7.05.2010

Duas mulheres
















João Mário Grilo olha para o Portugal contemporâneo e sente (o) medo. Tudo se vende. Tudo se compra. Nada é garantido. Mónica (Débora Monteiro), manequim e acompanhante de luxo, quase sofre um acidente provocado por um ataque de pânico. Irá ficar aos cuidados de Joana (Beatriz Batarda), médica psiquiatra, que se deixa seduzir por aquela mulher. Joana diz não ser moralista, ao contrário da gente hipócrita que faz parte do universo da grande finança onde trabalha o marido Paulo (Virgílio Castelo). Pelo contrário, o olhar do realizador João Mário Grilo é moralista. O destino do mundo corrompido é trágico: os mais fracos sucumbem aos mais fortes. A câmara contempla com distância analítica e a história da atracção entre as duas mulheres é filmada com cuidados de esteta. Não obstante, mérito lhe seja atribuído, Duas Mulheres consegue ser angustiante. Reconhecemos aquele mundo e o medo toca-nos. O contraponto é dado pelas breves aparições de António (João Perry), que vive do outro lado do rio, uma espécie de tutor espiritual de Joana, cujas observações são pautadas pelo cinismo e lucidez. Todos os outros se sentem perdidos. A esperança não existe, a começar em Joana que acabará encerrada na casa das bonecas. Ibsen actualizado. Portugal 2014.

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