Adventureland (2009) é o tipo de filme que nunca nos cansamos de ver desde que crie a ilusão de que foi vivido por nós. A acção decorre a meio da década de 80, e tem por protagonista a estrela de The Social Network, Jesse Eisenberg. Até começa como esse sobrevalorizado filme de David Fincher, com Eisenberg a receber a tampa de uma colega (na festa do fim de liceu). Logo depois, James Brennan (Eisenberg) entra de férias e quando pensa que vai viajar pela Europa, antes da partida no ano sequinte para a universidade em Nova Iorque, recebe a notícia de que o pai (extraordinária composição de Jack Gilpin, quase sem diálogos) foi despromovido e que se quiser mudar-se de Pittsburgh para continuar os estudos terá de trabalhar no Verão. E assim James vê-se colocado num parque de diversões, Adventureland, onde conhecerá duas raparigas que poderão pôr fim à sua virgindade: a boazona Lisa P., que repara nele porque James é o único que não olha para ela a salivar, e Emily/ Em (interpretada por Kristen Stewart, mais bela aqui do que na saga Twilight) a jovem que curte música pop culta (Lou Reed, Bowie, Big Star, Replacements), que se veste de maneira a que não reparem nela, e que vive uma ligação clandestina com um tipo mais velho e casado que trata da manutenção do Adventureland. Se James é ainda virgem e Em há muito deixou de o ser, ambos correm o risco de se perderem para outras relações que não aquela que os completa. São duas figuras que teimam em não ver o mais óbvio; são os próprios antagonistas do seu projecto de felicidade.
Greg Mottola filmou Adventureland após o muito bem sucedido e excelente Superbad, e optou por um filme pessoal, mesmo autobiográfico. É isso que passa para o espectador, e todas as cenas têm a marca do que é sentido porque foi experienciado: da música às festas, da rotina do parque de diversões para os que lá trabalham temporariamente, contrastando com a maior ou menor excitação de quem o visita. Isto é o que se passa em volta, porque o que é decisivo no filme de Mottola são os sentimentos e a forma como as personagens lidam com eles. O grande poder do cinema constitui-se também pela capacidade de nos fazer recentrar a atenção sobre as situações ficcionais que nos são comuns, proporcionando uma perspectiva sobre elas que não tivemos quando as vivemos. Como se os filmes oferecessem a fantasia de uma oportunidade redentora para algo que faz parte do passado. Quando tal sucede nós seguimos com eles e os filmes ficam connosco. A memória é o nosso maior tesouro. Gregg Mottola nota-se que estima a sua, porque a trata com delicadeza, humor, e um saudável tom entre o melancólico e o docemente autodepreciativo. É como que uma perda da virgindade, outra vez. Ao som de Lou Reed. Satellite of Love.
Greg Mottola filmou Adventureland após o muito bem sucedido e excelente Superbad, e optou por um filme pessoal, mesmo autobiográfico. É isso que passa para o espectador, e todas as cenas têm a marca do que é sentido porque foi experienciado: da música às festas, da rotina do parque de diversões para os que lá trabalham temporariamente, contrastando com a maior ou menor excitação de quem o visita. Isto é o que se passa em volta, porque o que é decisivo no filme de Mottola são os sentimentos e a forma como as personagens lidam com eles. O grande poder do cinema constitui-se também pela capacidade de nos fazer recentrar a atenção sobre as situações ficcionais que nos são comuns, proporcionando uma perspectiva sobre elas que não tivemos quando as vivemos. Como se os filmes oferecessem a fantasia de uma oportunidade redentora para algo que faz parte do passado. Quando tal sucede nós seguimos com eles e os filmes ficam connosco. A memória é o nosso maior tesouro. Gregg Mottola nota-se que estima a sua, porque a trata com delicadeza, humor, e um saudável tom entre o melancólico e o docemente autodepreciativo. É como que uma perda da virgindade, outra vez. Ao som de Lou Reed. Satellite of Love.