2.25.2011

Por cada Blue Valentine que tomba há um To Live and Die in L.A. que se ergue















A capa do meu dvd de To Live and Die in L.A. tem inscrita uma frase que diz que este título corresponde à "finest hour" do senhor William Friedkin: realizador do primeiro Exorcista e do French Connection. Aposto nisto, com mais confiança porque o filme antecipa agora para mim a estilização que Michael Mann viria a tornar perfeita no Heat e no Miami Vice; Mann que curiosamente faria um ano depois, em 1986, o Manhunter protagonizado por William Petersen, que é das principais figuras de To Live and Die in L.A., o que não impede que o realizador lhe dê um fim cuja visceralidade lembra o Taxi Driver de Scorsese. (A ideia é cruzar no parágrafo as referências que importam: Friedkin, Mann, Paul Schrader e Martin Scorsese.)
To Live and To Die in L.A. não se ressente de ser produto de uma década onde tanto do que fez arte ou moda se tornou kitsch, porque é um objecto que faz gáudio em ser selvagem e gratuito. É um filme de gajo que chega a ser homoerótico. A nudez masculina é gratuita: até se vê a pilinha de Petersen em silhueta (contraluz) quando este aborda a informadora e amante com requintes de "vamos lá tratar disto" que tenho de despachar uns bad guys em seguida. As perseguições de carro, marca do realizador, arrastam-se no puro prazer cinético que junta aceleração e geometria. A direcção de fotografia de Robby Müller, para quem as portas da América se abriram com os melhores filmes de Wim Wenders, surgia como que tomada pelo espírito de Conrad L. Hall (aqueles laranjas quando o sol se põe em L.A., e os tons igualmente quentes dos interiores).
Nos anos 80 alguns mavericks que transitavam da década anterior faziam-se ainda ouvir: William Friedkin era um deles. E o mundo deles era o mundo dos homens.

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