muito disto).
Uma cartinha por dia (3)
Pensa longamente se alguém é digno de que o incluas no número dos teus amigos; quando decidires incluí-lo, então recebe-o de coração aberto e fala com ele com tanto à-vontade como contigo próprio.
Séneca
Séneca
7.11.2012
Luther, primeira série, três episódios depois
Parece que depois de nos reconciliarmos com o facto de um papel como Stringer Bell (na série HBO, The Wire) ser inultrapassável, podemos olhar para Luther, produção BBC, com isenção. Três episódios depois não me encontro ainda reconciliado. E é estranho porque sendo Idris Elba um actor inglês, criado e tarimbado em parte em Inglaterra, mais facilmente a figura de Luther decorreria, aos olhos do fã, da própria pessoa do actor. Mas Luther partilha com Stringer Bell a imensa massa negra do seu corpo, embora Stringer se afirmasse pelo silêncio, e raras vezes o tivéssemos visto tomar qualquer atitude física mais exuberante, e Luther seja uma personagem de acção, que usa também a inteligência, algumas vezes irada, que revela um desejo de morte que à falta de melhor explicação atribuímos à sua continuada convivência com as várias faces do mal. A diferença mais significativa é de que não haveria Luther sem filmes como O Silêncio dos Inocentes, Sete Pecados Mortais ou a trilogia Millennium, ao passo que Stringer Bell terá antecedentes em figuras da realidade de Baltimore com quem o criador de The Wire, David Simon, se terá cruzado. É o que distingue um entretenimento eficaz e robusto, que se resolve ao fim de 50 minutos, da complexidade da natureza humana que nos perseguirá o resto da vida. O mistério de Stringer Bell assombra Luther e, curiosamente, de uma forma que não lhe é desfavorável.
Uma cartinha por dia (2)
É isso o que eu mesmo faço: de muita coisa que li retenho uma certa máxima. A minha máxima de hoje encontrei-a em Epicuro (é um hábito percorrer os acampamentos alheios, não como desertor, mas sim como batedor!). Diz ele: "É um bem desejável conservar a alegria em plena pobreza." E com razão, pois se há alegria não pode haver pobreza: não é pobre que tem pouco, mas sim quem deseja mais.
Séneca
Séneca
7.10.2012
Uma cartinha por dia (1)
É um erro imaginar que a morte está à nossa frente: grande parte dela já pertence ao passado, toda a nossa vida pretérita é já do domínio da morte!
Lúcio Aneu Séneca (4 a.C/ 65 d.C)
Lúcio Aneu Séneca (4 a.C/ 65 d.C)
7.09.2012
7.06.2012
Os magníficos Andersons
É uma tentação usar este título (aludindo ao segundo filme de Orson Welles, de 1942), e poderei mesmo tê-lo feito anteriormente. O conceito de família, num sentido muito particular, e o cinema de Wes Anderson, continuam indissociáveis um do outro, com a única novidade de a família ser cada vez maior. É ter disponibilidade para seguir os créditos finais de Moonrise Kingdom e perceber a quantidade de gente envolvida na sua produção, que no entanto não abdica que querer parecer artesanal, mostrando as costuras dos cenários e as cores de livro infantil tornado aventura de crianças e adultos. O cinema é para Wes Anderson a possibilidade de resgatar uma noção de família, desde logo ameaçada pela disfuncionalidade das famílias dos seus filmes. Daí o espírito de aventura que leva à criação de novos laços. Daí a sua obsessão com uniformes: tudo o que veste as personagens e que pode reforçar a identificação entre elas. Daí a maior liberdade do seu universo de faz de conta, onde adultos se podem comportar infantilmente, e as crianças como adultos a fingir, para que tudo seja possível e concorra para o surgimento da nova ordem familiar.
É o antídoto para a melancolia e a depressão que também sentimos existir além do arco-íris. A metereologia aliás é outro factor importante, decisivo, em Moonrise Kingdom, para a convergência de todas as suas figuras num único espaço, uma igreja, ameaçado por uma tempestade (Moonrise Kingdom pode ser visto como Shakespeare BD; um Romeu e Julieta colorido de forma exuberante) de proporções únicas. Da catástrofe "a fingir", que ostenta o lado "fake" (e o termo "fake" remete-nos de novo para Welles) da sua manifestação e consequências, apesar de suficientemente realista (como tudo no filme), que se abate sobre a ilha de New Penzance na Nova Inglaterra, resulta a reintegração do par foragido, e a possibilidade de continuarem juntos na aceitação da sua condição de adolescentes/dependentes, mas sempre tocados pela excentricidade própria e de todo o universo do filme. O que Wes Anderson reuniu só ele poderá separar, para juntar de novo na próxima aventura, por certo diferente mas igualmente reconhecível do seu imaginário muito pessoal. O território para os órfãos com espírito alarga-se e é sempre o mesmo.
7.05.2012
Em nome do pudor
Uma vaca? De pijama? Isto é Cranford, proposta ficcional baseada na obra da escritora vitoriana Elizabeth Gaskell (1810-1865), com um elenco soberbo (na desproporcionalidade pouco comum entre o número de mulheres por cada homem) e rótulo BBC. Talvez demasiado inglesa para exportar ou para que de fora reparassem nela? A produção teve dois momentos: em 2007 e 2009. Tem valido cada minuto.
Stuart Pearson Wright. 1 retrato.
Muito bom mas o que eu queria mesmo mostrar era o de Michael Gambon no camarim de Falstaff, e contactei o artista Stuart Pearson Wright nesse sentido.
7.04.2012
Quem escreve assim não é surdo
[...] Eu precisava de algum acontecimento ruidoso para me manter acordado. Porém, antes que eu ligasse o amp, alguém começou a esmurrar a porta. Eu teria preferido um power chord, mas a pegada até que era boa. (Cultura rock'n'roll instantânea: power chord, se você não sabe, é o acorde de guitarra com duas notas apenas - a tônica e a quinta - amparadas por muito volume, saturação e distorção no amplificador. A técnica, criada pelo guitarrista americano Link Wray no final dos anos 50, foi imortalizada mais tarde por gênios como Pete Townshend, do The Who. Para efeitos práticos, confira o intro de «We won't get fooled again».)
Obrigado Tony Bellotto(!), por todos os dias que não passarão mais sem que eu tivesse encontrado este grande disco. E para ti faço votos de que ainda venhas a escrever um livro tão bom quanto a música do Who's Next.
Obrigado Tony Bellotto(!), por todos os dias que não passarão mais sem que eu tivesse encontrado este grande disco. E para ti faço votos de que ainda venhas a escrever um livro tão bom quanto a música do Who's Next.
7.03.2012
Quantidade e peso da leveza
Donde se conclui pela leitura de No Buraco (Quetzal) que Tony Bellotto é uma variação de Reinaldo Moraes, com menor fôlego literário e também menos vocabulário. Um sacaninha quando comparado com o outro, o grande sacana. (foto: Tuca Vieira)
Único porque quase
Continua sendo a "meio disco" no sentido em que deixa a impressão de canções que não largaram o papel. Estão lá e cá: no Brasil de Bruno Medina, Alberto Continentino e Domenico Lancellotti, e na pátria de Jacinto Lucas Pires, Tomás Cunha Ferreira, Hernâni Faustino ou Madalena Sassetti. Entre a ideia no ouvido e a forma terminada; o mundo aqui em baixo e o voo do trapézio. Pop a caminho de se tornar pop.
7.02.2012
Hotel Paparazzo
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